Quando Kenneth Branagh se encontrou em tempos de Troubles
De forma confessadamente autobiográfica, Belfast vem contar o último capítulo da infância norte-irlandesa de Branagh.
Belfast começa com uma série de planos coloridos, e filmados na actualidade, da cidade norte-irlandesa. Vistas aéreas e vistas mais térreas, de zonas antigas de Belfast e de zonas mais modernas, ou “renovadas”. Não se está mal durante esses minutos iniciais, e mesmo não se fazendo muita fé nos dotes de Kenneth Branagh como realizador (ainda por aí anda esse mostrengo que é Morte no Nilo) põe-se a hipótese de que se continue a estar razoavelmente bem nos minutos restantes — afinal, um filme que nos mostre uma cidade tem sempre, pelo menos, esse interesse, o de nos mostrar uma cidade. Mas rapidamente o ecrã passa da cor ao preto e branco (pelas piores razões: o preto e branco como cliché sinalizador de “outro tempo”) e logo se percebe que Branagh não vem para nos mostrar Belfast, mas uma reconstituição de Belfast filtrada pelas suas memórias pessoais. Foi ali que ele nasceu e foi ali que ele cresceu até ao final dos anos 60, quando a família se mudou para Inglaterra para escapar aos Troubles que se anunciavam no horizonte. De forma confessadamente autobiográfica, mas sem se plasmar nas personagens (o miúdo protagonista não se chama Kenneth), Belfast vem contar o último capítulo da infância norte-irlandesa de Branagh.
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