Daniel Jonas: quando traduzir Chaucer é dar vivas ao português
A E-Primatur lança a primeira tradução integral entre nós dos Contos de Cantuária, um dos lugares cimeiros de toda a tradição literária escrita em inglês. É um empreendimento notável: este longo poema narrativo foi escrito há quase 700 anos numa língua que se aproxima do inglês actual como um longínquo antepassado nosso, perdido nas distâncias de uma árvore genealógica. A sua sonoridade, musical e plástica, conserva-se, reinventada na excelente tradução de Daniel Jonas.
De Geoffrey Chaucer se diz que foi o pai da literatura inglesa. Afirmá-lo, sem mais, é, no entanto, esquecer séculos de literatura anteriores à centúria de Trezentos em que viveu o autor dos Cantos de Cantuária. Basta pensar que antes dele escreveram o Venerável Beda (Historia ecclesiastica gentis Anglorum) ou o poeta anónimo de Beowulf — do cânone da literatura das Ilhas ao grande ecrã um nome, por si só, simbólico da velha Albion. Mas toda essa literatura — produzida entre o século VII e X — ou foi escrita em latim, ou no chamado Old English (anglo-saxão, para muito simplificar), com notação gráfica claramente distinta da actual (uso de grafemas inexistentes no inglês moderno). O que tem tanto que ver com a língua de hoje, ou mesmo com o inglês médio de Chaucer, quanto o dinamarquês, ou o frísio. Por isso, embora se trate de literatura inglesa — e genialmente, em várias paragens dessa fase mais remota: por exemplo, no Beowulf, traduzido pelo Nobel irlandês, o poeta Seamus Heaney —, com Chaucer começa o período mais reconhecível desta literatura, já escrita num inglês (quase) inteligível ao leitor de hoje.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.