Há um novo Kanye West a aterrar, digno de “funerais e nascimentos”, mas só se pode ouvir como e onde ele quer
Donda 2, sucessor do álbum lançado em Setembro do ano passado, apenas está disponível no Stem Player, um dispositivo lançado pelo próprio músico em protesto contra o negócio da distribuição.
Só há uma maneira legal de ouvir o novo álbum de Kanye West, que em princípio aterrará no planeta Terra esta terça-feira: ter um Stem Player, dispositivo especial que o rapper e produtor lançou há meio ano. Disponível apenas através do site oficial (https://www.stemplayer.com/), este leitor de MP3 que permite ouvir e reorganizar as canções divididas em quatro pistas custa 200 dólares (à volta de 176 euros), mais portes. A acompanhar o lançamento do disco haverá também um concerto em Miami, que será mostrado em ecrãs IMAX de cinemas distribuídos por vários pontos dos Estados Unidos.
Foi nestes termos que Kanye West anunciou na semana passada a chegada de Donda 2, o seu 11.º disco, mas o artista norte-americano é conhecido por afinar detalhes até à última hora; mesmo que o disco seja lançado no dia anunciado, muito pode vir a mudar posteriormente. Não seria a primeira vez. West, que em 2020 se queixou do contrato restritivo que assinou com a editora Universal quando era ainda um nome em ascensão, e que não lhe garantia os direitos sobre a sua própria música, disse no Instagram que quer, com esta manobra, contrariar o facto de, num universo dominado pelo streaming, apenas 12% dos lucros da indústria reverterem efectivamente para os artistas. Só o anúncio da exclusividade de Donda 2, alega, já lhe rendeu até ao momento quase 2,3 milhões de dólares (cerca 2,02 milhões de euros).
O novo álbum é a sequela de Donda, lançado em Setembro do ano passado, e como ele ostenta o nome da falecida mãe do artista, Donda West. A acreditar num post da sua conta de Instagram que entretanto foi apagado, terá 22 faixas e participações de convidados como Future, Fivio Foreign e Alicia Keys. Consta que Marilyn Manson, o rei do shock rock caído em desgraça na sequência de várias acusações de abusos sexuais, também trabalhou no disco, sendo um colaborador recente de West. Dos créditos de produção constam por sua vez Digital Nas, Mike Dean, DJ Premier e DJ Khaled. A ideia, tem dito o músico, foi criar um disco para ouvir em ocasiões como funerais e nascimentos.
Donda 2 surge numa altura em que Kanye tem andado particularmente mediático. Nos últimos meses, por exemplo, soube-se que uma relações públicas que trabalhou para ele ameaçou e tentou arrancar uma confissão a uma representante de uma mesa de voto na Geórgia que Donald Trump acusou de manipular boletins. West negou que a dita relações públicas, actualmente sua directora de operações, trabalhasse para ele na altura.
Paralelamente, tem sobressaído a forma bastante perturbadora como o músico sistematicamente tem insistido para que Kim Kardashian, a sua ex-mulher, volte para ele, denegrindo o cómico e actor Pete Davidson, o actual namorado de Kim, e indo ao ponto de anunciar que o rapper e seu colaborador assíduo Kid Cudi não iria aparecer no álbum devido à amizade com Davidson.
E há ainda jeen-yuhs: A Kanye Trilogy, uma série documental Netflix cujo resultado final não foi aprovado por West e cujo segundo episódio (de um total de três) sai esta quarta-feira. Realizado pela dupla Coodie & Chike, resulta das filmagens que o ex-cómico Coodie faz do músico há mais de 20 anos, e que o levaram a acompanhar Kanye West desde Chicago, onde produzia instrumentais para uma cena de rap pouco profissional, até Nova Iorque, onde ascendeu como produtor e acabou por assinar, já como rapper, pela Roc-A-Fella de Jay-Z.
No primeiro episódio, que acaba com o acidente de viação que lhe afectou o maxilar em 2002, vemos Kanye West, a rebentar de entusiasmo e de sonhos, ainda antes da fama mas já com muita confiança, a visitar a sua antiga casa em Chicago com a mãe, a interagir com Memphis Bleek ou Just Blaze, e a conhecer Pharrell Williams. Ou ainda a mostrar Family business, de College Dropout, o seu primeiro disco, ao lendário Scarface, dos Geto Boys, com quem tinha trabalhado em clássicos como Guess who's back ou This can't be life, de Jay-Z, faixa de resto citada em Family Business.