Como posso controlar a ansiedade que o início de uma guerra me faz sentir?
Antes de mais, a validação: sentir ansiedade “não faz de nós mais fracos e é absolutamente normal”. Mas é possível controlá-la: procurar formas concretas de ajudar, moderar a exposição à informação ou não ter medo de partilhar como nos sentimos são acções que podem ajudar a gerir e a controlar o sentimento de impotência.
O mundo acordou com a notícia de uma guerra a começar. Multiplicaram-se as notícias, as imagens, os vídeos e os testemunhos que mostram um cenário que nos deixa, no mínimo, perplexos. A invasão da Rússia à Ucrânia pode ser motivo de uma ansiedade difícil de gerir. Tiago Pereira, psicólogo e membro da direcção da Ordem dos Psicólogos Portugueses, deixa algumas dicas para controlá-la.
Estou a sentir ansiedade. É normal?
Sim. “Pode ser natural e expectável que as pessoas sintam alguma ansiedade face ao que está a acontecer esta quinta-feira. E isso pode ser reforçado por estarmos ainda a viver um momento de pandemia que alterou muito as nossas rotinas e trouxe um conjunto de incertezas e imprevisibilidades às nossas vidas”, tranquiliza o psicólogo Tiago Pereira. Estas incertezas têm “impacto nas nossas dimensões psicológicas e emocionais” e afectam questões relacionadas “com o stress, a ansiedade e até a depressão”.
Ora, o início de uma guerra pode reforçar estes sentimentos de incerteza e imprevisibilidade não só “no futuro do curto prazo — o que irá acontecer —, mas também a um futuro expectável no médio prazo”: “Não só o sofrimento associado à situação, mas perdas económicas e dificuldades associadas àquilo que é uma rotina de vida.”
O que faço em relação ao sentimento de impotência?
Pode ser útil procurar uma “vivência com algum significado e propósito, que nos traga alguma esperança” e ajude a lidar com “esses temores e ansiedade”. Como? “Há pessoas que têm uma dimensão mais activista e se manifestam, outras procuram contactar com pessoas que estão a vivenciar estas situações com maior sofrimento e tentando ajudá-las”.
Os movimentos de solidariedade começam a multiplicar-se: do voluntariado à ajuda monetária direccionada a crianças, recursos médicos e até ao jornalismo independente, este site compila algumas angariações de fundos que já decorrem para ajudar diferentes organizações.
Como controlo a ansiedade?
É importante “irmos monitorizando como nos sentimos em relação à situação” e “partilhar estes sentimentos com outras pessoas — as que nos são próximas, em quem confiamos e que podem, de certa forma, validar o que estamos a sentir”.
Pode ser útil “centrarmo-nos naquilo que podemos controlar em relação à situação, para que a ansiedade não seja difusa”, não só através dos movimentos pró-sociais, mas também individualmente: “Como é que estou exposto a informação? Como é que comunico isto com os meus filhos? Como é que ajudo uma pessoa a ter acesso a determinada coisa?”
É também relevante entender que a ansiedade pode ter uma dimensão positiva: é ela que nos motiva a “adoptarmos comportamentos de protecção, mais pró-sociais”, que, no fundo, nos faz estar alerta. Não há que ter vergonha de admitir que a estamos a sentir: “Não faz de nós mais fracos e é absolutamente normal” num momento como o que estamos a viver.
Não consigo parar de ler sobre o tema. Há problema?
É bom estarmos informados, mas a sobreexposição pode fazer algumas pessoas sentirem-se assoberbadas. Por isso, pode ser essencial saber desligar, ou “moderar a nossa exposição face à informação constante e rápida” que vai surgindo sobre o conflito. Uma ideia pode ser reservar “determinados períodos do dia” para procurar a informação.
E, como em relação a qualquer outro tema, é crucial escolher as fontes de informação: verdadeira, imparcial, clara e não sensacionalista.
A que me posso agarrar?
“É importante termos presente que, apesar de ser um acontecimento que não esperávamos e que é muito complexo, é um acontecimento temporário. As guerras também terminam”, relembra Tiago Pereira.
A esperança vai sempre existir: “Há um conjunto de pessoas que se vai mobilizar para tentar encontrar formas não violentas de gerir estes conflitos, de diplomacia; também se assistirá a um movimento muito humanitário que nos vai ajudar a lidar melhor com esta situação.”