Depois deste ataque, “o poder na Rússia vai ficar mais centrado” em Putin

Kadri Liik, especialista em Rússia do ECFR, diz que este é um ponto de viragem no país. Externamente, a Rússia passará a depender da China “talvez mais do que gostaria”, numa relação que será “tensa”.

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Vladimir Putin reunido com o seu Conselho de Segurança: o ataque marcou um ponto de viragem também no regime russo Reuters/SPUTNIK

A especialista em Rússia do European Council on Foreign Relations Kadri Liik disse por telefone, ao PÚBLICO, como a invasão russa da Ucrânia vai mudar as relações de poder da Rússia no palco internacional e a nível interno.

Qual é a intenção de Putin com esta invasão? Até onde irá?
Putin quer retirar à Ucrânia o controlo. A intenção é não deixar ao país qualquer possibilidade de tomar decisões independentemente da Rússia. Irá destruir isso e vamos ver para onde vai a seguir. As consequências a longo prazo vão ser significativas. A Rússia transformou drasticamente as relações com o Ocidente.

A longo prazo, isto quer dizer que a Rússia vai ficar mais dependente, em termos políticos e militares, da China. Não se isto é o que Moscovo quer e gosta, mas temo que é impossível escapar a isso. Vai ser uma relação tensa, centrada na dissuasão, vai afectar inevitavelmente a situação económica russa.

A China foi um pouco ambivalente nas suas declarações, mas vê aqui um potencial apoio maior do que o que foi dito?
Penso que sim. As declarações podem não ser muito sonoras, mas o que é dito aponta para um apoio. Não estão a tentar distanciar-se como tentaram em 2014 [na invasão da Crimeia].

Ainda que possa ser perigoso discordar de Putin, como vê a opinião interna em relação a este ataque?
Está a haver manifestações contra a guerra, estou a receber imagens de algumas cidades, por exemplo na Sibéria, onde a população foi para a rua. Não em grandes números, mas está a acontecer em vários locais. E mais importante ainda, a elite está a expressar desconforto. Penso que a relação de Putin com a elite política do país também mudou. O conselho de segurança de segunda-feira mostrou como muitos dos seus membros estavam com medo dele. Penso que haverá um modelo de relação de poder diferente daqui para a frente, mais centrado numa só pessoa.

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Kadri liik, especialista em Rússia do European Council on Foreign Relations DR

Não penso que vá aumentar a estabilidade interna na Rússia.

É um ponto de viragem para todos?
Penso que sim, de muitas maneiras, provavelmente mais do que consigo prever neste momento.

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