“O sucesso da minha carreira permite-me ponderar ser candidato à liderança do PSD”

Reeleito presidente da Câmara de Aveiro para um terceiro mandato, Ribau Esteves defende que o PSD deve “puxar pela sua costela popular” e assume que o partido deve estar disponível para fazer reformas com o PS.

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Ribau Esteves foi secretário-geral do PSD Nuno Ferreira Santos

Autarca há 24 anos, Ribau Esteves sustenta que Rui Rio está ferido politicamente, mas que a sucessão se deve concluir até ao Verão. Em entrevista ao programa Hora da Verdade, uma parceria do PÚBLICO e da Rádio Renascença, o antigo secretário-geral do partido conta que está a reflectir sobre uma candidatura à liderança e afasta os outros nomes de que se fala, como Luís Montenegro.​ Sem querer adiantar nomes de outras figuras que estejam a seu lado numa eventual candidatura, o antigo deputado remete uma decisão para depois do conselho nacional do próximo sábado.

Está a ponderar uma candidatura à liderança do PSD. Já tomou uma decisão?
Obviamente que estamos em reflexão e ponderação. Duas semanas de reflexão é muito pouco tempo, é preciso que o PSD aprofunde este exercício.

O que falta para tomar essa decisão?
Há três perspectivas. A primeira é da análise do resultado das legislativas. O segundo ponto é este: que caminho temos de percorrer para que o PSD lidere a oposição ao Governo socialista de forma clara na liderança da disputa com outros actores e possa encontrar um caminho de construção de alternativa ao PS. Este caminho novo, em que o partido tem de se reorganizar internamente, tem de dar protagonismo aos seus autarcas, dirigentes dos governos regionais, deputados. Essa reforma tem de ter uma imagem nova, uma nova forma de comunicar e novas bandeiras da transição climática, da transição energética, da transição digital ao lado dos bons e velhos valores do reformismo e do humanismo. É preciso olhar para novas equipas e protagonistas, de gente que não anda no firmamento desta disputa há muitos anos, não andou a fazer a vida negra ao líder do partido.

Está a referir-se a quem? Luís Montenegro, Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz?
E Jorge Moreira da Silva. São companheiros todos respeitáveis, mas se o PSD trilhar, no próximo futuro, os caminhos por onde andou neste passado recente, não vai conseguir afirmar-se na tal liderança política na oposição, nem fazer regredir o crescimento do Chega e da IL. A pecha principal do PSD tem sido a dificuldade de comunicar de forma clara, simples e atractiva. Desde que dei nota pública da minha ponderação tenho recebido inúmeras mensagens de militantes e as mais expressivas são daqueles que o deixaram de ser porque se deixaram de rever na vida do partido.

Quem é o responsável por isso? É Rui Rio?
Somos todos responsáveis por isto. Não alieno a minha quota-parte. Quando Rui Rio sucedeu a Passos Coelho, não conseguiu liderar a oposição. Reconheço méritos ao presidente Rui Rio, foi um lutador, apoiei-o no seu percurso, mas a verdade é que o PSD foi ao centro — e percebo que tenha ido , mas o PS resolveu esse problema. Não conseguimos atrair novos públicos. O Chega conseguiu capitalizar o voto do protesto e a IL vai buscar aquela gente mais nova, em regra formada.

Luís Montenegro não seria um bom candidato ou um bom líder do PSD?
Aguardamos a decisão de Luís Montenegro. Não há processo eleitoral aberto. É muito importante que Rui Rio saia com honra, de forma tranquila e no seu tempo. Estes companheiros têm características para poder liderar o partido? A minha resposta é claramente sim. Mas a minha resposta é claramente não, quando olho para aquele que deve ser o caminho do PSD nos próximos anos. A capacidade de liderar a oposição secundarizando outros partidos, de ir construindo essa alternativa ao PS, a de usar no bom sentido do termo os poderes que o PSD tem nos municípios, nas regiões autónomas dos Açores e Madeira, recolocar os seus deputados a trabalhar no terreno...

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Esse novo rosto é o senhor?
Considero que o meu percurso no partido, a minha experiência, o sucesso da minha carreira com sete eleições autárquicas ganhas com maioria absoluta, o trabalho que tenho na Associação Nacional de Municípios, na Comunidade Intermunicipal de Aveiro, como membro do comité das regiões, aquilo que é a minha experiência política e de relação muito próxima e eficiente com os cidadãos permite que eu pondere essa liderança.

O que falta para ir ao conselho nacional dizer que é candidato?
Falta terminar o trabalho de reflexão.

Deve haver um congresso?
Para promover este debate não era preciso um congresso. Nos congressos debate-se muito pouco, ouvimo-nos uns aos outros. Aquilo que eu defendo é que o partido faça um conjunto de reuniões pelo país em cada distrito, nas regiões autónomas, para falarmos uns com os outros. Seria um processo muito saudável e positivo. Devemos esperar pelo contributo do presidente Rui Rio na sua proposta de calendário que terá de ser aprovada no conselho nacional. Chegar ao Verão com este processo terminado é um tempo tranquilo. O PSD tem um líder até o próximo tomar posse. O dr. Rui Rio não é um desertor, não fugiu, não está em casa a descansar, está a fazer o seu exercício com a legitimidade que tem. Ferido politicamente? Sim, porque perdeu uma eleição como perdeu, mas tem total legitimidade.

