Gás russo representa 10% do total importado por Portugal
Compras de gás russo tiveram início em 2019, e o último barco chegou a Sines no passado mês de Outubro. No petróleo, a Rússia foi o principal abastecedor de Portugal em 2017 e 2018.
A primeira vez que Portugal importou gás natural da Rússia foi em 2019, com 92 milhões de metros cúbicos, uma quantidade correspondente a 2% do total, já que os fornecedores tradicionais têm sido a Argélia (via gasoduto) e a Nigéria (gás natural liquefeito, por barco). Em 2020, o volume de abastecimento de gás russo, que entra também por barco (GNL), subiu para 542,9 milhões de metros cúbicos, equivalente a 10% do total, mantendo-se nesse volume em 2021, de acordo com os dados da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG).
A maior diversificação que se verificou nos últimos anos, com o gás fornecido via gasoduto a descer, abrangeu também os EUA a partir de 2016, tendo este país representado 19% do total em 2020 e 33% no ano passado, quando passou a ser o segundo maior fornecedor de Portugal após a Nigéria – cabendo à Rússia a terceira posição, com o último navio a chegar ao país em Outubro passado, por via do Porto de Sines.
Já em termos de petróleo bruto a Rússia é um fornecedor mais antigo de Portugal, embora com intermitências, e, durante dois anos, em 2017 e 2018, foi mesmo o principal abastecedor de petróleo de Portugal, conforme demonstram os dados da DGEG. Em 2017, as 3035 mil toneladas de crude importadas deste país representaram 22% do total, mais 10% do que no ano anterior, tendo ultrapassado Angola. Comparando com 2015, a quantidade importada quase que multiplicou por cinco nesse ano.
A liderança russa, ligada às compras efectuadas pela Galp Energia (que depois refina o petróleo) manteve-se em 2018. Já em 2019 perdeu a primeira posição para Angola, e em 2020 acabou mesmo por desaparecer da tabela - ano em que o abastecimento foi liderado pelo Brasil (a DGEG ainda não tem dados de 2021).
“Portugal dispõe de elevados níveis de armazenamento” de gás
Em comunicado enviado esta tarde, o Ministério do Ambiente e da Acção Climática (MAAC) nota que o conflito “terá implicações globais, desde logo nos mercados energéticos”, uma vez que a Rússia “representa cerca de 40% das importações de gás natural (GN) da Europa”. Mesmo assim, o Governo diz que o facto deste país representar 10% das importações de gás faz com que, caso haja uma “potencial interrupção do fornecimento por parte da Rússia”, isso não faça antever “uma disrupção no fornecimento de GN a Portugal”.
“Portugal vive hoje num cenário de uma maior diversificação de origens do GN que importa e, sendo o mercado de GN global, existem diversos fornecedores que poderão representar uma alternativa segura e viável ao GN vindo da Rússia”, refere o MAAC. E realça que Portugal “dispõe de elevados níveis de armazenamento de GN (79,2% da capacidade total), que actualmente é dos valores mais elevados da Europa em termos percentuais”.
“Não se verificaram quaisquer falhas nas entregas de GNL no terminal de Sines e a calendarização de Fevereiro e Março decorre como programado pelos agentes de mercado”, adianta. Sobre o crude, recorda que não há importações deste produto da Rússia desde 2020, e que os “produtos intermédios que se importaram” representam “uma pequena fracção do total”, e há alternativas no mercado.
Portugal, refere-se no comunicado “dispõe de reservas estratégicas de crude e de combustíveis (gasolina, gasóleo e GPL)”, que, no caso dos combustíveis, “são suficientes para garantir o consumo nacional durante 90 dias”. De acordo com o executivo, “a garantia do abastecimento do Sistema Nacional de Gás e do Sistema Petrolífero Nacional estão salvaguardadas, merecendo e tendo, necessariamente, o acompanhamento próximo e constante pelo Governo e demais entidades competentes”.