Tropas russas preparam novo assalto a Kiev
Imagens de satélite mostram coluna de tanques, veículos blindados e outro equipamento militar russo com 64 quilómetros de comprimento a Norte da capital ucraniana. Combates intensificam-se em Kharkiv, Kherson e Mariupol.
Falhado o primeiro assalto a Kiev nos primeiros cinco dias de guerra, o Exército russo está a acumular soldados, tanques, veículos blindados, artilharia e outro material militar na região norte da capital da Ucrânia, a partir da qual se prepara para lançar nova investida.
Imagens de satélite partilhadas pela empresa norte-americana Maxar Technologies mostram uma coluna de tropas e de equipamento de combate russo com 64 quilómetros de comprimento, e a cerca de 25 quilómetros do centro da cidade.
As fotografias da Maxar dão ainda conta de um ajuntamento de forças terrestres e de unidades de helicópteros militares no sul da Bielorrússia, país aliado de Moscovo, que tem servido de base logística para o Exército russo lançar a ofensiva sobre a Ucrânia.
“Para o inimigo, Kiev é o alvo chave”, insistiu Volomidir Zelensky, Presidente ucraniano, numa das suas habituais mensagens de vídeo, divulgada na segunda-feira à noite.
“Não permitimos que rompessem a defesa da capital e eles enviam-nos sabotadores. Vamos neutralizá-los a todos”, afiançou, citado pela Reuters, denunciando ainda uma “operação especial” russa contra uma central térmica da região, com o objectivo de deixar Kiev sem electricidade.
Avanços russos
Durante a noite de segunda-feira e as primeiras horas desta terça-feira houve bombardeamentos intensos e avanços russos importantes noutros pontos da Ucrânia. Oleksii Rezenikov, ministro da Defesa da Ucrânia, voltou a acusar a Rússia de estar a atacar alvos civis.
“Os ataques bárbaros com rockets e MLRS [sistemas de lança-rockets múltiplos] contra cidades pacíficas são a prova de que eles [os russos] já não estão a conseguir lutar contra ucranianos armados”, escreveu no Facebook.
Em Kherson, no sul do país, está em curso uma ofensiva terrestre, que estará próxima de penetrar as defesas da cidade.
“À entrada de Kherson, o Exército russo montou postos de controlo. É difícil dizer como a situação irá evoluir”, escreveu Igor KolikhaIev, autarca local, no Facebook. “Estou no meu gabinete a coordenar os serviços municipais para que despertem numa cidade relativamente pacífica”.
A AFP noticia ainda que Mariupol, também no sul, ficou sem electricidade, num momento em que forças russas e separatistas atacam a cidade.
“A missão para hoje é para cercar Mariupol imediatamente”, afirmou Denis Pushilin, líder separatista da província ucraniana de Donetsk, citado pela agência russa RIA.
Vadim Boichenko, presidente da câmara da cidade, diz que Mariupol está debaixo de “constantes bombardeamentos” e de ataques de “forças áreas” há “cinco dias consecutivos”.
Quanto a Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, a leste, esteve debaixo de fogo durante toda a noite. Um míssil russo atingiu as imediações de edifício do governo regional, numa zona residencial.
“Bárbaros ataques russos com mísseis no centro da Praça da Liberdade e nos distritos residenciais de Kharkiv”, denunciou Dmitro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia. “Putin (…) cometeu mais crimes de guerra por fúria e à custa do assassínio de civis inocentes”, acusou o ministro, através do Twitter.
O Governo ucraniano diz que o ataque matou pelo menos 10 pessoas e feriu outras 35.
Dmitro Zhivitskii, governador regional, acusou ainda o Exército russo de ter matado cerca de 70 soldados ucranianos, na sequência de um ataque a uma base militar perto de Okhtirka.
Números e linhas vermelhas
O Ministério da Defesa da Ucrânia actualizou nesta terça-feira a sua contagem de baixas do lado russo: 5710 soldados mortos e 29 aviões derrubados, 198 tanques e 846 veículos blindados destruídos.
Para além de rejeitados por Moscovo, estes números são, no entanto, impossíveis de confirmar no terreno. A sua actualização diária tem servido, no entanto, como arma de propaganda e de ânimo para as diferentes unidades do Exército ucraniano espalhadas pelo país.
Existe, porém, um número, mais ou menos aproximado da realidade, que dá conta da gravidade da situação no terreno: segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, a invasão da Ucrânia causou uma vaga de mais de 660 mil refugiados, que continuam a entrar na Polónia, na Roménia, na Hungria, na Moldova e na Eslováquia todos os dias.
O redobrar dos esforços militares russos na Ucrânia é um aparente sinal de que as negociações que tiveram lugar na segunda-feira, na Bielorrússia, entre representantes ucranianos e russos, estiveram (e estão) longe de chegar a um acordo de cessar-fogo. Tanto é que ainda não há data oficial para nova ronda de contactos.
Em conversa telefónica com o Presidente francês, Emmanuel Macron, na segunda-feira, Vladimir Putin, chefe de Estado russo, voltou a insistir nas suas linhas vermelhas: quer uma Ucrânia “neutral”, “desmilitarizada” e “desnazificada”.
Apesar do impacto negativo das sanções impostas ou prometidas pelo Ocidente na economia russa e no valor do rublo – chegou a desvalorizar 30% face ao dólar – e da mobilização da União Europeia e da NATO para isolar Moscovo, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, garantiu, nesta terça-feira, que a Federação Russa não pretende recuar nas suas posições – as mesmas que justificaram a invasão da Ucrânia, iniciada há seis dias.
“Como é que se pode negociar com alguém cujos tanques estão a avançar para Kiev?” questionou Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, que está de visita a Varsóvia, capital da Polónia.