O que aconteceu numa semana de invasão russa da Ucrânia
Passou uma semana desde que as forças russas invadiram a Ucrânia, naquilo a que o Presidente Vladimir Putin chamou de “operação militar especial” e que o Governo russo proíbe os media locais de chamar “guerra”. Uma lista dos principais acontecimentos desta primeira semana de conflito.
Às seis da manhã de 24 de Fevereiro (três da manhã em Portugal continental), num discurso pré-gravado, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin anuncia o início de uma “operação militar especial” no Leste da Ucrânia com a justificação da defesa dos ucranianos de origem russa de um “genocídio” e a “desnazificação” do Governo ucraniano. Passada uma semana, um resumo do que aconteceu.
Dia 1, 24 de Fevereiro
Dezenas de cidades ucranianas, incluído a capital, Kiev, são atingidas por mísseis nas primeiras horas da invasão russa da Ucrânia, logo após o discurso de Vladimir Putin.
A guarda fronteiriça ucraniana alerta pouco depois que os seus postos fronteiriços com a Rússia e a Bielorrússia estavam a ser atacados.
O Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, anuncia a lei marcial.
As forças russas assumem o controlo da cidade de Konotop, situada a cerca de 250 km a leste de Kiev, depois de uma dura batalha.
Tropas russas assumem o controlo da central nuclear de Tchernobil e da cidade abandonada de Pripyat.
O Presidente dos EUA anuncia o congelamento de todos os activos de vários bancos russos no país, incluindo os dois maiores da Rússia, o Sberbank e o VTB.
Zelensky afirma que 136 pessoas morreram e 316 foram feridas no primeiro dia.
Dia 2, 25 de Fevereiro
Os Estados-membros da União Europeia decidem por unanimidade incluir os nomes do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, do primeiro-ministro, Mikhail Mishustin, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, e do ministro do Interior, Vladimir Kolokoltsev, na lista dos indivíduos cujos activos financeiros em território da UE serão congelados.
O Presidente ucraniano ordena a mobilização das forças militares ucranianas por 90 dias e proíbe todos os homens de 18 a 60 anos de abandonarem o país.
Uma unidade do exército ucraniano faz explodir uma ponte em Ivankiv, perto de Kiev, para travar o avanço de uma coluna de tanques russos.
O exército russo chega a Kherson, cidade de 284 mil habitantes e importante porto no Mar Negro.
Exército ucraniano consegue repelir um ataque russo e Chernihiv, capturando equipamento e documentação russos.
O exército russo desbloqueia o Canal da Crimeia do Norte, restabelecendo o abastecimento de água à península da Crimeia, cortada em 2014, depois da anexação russa da Crimeia.
As forças russas entram em Melitopol e assumem o controlo da cidade no Sudeste da Ucrânia.
O Ministério da Defesa russo anuncia que as suas forças cercaram Chernihiv, cidade estratégica entre a fronteira da Bielorrússia e a capital, mas o Ministério da Defesa britânico garante que as forças russas falharam o seu objectivo de conquistar a cidade e resolveram escolher outra rota para chegar a Kiev.
Tropas e blindados russos chegam à zona norte do distrito de Kiev.
Governo ucraniano incentiva a população a fazer “cocktails molotov” para atrasar o avanço das tropas russas.
Autoridades ucranianas anunciam a destruição de dois aviões da Força Aérea Russa num bombardeamento à base militar russa de Millerovo.
Vladimir Putin dirige-se directamente aos ucranianos para lhes pedir que derrubem o Governo de Volodimir Zelensky, a quem acusa de estar composto por nazis e viciados em drogas.
Força de Resposta da NATO é activada pela primeira vez desde o início da invasão.
Dia 3, 26 de Fevereiro
Putin ordena às suas tropas que avancem “de todas as direcções” contra Kiev e as suas forças aumentam os ataques com mísseis contra alvos militares ucranianos.
Resistência ucraniana trava o avanço das tropas russas.
Civis, muitos deles sem qualquer experiência militar e sem terem pegado nunca numa arma, fazem fila para defender o país contra os russos.
Um prédio de apartamentos em Kiev é atingido por um míssil russo, mas sem causar mortes.
O Presidente ucraniano recusa uma oferta de ajuda norte-americana para o retirar da Ucrânia. A resposta de Volodimir Zelensky tornou-se na grande frase da guerra e fez crescer a aura de herói do chefe de Estado ucraniano: “A luta é aqui. Preciso de munições e não de boleia.”
Marinha francesa intercepta um navio de carga cheio de automóveis que se dirigia para o porto russo de São Petersburgo, no Mar Báltico.
Ramzan Kadirov, presidente da Tchetchénia, anuncia que combatentes tchetchenos foram enviados para a Ucrânia.
Dia 4, 27 de Fevereiro
Vladimir Putin ordena às suas chefias militares para colocar as forças nucleares da Federação Russa em alerta máximo. O Presidente russo justifica a medida como resposta àquilo que considera serem “declarações agressivas” que ouviu e leu de representantes da NATO, somadas às sanções “ilegais” e “hostis” prometidas pelo Ocidente.
O Presidente ucraniano pede a combatentes estrangeiros que ajudem o seu país a derrotar o invasor e que se dirijam às embaixadas da Ucrânia para se alistarem na legião estrangeira criada para o efeito.
Alemanha anuncia o envio de 1000 armas antitanque e 500 mísseis terra-ar Stinger para a Ucrânia, enquanto os EUA anunciam 350 milhões de dólares adicionais de ajuda militar aos ucranianos.
