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Opiniões e diagnósticos

A psiquiatria pode auxiliar um processo judicial. Faz isto por solicitação judicial, com privacidade e confidencialidade. Não o faz publicamente. Muito menos deve ser usada para atrair espetadores.

Uma avaliação psiquiátrica deve ser extensa e compreensível. Usa-se para diagnosticar perturbações emocionais, comportamentais, cognitivas ou de desenvolvimento. Envolve a história do indivíduo, em termos de outras doenças e também de eventos de vida e ambiente ou meio social. A colheita de informação é extensa, porque o mínimo detalhe pode ser relevante para se definir um diagnóstico. Também envolve, cada vez mais, uma avaliação biológica, pela imagiologia ou análises bioquímica e genética. Estabelecem-se possibilidades, que são, em seguida, excluídas de forma diferencial, através da negação de critérios que afirmariam diferentes doenças para se chegar a uma única conclusão da forma mais exata possível.

É frequente o aparecimento de apreciações de uma suposta condição psiquiátrica de um qualquer protagonista político, nos jornais, televisões e redes sociais. Também é frequente o pedido de que tais avaliações serem feitas na tentativa de atingir a credibilidade de alguém que se quer destituir ou demover. Vemos isto por todo o lado, desde Estados Unidos da América até ao Brasil. A tentativa de vilanizar alguém em função do seu funcionamento padrão tem consequências.

Estamos agora a presenciar uma avaliação pública, como resultado de uma detenção e da procura de compreender o que pode levar a alguém planear um ato de tamanha destruição. Não se devem fazer interpretações do perfil de funcionamento como se fosse um ato clínico, e por vários motivos. Uma razão importante é a contribuição para o estigma relativo ao doente psiquiátrico. Pode levar a que os mesmos defeitos sejam atribuídos de forma generalizada em relação aqueles que tenham a condição médica que se quer outorgar a um perpetrador, quando tal é completamente descabido. Outro aspeto importante é o dos diagnósticos serem reservados por estarem envolvidos em confidencialidade. Deve também haver respeito pelos princípios de autonomia, beneficência, não-maleficiência e justiça, para todos os doentes. Ainda, não se deve considerar que toda a gente apresenta uma forma mais ou menos pronunciada de “neurose” ou “problema de saúde mental”.

Há comportamentos que podem ser explicados pela ciência, mas não se identificam os indivíduos presentes no estudo observacional. Esta forma de comentar e divulgar opiniões como se fossem diagnósticos não presta um bom serviço, também porque são muitas vezes feitos de forma incompetente, ligeira, mal fundamentada e sem direito, direção ou diferenciação.

A psiquiatria, como outras áreas médicas, pode auxiliar um processo judicial. Há múltiplas situações em que isso acontece, como ajudar a definir um procedimento de interdição, para remoção de responsabilidades de alguém que se passou a apresentar incapaz e dependente. Pode, também, contribuir para definir uma inimputabilidade. Faz isto por solicitação judicial, com privacidade e confidencialidade. Colabora, muitas vezes, em processos de aposentação antecipada, pelas mesmas razões. Não o faz publicamente. Muito menos deve ser usada para atrair espetadores.

Uma das limitações cognitivas da nossa espécie é associar uma causalidade entre dois eventos, simplesmente porque um antecipa o outro. É imediato pensar que, se um indivíduo tem doença psiquiátrica e depois planeia ou comete um crime, este ato se deve ao seu diagnóstico. A maior parte das vezes tal é falso. O conceito é falacioso. Nos poucos casos que tal possa ocorrer, o assunto é sigiloso e dentro do contexto forense, e este segredo não se pode perder só porque alguém gosta de ser ouvido e visto.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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