João Soares pede “movimento pacífico” em Angola que impeça”mais uma vigarice eleitoral”

Angola tem eleições previstas para Agosto. O ex-dirigente do PS assinala, em entrevista à Lusa, as limitações no processo eleitoral naquela país.

Foto
LUSA/AMPE ROGÉRIO

O ex-dirigente do PS português João Soares defendeu esta segunda-feira “um grande movimento popular pacífico” em Angola para impedir que “se volte a fazer uma vigarice eleitoral” no país nas próximas eleições, previstas para Agosto.

“É preciso que haja um grande movimento popular pacífico para impedir que, mais uma vez, o poder cleptocrático - o poder da ladroagem, das maiores que eu conheço no mundo, que é o de Angola, infelizmente - volte a fazer uma vigarice eleitoral”, afirmou João Soares numa entrevista à Lusa, 20 anos depois da morte de Jonas Savimbi, fundador da União para a Independência Total de Angola (UNITA), hoje o maior partido da oposição naquele país.

Sublinhando que, até hoje, “não houve eleições democráticas em Angola”, consideradas como tal à luz dos padrões internacionais como “livres e justas”, o filho do fundador do PS Mário Soares e ex-ministro da Cultura português, lembrou ainda que “nunca houve um debate televisivo, nem sequer jornalístico entre os candidatos presidenciais” naquele país.

Por isso, 20 anos depois da morte de Savimbi, a 22 de Fevereiro de 2002 que levou ao fim da guerra civil no país, “a questão de fundo em Angola é que o processo [eleitoral] está todo viciado desde o início, (...), desde o tempo do regime de partido único, e com o apoio de uma empresa (...), que é quem faz os cadernos eleitorais, imprime os votos, etc”.

“Quando não há cadernos eleitorais elaborados de uma forma séria, não pode haver eleições livres, quando não há o mínimo de controlo sobre os meios de campanha de cada uma das forças políticas, presentes no combate eleitoral, e quando não há o mínimo de debate democrático nos órgãos de comunicação social, não pode haver eleições livres”, frisou.

Além disso, disse, a oposição “não participa no escrutínio dos votos que se faz em cada mesa de voto”, mais um factor pelo qual “a nível local, distrital e provincial não pode haver eleições livres”.

Para já, os dirigentes do país anunciaram as eleições, mas “ainda não têm cadernos eleitorais e a Comissão Nacional de Eleições não tem representação dos partidos políticos da oposição”, acusou.

Na opinião de João Soares, um simpatizante assumido da Unita, em Angola, há alternativas políticas, mas não há alternância de poder.

Em Angola, “há 48 anos que o Presidente da República é o presidente do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola], o primeiro-ministro é um quadro qualificado do MPLA, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça é do MPLA e o presidente da Comissão Nacional de Eleições é do MPLA”, afirmou, questionando: “como é que pode haver eleições democráticas num quadro destes?”

Neste contexto, a coligação de partidos da oposição angolana, como agora está a suceder, “é uma coisa óbvia, que já devia ter sido feita, e que Adalberto [Costa Júnior, novo líder da Unita] teve a coragem de fazer em nome da UNITA, que evidentemente ali é o grande partido da oposição e, indiscutivelmente, com representação nacional em todas as províncias”.

Mas “é óbvio que tem que haver uma união de todos os partidos de oposição, porque eles são todos vítimas das falcatruas e das aldrabices eleitorais e outras que o MPLA faz”, considerou.

Para João Soares, Adalberto da Costa Júnior é alguém “com grande popularidade e preparado, admitindo que será uma possível uma mudança política.

“Desde que haja um movimento muito forte, mas pacífico para impedir a vigarice no processo eleitoral, claro que sim”, reforçou.