Toni Martínez mostra a força de quem sabe manter o sangue frio
Espanhol foi o jogador da semana na Liga Europa, palco que aproveitou para relançar os dados de um carreira de persistência.
Em Inglaterra, para onde se mudou com 19 anos, viam-no como um novo Diego Costa. Embora não se importasse, preferia as comparações com o ídolo de infância, Fernando “El Niño” Torres. Como um verdadeiro “hammer”, Toni Martínez sabia que haveria de causar impacto num futebol que lhe caía bem. Sabia também que esperar é uma virtude e que para se apresentar em grande estilo no “berço” do futebol era preciso estar bem preparado.
O grande dia coincidiria com a quarta ronda da Taça de Inglaterra, frente ao Newcastle do compatriota Rafa Benítez, perante um estádio cheio, “com 15 mil adeptos a gritarem como loucos”. Um detalhe: Toni rodava no Oxford United, satélite do West Ham, onde marcou 13 golos em 13 encontros. Nessa tarde, o espanhol foi chamado aos 70 minutos para fechar as contas da eliminatória (3-0), aos 87. Mas, mais uma vez, esperar pode ser uma arte. O tempo passou e, depois do regresso a casa, novo desafio fora de Espanha.
“O Toni explora bem os espaços, é um jogador possante, de referência no ataque… representa um núcleo de jogadores que não têm tido tantas oportunidades, mas que merecem jogar”.
A definição é do próprio Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, que surpreendeu Maurizio Sarri com a aposta no espanhol, autor dos dois golos portistas frente à Lazio. Um “bis” que lhe garantiu o prémio de jogador da semana da Liga Europa.
Para o avançado espanhol nascido em Múrcia, há 24 anos, tratou-se de uma estreia a marcar nas competições europeias (se excluirmos a UEFA Youth League 2015-16), uma recompensa pela perseverança e trabalho desenvolvido apesar de surgir depois de Taremi e de Evanilson nas opções do treinador do FC Porto.
Curiosamente, foi de Toni Martínez o primeiro golo da época do FC Porto, na recepção ao Belenenses SAD, somando nesta altura seis golos em 23 partidas, a dois dos obtidos na época de estreia como “dragão”. O reverso da medalha veio depois da derrota nos Açores, na Taça da Liga, altura em que perdeu influência na estratégia.
Agora, talvez o peso do triunfo sobre a Lazio ajude a desbloquear um estatuto que motivou uma série de movimentações na última janela de mercado, com o nome de Toni Martínez a ser associado a clubes como Espanyol, Hertha de Berlim e Fiorentina. Com uma cláusula de 50 milhões de euros e vínculo até 2025, Martínez procura a afirmação no FC Porto, depois de ter mostrado as credenciais ao serviço do Famalicão, em 2019-20, com 14 golos.
Isto, quando no currículo do espanhol se destacam clubes como o Valência e o West Ham. Ainda no Real Múrcia, Toni Martínez destacou-se no plano físico, tendo chegado à selecção sub17, estreando-se precisamente contra a Itália. E, ainda antes da transferência para Inglaterra, por quase três milhões de euros, houve nova chamada para a selecção campeã da Europa de sub19, na Grécia.
O poder atlético levou-o ao West Ham, essencialmente para actuar nos sub23, na linha do que acontecera em Espanha, onde regressou depois de um ano de empréstimo ao Oxford United e de nova tentativa para chegar à primeira equipa dos londrinos, na qual jogavam os portugueses José Fonte, João Mário e Domingos Quina.
Portugal tinha, definitivamente, reservado um capítulo para o avançado que se estreou pelo FC Porto frente ao Sporting, em Alvalade, e conquistou o primeiro troféu ante o Benfica, na Supertaça Cândido de Oliveira, duas semanas antes do primeiro golo, apontado ao Moreirense, que o destino reservou como próximo adversário dos portistas.
Sérgio Conceição assumira a Liga como objectivo prioritário antes do jogo com a Lazio, mas garante que a escolha do avançado não esteve relacionada com a necessidade de gerir o plantel antes do que considerou um “ciclo infernal”.
Na realidade, o técnico do FC Porto tem um dilema face ao desempenho do espanhol, que até pode descomplicar o quadro, já que saiu com queixas físicas frente à Lazio. Mas a verdade é que Toni Martínez bisou pela segunda vez de “dragão” ao peito (a primeira foi contra o Famalicão) e só não foi mais longe, chegando ao hat-trick, porque na primeira grande ocasião de golo mostrou que ainda precisava de calibrar a pontaria.
Sem garantias de poder manter a titularidade, Toni Martínez já deu provas de não desanimar. Antes de chegar a Portugal, o avançado teve que digerir um regresso com um certo travo a derrota a Espanha, a confirmar a descrença do West Ham, que o emprestou até expirar o vínculo.
No Valladolid, o goleador desfrutou de uma campanha que terminou no regresso à La Liga, embora no ano seguinte fosse cedido ao Rayo Majadahonda e ao Lugo, última etapa antes de rumar a Famalicão. No Minho, afirmou-se em definitivo, garantindo a mudança para um palco com outro brilho.