Eduardo Freitas, de mecânico a director de corrida da Fórmula 1

Português acumula mais de 40 anos de corridas, desde os karts até às 24 Horas de Le Mans.

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Eduardo Freitas terá de lidar com a exposição mediática, de que não é grande fã DR

Com mais de 40 anos de experiência no mundo motorizado, Eduardo Freitas alcançou, a pouco mais de oito meses de completar 60 anos, o topo da hierarquia como novo director de corrida da Fórmula 1. Carreira sedimentada à custa da dedicação e tenacidade exigidas a cada etapa, desde que em 1979 decidiu abandonar o papel de mero espectador e experimentar as emoções de um mundo totalmente novo, a convite de amigos que o desafiaram para assistir a uma prova do Campeonato do Mundo de Karts, no Autódromo do Estoril.

Um pouco como os grandes campeões de Fórmula 1, o sucessor – em parceria com o alemão Niels Wittich – do australiano Michael Masi no cargo que acabou por ter papel determinante na atribuição do último Mundial de pilotos, começou nos karts, como mecânico, integrando até à presente data a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting.

No início, Eduardo Freitas mostrou-se relutante, argumentando que o fascínio pelas duas rodas era o que verdadeiramente o movia. Mas depois de assistir à corrida ganha por Peter Koene (que bateu Ayrton Senna), num local onde pôde observar de perto o trabalho dos comissários, não hesitou, tendo aí iniciado o trajecto como assistente de comissário de pista numa prova de motas.

Até ficar conhecido como “maestro” das 24 Horas de Le Mans, não queimou nenhuma etapa, percorrendo todos os degraus. Aliás, ainda hoje troca, sempre que pode, os claustrofóbicos centros de controlo, autênticos CCTV (com todos os computadores, ligações rádio, monitores, televisões e demais meios necessários para acompanhar as corridas), por uma escapada à pista, por vezes com a bandeira de comissário na mão, sempre em busca dos sons dos motores e do cheiro da borracha queimada e dos escapes. No fundo, tudo o que alimenta a paixão pelos automóveis.

Uma sala de controlo

Apesar de toda a bagagem que o qualifica para a missão de aplicar salomonicamente os regulamentos, mas acima de tudo garantir a segurança de pilotos e de todos os envolvidos num Grande Prémio, Eduardo Freitas enfrenta um desafio igualmente importante.

Numa das poucas entrevistas concedidas pelo português, a assinalar 20 anos ao serviço da FIA e uma década na direcção de corridas no World Endurance Championship (WEC), Eduardo Freitas assumiu não gostar de se ouvir. E esta é uma qualidade essencial, mesmo que a afirmação tenha sido literal. Eduardo Freitas não gosta da própria voz... inconfundível, procurando nunca a sobrepor às demais ou elevar o tom para ser ouvido.

Nesse aspecto, a polémica que envolveu Michael Masi, originando mesmo a retirada do cargo, levou a FIA a cortar as comunicações entre o director de corrida e os responsáveis das equipas de Fórmula 1. Mesmo saindo de uma espécie de anonimato (para o público em geral), Eduardo Freitas terá um novo nível de protecção com a criação de uma sala de controlo a funcionar remotamente.

Um filtro fundamental para a melhor aplicação possível dos regulamentos em tempo real, o que teria sido crucial quando, no GP de Abu Dhabi de 2021, Michael Masi decidiu que apenas os pilotos que se encontravam entre Lewis Hamilton e Max Verstappen (deveria ter autorizado todos os que tinham uma volta de atraso) poderiam ultrapassar o britânico, “entregando” de bandeja o título ao neerlandês.

Eduardo Freitas terá de lidar com a herança e com a exposição mediática, de que não é grande fã, para zelar pela segurança de todos, aspecto que coloca acima de tudo, rivalizando apenas com o patriotismo, o que motiva um ritual – para além do indispensável reconhecimento dos circuitos – sempre que chega a uma prova, levando-o a procurar a bandeira nacional que, a partir de agora, não deixará de ser içada.

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