Portugal, França, Bélgica, República Checa e Grécia também anunciam apoio em armas ligeiras e combustível.
Itália anuncia uma ajuda imediata de 110 milhões de euros ao Governo da Ucrânia.
Autoridades ucranianas anunciam que conseguiram expulsar as tropas russas de Kharkiv, a segunda maior cidade do país, situada no Leste.
Forças russas atacam instalações de gás e petróleo, uma enorme explosão é ouvida no centro de Kiev.
Elon Musk coloca o seu serviço de satélites Starlink ao serviço da Ucrânia, de modo a garantir que o país continua a manter as ligações de banda larga, depois de a Rússia ter bloqueado a cobertura de Internet.
O Ocidente anuncia sanções à Rússia por causa da invasão da Ucrânia, incluindo o acesso de alguns bancos ao sistema de pagamentos SWIFT.
Grande parte dos países europeus fecha o seu espaço aéreo a aeronaves russas.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, anuncia uma “nova era” que justifica uma enorme mudança na política de defesa alemã: a ideia de que é preciso ter Forças Armadas capazes para assegurar a democracia e de que os gastos em defesa vão chegar aos 2% do PIB.
Rússia proíbe os media russos de descrever a operação na Ucrânia como “assalto, invasão ou declaração de guerra”, ou serão bloqueados.
A Federação Polaca de Futebol anuncia a sua recusa em jogar o playoff de apuramento contra a selecção russa, desencadeando uma série de acções que isolam a Rússia em diferentes modalidades desportivas, incluindo a expulsão do apuramento para o Mundial de futebol.
Dia 5, 28 de Fevereiro
Conversações entre as delegações russa e ucraniana, na fronteira com a Bielorrússia, terminam sem resultados.
Governo ucraniano reconhece que as tropas russas assumiram o controlo da cidade de Berdyansk, no Sul do país.
A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, bem como o embaixador da Ucrânia na ONU, denunciam o uso de armas proibidas pelas forças russas, nomeadamente bombas termobáricas (de vácuo) e bombas de fragmentação.
A Amnistia acusa também as forças russas de bombardearem um jardim-de-infância no Nordeste da Ucrânia que civis estavam a usar para se abrigar.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirma que vários membros da Aliança estavam a fornecer mísseis terra-ar e antitanque à Ucrânia.
O Banco Central da Rússia anuncia medidas para ajudar os mercados internos do impacto das sanções internacionais.
Dia 6, 1 de Março
Forças russas atingem com um míssil a sede do governo local na Praça da Liberdade, no centro de Kharkiv, matando pelo menos dez pessoas. O governador não estava no edifício na altura.
Imagens de satélite mostram uma coluna militar russa de 64 km a caminho da capital.
As forças russas disparam contra uma torre de comunicações em Kiev, atingindo também um memorial em homenagem às vítimas do Holocausto.
Volodimir Zelensky, falando por vídeo, é aplaudido de pé no Parlamento Europeu. O Presidente ucraniano pede à União Europeia que prove que está ao lado dos ucranianos.
EUA e NATO recusam a zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia pedida por Zelensky.
Segundo uma agência da ONU, 136 civis, incluindo 13 crianças morreram desde o início da invasão russa.
A Rússia reconhece pela primeira vez a existência de baixas entre os soldados russos, sem adiantar números. Os ucranianos dizem que mataram quase seis mil soldados russos.
Turquia impede a circulação de navios de guerra pelos estreitos do Bósforo e Dardanelos, cumprindo o Tratado de Montreux de 1936.
O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, promete abrir investigações “independentes e objectivas” tão rapidamente quanto possível sobre os alegados crimes cometidos pela Rússia na Ucrânia.
Dia 7, 2 de Março
Mais de 874 mil ucranianos fugiram para países vizinhos, na sua grande maioria mulheres e crianças, desde o início da invasão russa, afirma o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
A Rússia anuncia que assumiu o controlo da cidade de Kherson, nas margens do rio Dniepre, no Sul do país. O presidente da câmara da cidade disse estar “à espera de um milagre” para poder recolher corpos e restaurar os serviços básicos.
O principal opositor de Vladimir Putin, Alexei Navalny, apela desde a prisão aos russos para que protestem diariamente nas ruas contra a invasão da Ucrânia e para que não se deixem ver como uma “nação de cobardes amedrontados”.
No seu primeiro discurso do Estado da União, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chama “ditador” a Vladimir Putin e anuncia a proibição de acesso ao espaço aéreo norte-americano dos aviões russos.
O Ministério da Defesa russo pede aos habitantes de Kiev que fujam da capital do país e anuncia que as forças russas iriam bombardear serviços de segurança e de comunicações na capital ucraniana.
O Tribunal Internacional de Justiça da ONU informa que vai analisar em audiências públicas a 7 e 8 de Março a acusação ucraniana de que a Rússia estaria a cometer “genocídio” na Ucrânia.
Preço do petróleo Brent chega aos 110 dólares por barril
Assembleia Geral da ONU aprova resolução exigindo à Rússia que ponha fim à guerra e retire as suas tropas: 141 países votaram favoravelmente, 35 abstiveram-se e cinco votaram contra. Foi a primeira vez em 40 anos que o Conselho de Segurança encaminhou uma crise para a assembleia e foi apenas a 11ª sessão de emergência da assembleia desde 1950.
Pela primeira vez o governo russo adianta um número para as suas baixas na Ucrânia: quase 500 soldados mortos.