Óscares emagrecem cerimónia retirando oito categorias da emissão em directo

Curtas-metragens, som ou caracterização entregues uma hora antes e depois misturadas na transmissão milionária — mas que em 2021 teve as piores audiências de sempre.

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Os Óscares lutam pela relevância mediática na pandemia LUCY NICHOLSON/Reuters

A transmissão televisiva da cerimónia dos Óscares é quase tão importante para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood quanto receber um Óscar é para um artista: o orçamento da Academia depende muito do contrato com o canal norte-americano que emite o evento para todo o mundo. É por isso, e pelas audiências em queda abissal, que oito das categorias dos Óscares vão ser pré-gravadas e aparecerão condensadas na tradicionalmente longa noite dos prémios de cinema, como anunciou a Academia aos seus membros na terça-feira.

A notícia foi avançada pela revista especializada The Hollywood Reporter, que publicaria depois a carta que o presidente da Academia, David Rubin, enviou aos membros da organização que vota e organiza os mais mediáticos prémios de cinema do mundo. As categorias em causa não são apenas as chamadas “categorias técnicas” muitas das quais já foram relegadas para uma cerimónia que antecede a dos Óscares. De fora da emissão em directo ficarão as curtas documentais, de acção real e de animação, a montagem, a caracterização, a composição original, som e a direcção de arte.

Estas oito categorias terão direito a subir ao palco do Dolby Theatre, mas uma hora antes de a cerimónia “principal” começar. “Essas apresentações serão editadas pelas nossas equipas criativa e de produção e serão envolvidas de forma natural na transmissão televisiva em directo”, garante Rubin. “Para que fique claro, todos os nomeados em TODAS as categorias serão identificados na transmissão e TODOS os discursos de aceitação integrarão a transmissão ao vivo”, sublinhou, com maiúsculas a condizer, dizendo mesmo que todos os premiados terão direito ao seu “momento Óscar”.

O objectivo é, claramente, tornar a transmissão televisiva mais curta, ou “mais comprimida e mais eléctrica com esta nova cadência” para que o programa tenha no total as desejadas três horas de duração.

Agilizar a cerimónia

Os 94.ºs Óscares vão tentar reerguer-se do golpe sofrido em 2021, quando a cerimónia teve as piores audiências da sua história televisiva — meros 10,4 milhões de espectadores dos EUA viram a emissão, contrastando com as dezenas de milhões de anos ou décadas anteriores. Foi um ano especial, é certo, o da hora negra do cinema com ecrãs e estreias apagadas em todo o mundo devido à covid-19, mas apenas uma queda mais abrupta em relação aos últimos anos em que a relevância mediática dos Óscares tem vindo a esbater-se, seja pela perda de importância da televisão linear seja pelas escolhas dos membros da Academia, que há muito não celebram nas principais categorias filmes muito populares.

O seu mais recente desaire óbvio foi a não nomeação de O Cavaleiro das Trevas (2008) para Melhor Filme e o seu mais recente pico foi com a vitória de O Regresso do Rei (2003), o terceiro filme de O Senhor dos Anéis, que ainda assim não conseguira superar os 57 milhões (só nos EUA) que atingiram com Titanic em 1998. Estas coisas importam, e a Academia vai tentando reflectir o seu impacto.

Se por um lado o caso Cavaleiro das Trevas a fez aumentar o número de candidatos a Melhor Filme para um máximo de dez nomeações, por outro há anos que tenta encontrar uma solução para fazer um melhor espectáculo televisivo. É que o acordo com o canal ABC, que dura até 2028, sustenta em grande parte a Academia — não são conhecidos os valores do acordo actual, mas o contrato anterior representava, segundo a revista Variety, 75 milhões de dólares por ano para a instituição (o canal depois tenta rentabilizar este negócio com a venda da onerosa publicidade nos intervalos e de direitos de transmissão internacional).

Nos últimos anos, as tentativas de agilizar a cerimónia foram variadas e começaram sobretudo em 2018 quando a Academia tentou retirar totalmente algumas categorias da transmissão (a contestação fê-la recuar) e depois, em 2019, quando a cerimónia começou os seus três anos sem anfitriã/o — este ano, haverá ao que tudo indica três anfitriãs nas figuras de Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes.

Os Óscares de 2022 decorrem na madrugada de 28 de Março (hora de Lisboa). Os principais nomeados são O Poder do Cão, Duna, Belfast ou West Side Story.

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