Preços dos combustíveis e produtos alimentares corrigem, electricidade continua a subir
O petróleo volta a afastar-se da fasquia dos 100 dólares por barril e os preços do gás natural também estão a cair, assim como os dos cereais. A excepção é a electricidade, que volta a encarecer.
Depois do choque inicial, a correcção. No segundo dia da invasão da Rússia à Ucrânia, os preços das matérias-primas mais afectadas por este conflito voltam a cair e corrigem parte das subidas expressivas registadas na última sessão. O petróleo afasta-se da fasquia dos 100 dólares por barril, a cotação do gás natural cai perto de 20% e os cereais também voltam a desvalorizar. A excepção é a electricidade, cujos preços continuam a tocar em novos máximos históricos esta sexta-feira.
O alívio nos mercados é sentido depois de, na quinta-feira, os investidores terem reagido aos ataques da Rússia com uma fuga generalizada dos activos de maior risco, como acções e matérias-primas mais expostas ao conflito, e aposta nos chamados activos de refúgio, como o ouro, que ultrapassou a fasquia dos 1900 dólares por onça. No caso das matérias-primas, o impacto sentiu-se, sobretudo, nas energéticas e nos produtos alimentares, que têm na Rússia e na Ucrânia dois dos seus maiores exportadores mundiais.
Por esta altura, contudo, o cenário é de normalização. O barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência para o mercado europeu, chegou a tocar nos 105 dólares na última sessão, mas está agora a recuar em torno de 2% e negoceia na casa dos 97 dólares. Ainda assim, regista uma valorização acumulada de quase 4% desde o início desta semana. Já o West Texas Intermediate, petróleo negociado em Nova Iorque, está a cotar na casa dos 91 dólares, depois de também ter ultrapassado a fasquia dos 100 dólares na última sessão.
Seja como for, têm alertado os analistas, o cenário nas próximas semanas será de volatilidade e os preços do petróleo poderão voltar a fixar-se acima dos 100 dólares por barril, tendo em conta o peso da Rússia na produção desta matéria-prima. Os russos fornecem em torno de 10% do petróleo a nível mundial e o conflito, bem como as sanções de que agora a Rússia será alvo, poderão levar a uma interrupção na produção de petróleo, o que agravará o preço.
O cenário é idêntico no caso do gás natural, segundo combustível mais utilizado na União Europeia e cujo maior exportador é a Rússia, responsável por cerca de 35% da sua produção. Os contratos futuros de gás natural para entrega em Março, que na quinta-feira chegaram a disparar 45%, seguem agora a desvalorizar mais de 30% para 91,5 euros por megawatt/hora. O valor deste combustível mantém-se, ainda assim, em níveis elevados; como termo de comparação, recorde-se que, há um ano, os seus preços rondavam os 19 euros por megawatt/hora.
O mesmo se verifica nos produtos alimentares. A cotação do trigo para entrega em Março, que na última sessão atingiu o valor mais elevado em dez anos, está agora a desvalorizar mais de 7% e totaliza 292,5 euros por tonelada métrica, segundo os dados disponibilizados pela Euronext, que gere a negociação desta matéria-prima. Já o milho para entrega em Março continua a valorizar, atingindo agora os 289 euros por tonelada métrica, mas a um ritmo menos acentuado do que o registado na última sessão.
No mercado norte-americano, a correcção é mais evidente. Tanto o trigo como o milho negociados em Chicago estão a quedas acentuadas, na ordem dos 4% e 8%, respectivamente, depois de, na quinta-feira, terem fixado máximos de uma década.
Também no caso dos cereais, contudo, há receios de que o cenário possa volta a agravar-se, tendo em conta a possibilidade de perturbações nas exportações destes produtos. Isto considerando que, juntas, a Rússia e a Ucrânia são responsáveis por 29% das exportações mundiais de trigo e por 19% da oferta de milho.
Electricidade volta a encarecer
A contrariar a tendência de correcção dos preços está a electricidade, que acumula mais uma sessão em alta e volta a bater recordes no mercado ibérico.
Esta sexta-feira, os contratos futuros da electricidade no mercado ibérico para o ano 2023 sobem 14% e estão em 161,25 euros por megawatt/hora, segundo os dados do Omip, operador de futuros do Mibel (mercado ibérico de electricidade). Já o preço grossista da electricidade relativo à produção para este sábado aumentou quase 9% e atingiu 261 euros por megawatt/hora.
Importa notar que a aceleração dos preços da electricidade já se faz sentir há vários meses, motivada, sobretudo, pela evolução dos preços do gás natural. O cenário é agravado pelos receios em torno do impacto que a guerra na Ucrânia poderá ter sobre o mercado energético, em particular sobre o gás natural.
Notícia actualizada às 17h10 com as últimas cotações das matérias-primas.