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Ribau Esteves Nuno Ferreira Santos

Defende um novo partido? O que é que o PSD deve ser?
Apresentarei, no tempo próprio, as minhas notas de reforma profunda do partido. O PSD precisa de se reorganizar internamente. O partido continua com os velhos distritos, que só servem para eleger deputados, os nossos círculos eleitorais continuam desfasados da governação do país. O PSD tem de sincronizar as eleições para os seus órgãos distritais e concelhios. Cada um ter eleições quando quer é algo de muito negativo, estamos sempre em disputas internas uns com os outros. Temos ideias muito claras sobre o que é a imagem nova do PSD. Tem de puxar pela sua costela popular, porque nós somos PPD; tem de enfatizar e clarificar o que é ser social-democrata, porque criou-se uma grande confusão por nossa culpa sobre se ser social-democrata é mais do centro, mais da direita.

Que outros rostos poderia trazer para a liderança do PSD?
É evidente que não há líderes sem equipas, nem equipas sem líderes. No quadro da assunção de uma candidatura, haverá a apresentação de um grupo de trabalho de onde sairá uma parte dos que serão os dirigentes nacionais. Gosto de ser claro em dizer ao que vamos e eu não irei sozinho. Haverá tempo para a assunção desses nomes.

Com o Chega e a IL fortalecidos no Parlamento, vai ser mais difícil ao PSD fazer oposição? Pode perder terreno?
A Assembleia da República é uma casa da democracia muito importante, mas infelizmente é cada vez menos. Se perguntarem ao cidadão que deputado é que elegeu, posso garantir-vos que mais de 90% dos portugueses não elegeu deputado nenhum. Defendo e lutarei pela eleição nominal dos deputados com um círculo nacional. É uma reforma fundamental. A acção política tem um assento na Assembleia da República, mas o PSD tem de assentar a sua acção política no território.

Para si não é fundamental que o líder do PSD esteja na Assembleia das República?
Sempre achei isso. O PSD tem de colocar os deputados a trabalhar no território junto das pessoas, como se fez no passado de forma bem feita. Tínhamos agenda à segunda-feira. Agora, o que fazem os deputados à segunda-feira em termos de acção política? Que obras ou empresas visitam? O PSD não usou como devia ter usado as forças que tem — os seus autarcas no território, os seus dirigentes regionais nos Açores e na Madeira , e é nesta perspectiva transversal que eu acredito, nesta intervenção política qualificada do PSD.

É esse reforço no terreno que permitirá a um futuro líder do PSD sobreviver a dois mandatos?
O trabalho que temos de fazer precisa de tempo. O PSD tem de ter ritmo nesta reforma. Acho que os quatro anos são muito importantes para que faça esta sua reforma interna. Não pertenço ao grupo daqueles que dizem que o partido tem de se virar para fora. Não. O partido, em primeiro lugar, tem de tratar de si próprio, tem de se capacitar para prosseguir esse trabalho de liderança de oposição, de crescimento como uma alternativa. Pode fazer-se em dois anos? Poder pode, mas eu gosto de ser realista e como gestor acho sempre muito importante usarmos o tempo.

E o PSD vai permitir que o líder sobreviva dois mandatos?
Este trabalho tem de ser um trabalho do partido. Mas, se o partido não quiser fazer este trabalho, com certeza o líder sozinho não o vai conseguir. Temos enquadramento político, tempos tempo, temos partido e é fundamental não andar atrás do A, B ou C que às vezes nem sabemos bem o que pensa sobre o país. Temos de fazer de forma diferente. Quem ganhar esta eleição tem dois anos que têm de ser muito intensos e muito consequentes. A eleição ao Parlamento Europeu não se trabalha dois meses antes. A eleição autárquica de 2025 tem de se começar a trabalhar imediatamente. O PSD tem 45 presidentes de câmara — um deles está à vossa frente que não pode voltar a ser candidato, o PSD ainda é o partido número dois do poder local e esse trabalho não se faz em cima de autárquicas – faz-se já, para termos um resultado em condições. Temos de reflectir sobre o nosso candidato a Presidente da República em 2026. Podemos fazer este trabalho em dois anos, mas os resultados de que precisamos necessitam mesmo de quatro anos.

O que o PSD precisa é de um líder de terreno como o senhor?
É a minha profunda convicção. Outros exercícios de nomes que tenho feito neste debate, e que não são os nomes do tal quarteto de que falávamos há pouco, são pessoas com estas características. Se o PSD for para o campo dos teóricos gente com bom discurso político, mas que, quando se olha para a sua capacidade de falar com as pessoas, de as cativar, de lhe transmitir energia, força, esperança, ficamos com um grande vazio —, aí estará um problema muito sério para a capacidade de crescimento do partido.

O PS, que tem agora maioria absoluta e que já não vai precisar de negociar com o PCP e o Bloco, pode ser um governo mais ao centro?
Temos de verificar qual vai ser a nova atitude do primeiro-ministro, António Costa. Ele sempre mantém a matriz de intervenção à esquerda. O país precisa de reformas em algumas áreas muito profundas e importantes que o PS, dependente do BE e do PCP, não tinha condição de fazer. O PS quer mexer na Justiça? O PSD estará seguramente disponível para isso. O presidente Rui Rio fez propostas objectivas nessa matéria. Sim ou não? Temos de saber. O PS quer trabalhar para termos regionalização? Nos discursos que ouvimos, sim.

Consigo na liderança do PSD, o Governo PS pode contar com o seu apoio para estas reformas?
O país pode contar com um PSD que contribua para um Portugal melhor. Não vejo a política como um exercício de disputa estéril pelo poder. Naquelas matérias passíveis de acordos de Estado e em que a posição do PSD seja útil, o PSD estará ao dispor para esses acordos com o PS. Se o PS apenas quiser fazer um jogo de circunstância para fazer de conta que tem alguns acordos a esse nível, o PSD estará radicalmente a dizer não.

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