As sanções que revelam medo

Ao contrário dos britânicos, os europeus e os americanos querem responder a uma gravíssima ameaça militar sem tirar as pantufas.

Depois do anúncio de um primeiro pacote de sanções à Rússia com pouco valor para lá do seu simbolismo, esperava-se que a segunda vaga da retaliação contra a invasão da Ucrânia fosse mais contundente. Foi, mas pouco. Muito pouco. Tão pouco que o Presidente ucraniano acusou os líderes europeus de terem as mãos manchadas com sangue e protestou contra o mundo que o deixa e ao seu povo sem qualquer protecção perante um ataque desproporcionado da segunda maior potência militar do planeta.

Pergunta-se então por que razão a União Europeia e os Estados Unidos não cumpriram a sua palavra e não avançaram com sanções pesadas após o ataque à Ucrânia. Os líderes europeus explicam que a sanção extrema, a exclusão da Rússia do sistema de pagamentos SWIFT, poderá acontecer se o conflito se agudizar. Como perceber esta tese? Uma violação da soberania de um Estado europeu feita pela força das armas não é um caso suficientemente agudo?

Quem deu uma resposta à altura da gravidade da situação foi o Reino Unido, que congelou actividades bancárias, bens de oligarcas e apelou à exclusão da Rússia do sistema SWIFT. Talvez pela tradição histórica, os britânicos foram exemplares e não têm medo de existir e de responder com contundência a ameaças – não é Chamberlain que representa a essência da sua política externa, mas Churchill, embora neste episódio Boris Johnson esteja a sacudir a pressão política sobre a sua cabeça.

No caso da UE e dos EUA, a timidez em responder com máxima dureza à Rússia só se explica pelo calculismo e pela falta de coragem das lideranças políticas, sempre receosas em tomar medidas difíceis. Expulsar a Rússia do sistema de pagamentos SWIFT iria penalizar as empresas alemãs que exportam para Moscovo ou os abastecimentos de gás a Itália. A Rússia poderia contornar as dificuldades de pagamentos juntando-se à China.

Esta decisão teria por isso consequências negativas na Europa e na América: mas, a acreditar na própria análise e interpretação dos europeus e norte-americanos, a exclusão do sistema SWIFT teria um efeito devastador sobre a economia da Rússia. Ao contrário dos britânicos, ambos querem responder a uma gravíssima ameaça militar sem tirar as pantufas. Como se num conflito pudesse haver apenas lucros e nunca perdas.

Estando afastada uma resposta militar da NATO, o Ocidente tem de assumir as suas promessas de antes da invasão para manter a sua credibilidade. Os russos que corajosamente protestam contra a brutalidade de Putin ou os ucranianos que sofrem as agruras da sua barbárie precisam de sentir que o Ocidente os apoia. Com sanções gota a gota prescritas pelo calculismo e pelo medo, Putin ganhará.

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