Eduardo Souto de Moura sobre o Estádio Municipal de Braga: “Convenci-me de que o estádio é um teatro”

O podcast No País dos Arquitectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

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Estádio Municipal de Braga Christian Richters
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Estádio Municipal de Braga Luís Ferreira Alves
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O podcast No País dos Arquitectos está de regresso com uma terceira temporada. No 29.º episódio, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Eduardo Souto de Moura sobre o Estádio Municipal de Braga e a importância das viagens no acto de projectar.

Aproveitando uma antiga pedreira desactivada, o Estádio Municipal (projecto de 2000, obra em 2002-2003) foi desenhado para o campeonato europeu de futebol que se realizou em Portugal em 2004.

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Souto de Moura explica como o projecto do Estádio Municipal de Braga ficou no seu currículo por mera casualidade. Começa por contar que, numa fase inicial, os vereadores da autarquia pensaram encomendar o projecto ao arquitecto Norman Foster. Como consideravam os honorários elevados, descartaram essa hipótese, prosseguindo para uma segunda escolha: o arquitecto e engenheiro Santiago Calatrava. A fim de o contactarem, o executivo municipal telefonou a Eduardo Souto de Moura para saber se este poderia facultar o número de telefone.

Sem rodeios e directo ao assunto, Souto de Moura advertiu que Santiago Calatrava não seria assim tão pouco dispendioso como eles julgavam. A conversa prosseguiu o seu rumo até que do outro lado da linha, o arquitecto português ouviu a questão: “Olhe, diga-me uma coisa: você não quer construir o estádio?” Ao que ele respondeu prontamente: “É evidente que sim!” Foi esse mesmo “sim” que deu origem ao projecto arrojado com duas bancadas, uma de cada lado do campo de jogo, com uma cobertura suspensa por cabos.

Apesar de a proposta inicial prever a construção de um estádio convencional, com as típicas quatro bancadas, a verdade é que, depois de analisar atentamente o local, o arquitecto percebeu que seria muito mais interessante deslocar o estádio para a parte alta da montanha, para que este ficasse próximo da pedreira abandonada. Para tentar tirar partido dos desníveis existentes no terreno, o arquitecto estudou a concepção do teatro antigo de Epidauro, na Grécia, e construiu as duas bancadas: uma ficou escavada na rocha; a outra, isolada, surge do chão e encontra-se suspensa.

Como esta última não tem suporte, Eduardo Souto de Moura idealizou a cobertura do estádio com uma pala contínua semelhante à realizada por Siza Vieira no Pavilhão de Portugal para a amostra da Expo 98. A cobertura foi rigorosamente testada para prever as acções ventosas, a sombra dos cabos na transmissão televisiva e a qualidade da iluminação solar.

Com estas duas bancadas, o espectador ficou com uma visão mais ampla dessa arte de jogar futebol, pela qual Portugal é notoriamente reconhecido. Em dado momento da entrevista, o arquitecto associa este espectáculo do futebol ao teatro: “Convenci-me de que o estádio é um teatro, onde existem 22 actores a jogar de um lado para o outro”, afirma.

A influência de Machu Picchu

Como as viagens exercem uma forte influência nos seus projectos, o arquitecto fala ainda de uma fonte natural que teve oportunidade de observar numa viagem que realizou a Machu Picchu, no Peru, com o arquitecto Fernando Távora. Essa travessia foi decisiva para o projecto. Tendo em conta a fusão entre os vários elementos, o arquitecto decidiu unir a pedra ao betão para que ambos funcionassem como um só. No fundo, foi preciso tirar a pedra e colocá-la sob uma nova forma. Ou seja, entender onde começava o artefacto e terminava a natureza: “Temos uma espécie de coligação e de empatia entre o natural e o artificial. (…) E essa energia que existe entre o que é trabalhado e o que é natural provoca um estado diferente”, realça o arquitecto.

Actualmente, Eduardo Souto de Moura diz ser muito criticado por “não ter feito um estádio moderno”, mas independentemente das controvérsias a verdade é que o estádio-edifício marca ainda hoje a paisagem do futebol mundial e criou um modo diferente de entender o desporto e o seu espectáculo: “Quando eu vou ver o que está a ser feito e o que se diz… É um frio na espinha terrível e as pessoas não sabem disso... As pessoas depois criticam em frente à obra e dizem: ‘Se fosse a ti tinha cortado ali e acolá...’ mas é que eu comecei com uma folha A4. Eu não fazia a mínima ideia de como é que ia ficar… porque há uma ideia de que os artistas não são humanos… mas são seres humanos iguais aos outros e corremos os mesmos riscos de falhar”.

Apesar de o seu ofício iniciar, muitas vezes, nessa mesma folha A4, Eduardo Souto de Moura adverte-nos que a arquitectura assume um papel mediador entre as várias disciplinas. Neste projecto em concreto, houve uma multiplicidade de saberes – como a arquitectura, a engenharia e a construção – que deu uma nova vida à paisagem. “O Estádio de Braga foi um momento de unidade e essa é a chave da qualidade do edifício”. Já próximos do final da entrevista, Eduardo Souto de Moura confidencia: “Penso que foi a obra que mais gostei de fazer”. Também foi aquela que o fez “superar muitos desafios”.

Quando olhamos para o Estádio Municipal de Braga e percebemos as referências do arquitecto à cultura clássica – com várias imagens de anfiteatros e da Acrópole de Atenas – vemos todos estes temas compreendidos e reinventados. Aberto à paisagem, este projecto faz-nos viajar por múltiplas civilizações e lembra-nos como a arquitectura é também um exercício de cidadania.


No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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