Ucraniana Alina Pash afastada da Eurovisão após ter sido acusada de entrar na Crimeia via Rússia
Ucrânia só permite a entrada na Crimeia através da fronteira terrestre que controla. A cantora ia representar o país em Turim, mas acabou por cancelar a participação. Não é a primeira vez que acontece.
Depois de ter vencido, no último sábado, o Vidbir – o equivalente ucraniano ao Festival da Canção – Alina Pash preparava-se para viajar até Turim, na Itália, para representar a Ucrânia no próximo Festival da Eurovisão, que se realiza em Maio. Contudo, a participação na competição acabou por ser cancelada depois terem começado a surgir informações sobre uma viagem da cantora à Península da Crimeia, alegadamente via Rússia, em 2015. O território é, desde 2014, controlado pelo estado russo e um factor de desavença entre os dois países. A Ucrânia tem leis explícitas que restringem a visita à Crimeia: cidadãos ucranianos e estrangeiros só podem estar neste território através da fronteira terrestre ucraniana. Se o fizerem desde a Rússia, ficam proibidos de entrar na Ucrânia.
Alina Pash confirmou a ida à Crimeia, mas garantiu que o fez de acordo com a lei, e apresentou até documentos que supostamente comprovariam a passagem pela fronteira. No entanto, as autoridades fronteiriças ucranianas não confirmaram a legitimidade da documentação, o que levou à especulação sobre a autenticidade desses documentos.
Face à controvérsia, a cantora anunciou, através de uma publicação no Instagram, a decisão de se retirar da competição. “Sou um artista, não um político. Não quero ficar nesta história difícil. É com um coração pesado que retiro a minha candidatura como representante da Ucrânia no concurso europeu. É uma pena. Lamento imenso”, escreveu.
A informação foi, entretanto, confirmada pela televisão estatal UA:PBC, que também anunciou o convite endereçado à Kalush Orchestra, concorrentes que ficaram em segundo lugar no Vidbir, para estarem em Turim. Alina competia com o tema Shadows of Forgotten Ancestors (Sombras de Antepassados Esquecidos).
Crimeia interferiu várias vezes no Festival
Esta não é a primeira vez que a tensão geopolítica entre a Rússia e a Ucrânia em relação ao território da Crimeia interfere na competição eurovisiva. Em 2016, ano em que a Ucrânia saiu novamente vencedora (a primeira vez foi em 2004), a canção 1944, interpretada por Jamala, também esteve envolta em polémica por fazer referência à “deportação estalinista” dos Tártaros. A cantora foi acusada, sobretudo pelos russos, de divulgar uma mensagem de cariz político, contrariando o regulamento do festival.
Numa declaração feita na altura, Dave Goodman, porta-voz da União Europeia de Radiodifusão (EBU na sigla inglesa), concluía que “o título e as palavras da canção não têm nenhuma mensagem política e não violam o regulamento do concurso”, pelo que Jamala continuou na competição.
Em 2017, a Ucrânia foi o país organizador da competição de canções e a polémica esteve do lado russo. Tal como aconteceu com Alina, Yulia Samoylova, cantora escolhida para representar a Rússia nesse ano, também tinha visitado a Crimeia de uma forma considerada ilegítima pelos ucranianos. A Ucrânia avisou, então, que proibiria a entrada da cantora no país e a Rússia, que recusou escolher outro artista, optou por não participar nessa edição, que foi ganha por Portugal, representado por Salvador Sobral e a canção Amar pelos Dois. Yulia viria a participar em 2018, em representação da Rússia, e a actuar em Portugal, mas não passou das meias-finais.