ONU estima que 100 mil pessoas terão abandonado as suas casas num só dia
Portugal quer garantir condições de acolhimento “à medida que se verifiquem chegadas de cidadãos provenientes” da Ucrânia, disse o gabinete da ministra Vieira da Silva. Uma estratégia comum europeia seria desejável, refere a Plataforma de Apoio aos Refugiados.
Cerca de 100 mil ucranianos deixaram as suas casas só nesta quinta-feira depois da invasão russa, de acordo com uma estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo a Reuters, que cita a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Shabia Mantoo, milhares de ucranianos atravessaram as fronteiras terrestres uma vez que o espaço aéreo foi encerrado para civis.
A Polónia, a Roménia e a Moldávia que terá recebido cerca de duas mil pessoas, segundo a ministra do Interior, são os destinos mais imediatos destas populações em fuga.
Neste contexto, a comissária europeia dos Assuntos Internos, Ylva Johansson, indicou que Bruxelas está pronto para, se necessário, apoiar os Estados-membros da União Europeia (UE) no acolhimento de refugiados ucranianos. Johansson agradeceu a cinco países (Polónia, República Checa, Roménia, Eslováquia e Hungria) a “vontade de proporcionar protecção imediata”.
Portugal está entre os países que se prontificaram a acolher cidadãos da Ucrânia. Na frente do apoio aos civis e população refugiada, o gabinete de Mariana Vieira da Silva disse que o objectivo era “o de garantir que as condições de acolhimento em Portugal estão preparadas à medida que se verifiquem chegadas de cidadãos provenientes desta zona”.
Em respostas ao PÚBLICO, o gabinete da Presidência do Conselho de Ministros informou estar “em curso a elaboração de um mapeamento das disponibilidades de acolhimento existentes e ofertas de emprego” em Portugal, através das entidades de acolhimento. Essa disponibilidade “está em permanente actualização”.
Entre as principais entidades de acolhimento estão o Serviço Jesuíta aos Refugiados e a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR – que reúne várias instituições). Num comunicado conjunto, apelaram à “definição de uma estratégia comum [europeia] de acolhimento, de forma a responder adequadamente à situação de emergência humanitária na Ucrânia”.
As duas organizações esperam da União Europeia (UE) que garanta “uma intervenção rápida no sentido de apoiar os Estados-membros”.
Uma estratégia comum foi encontrada em 2015 quando a guerra na Síria e a situação noutros países em guerra criou uma pressão com a chegada de refugiados à Grécia e à Itália, depois da passagem pela Turquia. Polónia, Eslováquia, Hungria e Roménia fazem fronteira com a Ucrânia e são membros da UE.
A presidente da Comissão Europeia garantiu que a UE está preparada para acolher os ucranianos que fogem do país: “Esperamos que haja o mínimo possível de refugiados, mas estamos totalmente preparados para eles e para garantir que eles estão bem”, disse Ursula von der Leyen.
“Temos trabalhado durante semanas para estarmos preparados para o pior. Chegámos a essa fase de nos prepararmos para potenciais refugiados”, acrescentou.
Apoio no terreno
O começo dos ataques militares em território ucraniano levou organizações não governamentais portuguesas como a Médicos do Mundo (MdM) a iniciar “a realocação da sua equipa internacional e a protecção dos seus colaboradores na Ucrânia”.
Esta organização humanitária, a operar na Ucrânia desde 2015, tem actualmente 100 profissionais no terreno e prevê que as populações das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e de Lugansk enfrentem agora “grandes dificuldades no acesso a cuidados de saúde e a apoio psicológico”.
Nesta região, cerca de um terço da população tem mais de 60 anos, refere a organização em comunicado. São pessoas que “necessitam de monitorização constante e acesso a medicamentos para doenças crónicas”.
A MdM disponibiliza assistência humanitária e serviços de saúde às populações vulneráveis que vivem ao longo da linha de contacto entre Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia, mas esse trabalho estará de imediato, pelo menos em parte, comprometido: “Agora que as nossas unidades móveis não conseguem operar, a situação tornou-se mais difícil para estas pessoas”, refere o comunicado, indicando que mesmo antes da escalada militar desta quinta-feira, “mais de 850 mil pessoas” já se encontravam “deslocadas no território da Ucrânia”. com Ana Maia