Um mostrengo de lixo do mar à solta no Campo Pequeno

Meia tonelada de resíduos que estavam a poluir o mar e a costa portuguesa foi transformada num estranho bicho exposto em Lisboa. Ainda há muito mais lixo à deriva nos oceanos.

"The Machine" estará exposta até 3 de Março
Fotogaleria
"The Machine" estará exposta até 3 de Março Bruno Barata
Bicho é composto por 500 quilos de lixo
Fotogaleria
Bicho é composto por 500 quilos de lixo Bruno Barata
Mas a conta não inclui o lixo que está na base
Fotogaleria
Mas a conta não inclui o lixo que está na base Bruno Barata

Latas de bebidas, a carcaça de uma mota, uma roda com pneu, correias, tubos vários, partes de um aspirador, pacotes de tabaco, garrafas de plástico, muitas redes de pesca, bóias, os restos de um barco, sacos de ração, uma âncora, chinelos, potes de barro para apanhar polvos, bidons de combustível, regadores, cordas e mais cordas, pedaços de madeira, minúsculos plásticos de origem incerta, cabides.

Lisboa amanheceu esta sexta-feira com um mostrengo feito de lixo marinho junto ao Campo Pequeno. Dá uns ares de dinossauro ameaçador, mas o que talvez assuste mais é que é composto por 500 quilos de resíduos recolhidos em praias e zonas portuárias portuguesas.

“O oceano continua cheio de lixo”, lamenta Isabell Kreuzeder, co-fundadora da Skeleton Sea. “Os nossos olhos ficam-se pela superfície e não vêem o que está por baixo. Temos mesmo de mudar as coisas.”

O bicho estranho é inspirado nos animais mecânicos que povoam o universo pós-apocalíptico de Horizon Forbidden West, um videojogo que foi lançado precisamente esta sexta. A Skeleton Sea, uma associação que desde 2005 se dedica a transformar em arte o lixo deitado ao mar, viu aí um bom pretexto para The Machine, uma escultura de sensibilização ambiental criada por Xandi Kreuzeder e a sua equipa.

É uma piscadela de olho a crianças e jovens. “São eles que influenciam a família, os pais. E são eles que vão estar aqui no futuro, esperemos que as coisas já estejam melhores”, comenta Isabell. Nos projectos que têm feito com escolas nos últimos anos, os voluntários da associação aperceberam-se de como os miúdos se entusiasmam com a transformação do lixo em arte. “Conseguimos criar coisas lindas.”

A Skeleton Sea não é estreante nas ruas de Lisboa. Em 2019 expôs no Oceanário esculturas de criaturas marinhas feitas de lixo, em 2020 pôs uma pérola gigante de plástico numa rotunda em Santo António dos Cavaleiros e em 2021 mergulhou um enorme dragão de plástico no Tejo, também ao lado do Oceanário.

“Quando começámos, em 2005, não havia consciencialização nenhuma. Aumentou muito. Aí por 2017, 2018 deu-se uma viragem”, diz Isabell Kreuzeder. Xandi, o marido, tem uma casa de família na Ericeira e sempre foi recolhendo materiais. Actualmente são cerca de 15 as associações que colaboram na apanha de lixo fluvial e marinho. Todos os anos, em Setembro, é organizada uma mega-limpeza das praias portuguesas.

Uma mudança que Isabell nota nestes 17 anos é a forma como o lixo passou a ser tratado nas praias. “Antigamente havia um só caixote e pronto. Agora já há caixotes próprios para a separação de resíduos e há uma preocupação em esvaziá-los e mantê-los limpos.”

A escultura The Machine pode ser vista mesmo à porta da praça de touros até 3 de Março.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários