Invasão da Ucrânia agrava aumento do preço dos cereais
A Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores exportadores mundiais de trigo e milho, dois cereais cujos preços já estão a disparar nos mercados internacionais.
Depois de um ano de subidas acentuadas dos preços motivadas pelas disrupções nas cadeias de distribuição e pela volatilidade nas bolsas accionistas, os mercados agrícolas enfrentam nova pressão. A invasão da Ucrânia pela Rússia, dois dos maiores exportadores mundiais de cereais, já está a ter reflexo no mercado das matérias-primas agrícolas, com os preços do trigo e do milho a dispararem.
O impacto fez-se sentir, de imediato, em vários pontos do mundo. Esta quinta-feira, a cotação do trigo para entrega em Março valoriza perto de 4% e totaliza 319,5 euros por tonelada métrica, segundo os dados disponibilizados pela Euronext, que gere a negociação desta matéria-prima. Nesta sessão, já chegou a tocar nos 344 euros por tonelada métrica, o valor mais elevado em, pelo menos, dez anos. Já o milho para entrega em Março valoriza também em torno dos 4% e fixa-se em 293 euros por tonelada métrica, tendo já atingido os 304 euros nesta sessão.
No mercado norte-americano, o cenário é idêntico. Tanto o trigo como o milho negociados em Chicago estão a subir à volta de 5%, fixando máximos de uma década.
A justificar estas subidas estão os receios em torno das possíveis perturbações nas exportações destes produtos – um cenário que, aliás, já começa a verificar-se. Esta quinta-feira, depois de as forças militares russas terem invadido a Ucrânia, as autoridades ucranianas suspenderam as operações dos portos do país. Isto já depois de a Rússia ter determinado a suspensão da actividade comercial no Mar de Azov.
Estes movimentos acontecem numa altura em que o custo destas matérias-primas já atingia níveis historicamente elevados. O índice de preços alimentares da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), em 2021, cresceu 17,8%, para um máximo dos últimos dez anos. Isto num contexto de forte procura e constrangimentos do lado da oferta, provocados, sobretudo, pelas disrupções nas cadeias de fornecimento.
Uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia vem agravar este cenário, que, defendem já alguns analistas, poderá escalar para uma crise. “Uma guerra vai provocar uma crise alimentar e energética. Os países emergentes, sobretudo a Turquia, o Egipto e o Líbano, serão os mais afectados, tendo em conta que são altamente dependentes do trigo produzido na Rússia e na Ucrânia”, comenta Dan Wang, analista do Hang Seng Bank, citado pela Reuters.
Mas o impacto será global, considerando a dimensão que estes dois países assumem na comercialização destes produtos. Juntas, segundo os dados recolhidos pela Reuters, a Rússia e a Ucrânia são responsáveis por 29% das exportações mundiais de trigo, 19% da oferta de milho e 80% do óleo de girassol.
Os aumentos a que agora se assistem não terão um impacto imediato para o consumidor, mas é de esperar um encarecimento dos preços em breve. Na prática, estas cotações traduzem as encomendas feitas pelos grandes operadores do mercado para o período de um, três ou seis meses, de forma a poderem gerir as reservas de produtos e os seus principais fornecedores.
Mas, inevitavelmente, o aumento do custo da matéria-prima acabará por se reflectir nos preços finais ao consumidor. Será o caso, por exemplo, do preço da carne ou do leite, uma vez que, em Portugal, estes cereais são importados maioritariamente para produção de rações animais, que, encarecendo, levarão a que a criação de animais se torne, também, mais custosa. E, naturalmente, o pão e produtos relacionados também acabarão por sofrer os efeitos desta evolução dos preços.