Árbitro Bruno Paixão recebeu dinheiro de empresa que serviria de “saco azul” ao Benfica
Árbitro admite ter recebido dinheiro, mas nega qualquer ilegalidade. Clube diz não ter sido confrontado com nome de Paixão ou indícios de corrupção desportiva durante o processo.
Enquanto desempenhava a função de árbitro de primeira categoria, Bruno Paixão trabalhou e recebeu dinheiro de uma empresa da área da informática que as autoridades acreditam ter funcionado como “saco azul” do Benfica. Segundo avança a TVI esta segunda-feira, as autoridades ligam o árbitro à empresa Best for Business, do empresário José Bernardes – e um dos arguidos no processo Saco Azul, um dos que correm contra a SAD dos “encarnados”, o ex-presidente Luís Filipe Vieira e ainda o administrador Domingo Soares de Oliveira.
As suspeitas prendem-se com indícios de corrupção desportiva, com as autoridades a acreditar que estes seriam pagamentos encapotados dos “encarnados” usados para subornar Paixão.
À estação de televisão, o árbitro admite ter recebido dinheiro da empresa, mas alega ser uma coincidência ter trabalhado para o empresário suspeito de ter ajudado o antigo dirigente Luís Filipe Vieira a retirar 1,9 milhões de euros dos cofres das “águias”. Bruno Paixão diz ainda desconhecer todas as suspeitas de corrupção desportiva, adiantando não ter sido ainda contactado pela Polícia Judiciária.
O antigo árbitro, que colocou um ponto final na carreira em Maio do ano passado após 33 anos no activo, diz que prestou “um serviço de controlo de qualidade” à empresa Best for Business, justificando assim o pagamento detectado pelas autoridades.
Nos casos de corrupção desportiva, a pena a aplicar ao clube prevaricador passa pela descida de divisão. Para isso, contudo, as autoridades teriam de provar sem margem para dúvida que o Benfica quis subornar Bruno Paixão, bem como que o dinheiro recebido pelo árbitro através desta empresa seria o retorno de eventuais actos de corrupção desportiva.
Benfica diz não ter sido confrontado com indícios
O Benfica já reagiu em comunicado a estas suspeitas. Através da equipa de advogados, os “encarnados” garantem nunca terem sido confrontados com quaisquer indícios de corrupção desportiva ou com a presença do árbitro Bruno Paixão nesta investigação.
“No âmbito do referido processo, nunca a Benfica SAD ou os seus representantes legais foram confrontados com quaisquer factos que envolvessem o nome do senhor Bruno Paixão e/ou quaisquer acusações de corrupção desportiva”, pode ler-se no comunicado.
Os advogados Rui Patrício, Paulo Saragoça da Matta e João Medeiros, que formam a equipa legal do Benfica e assinam este comunicado, dizem apenas ter sido confrontados neste processo com “indícios de fraude fiscal” e que o Ministério Público abandonou “a tese inicial de branqueamento de capitais”.
Que processo é este?
A 14 de Julho de 2020, a SAD do Benfica, o ex-presidente Luís Filipe Vieira e o actual administrador Domingos Soares de Oliveira foram constituídos arguidos na Operação Saco Azul. O Ministério Público acredita que as “águias” assinaram contratos fictícios com várias empresas, tendo alegadamente retirado dos cofres do clube mais de 1,8 milhões de euros. Estas verbas seriam, posteriormente, levantadas em numerário.
A investigação da Operação Saco Azul foi conhecida em 2018, com o Estádio da Luz a ser alvo de buscas por três vezes. No dia 6 de Junho de 2018, o PÚBLICO noticiou que o Ministério Público investigava as suspeitas de crimes de branqueamento de capitais e fraude fiscal, cumprindo oito mandados de busca (três domiciliárias e cinco não-domiciliárias). Duas das entidades visadas por estas buscas foram a Sport Lisboa e Benfica SAD e a Benfica Estádio Construção Gestão Estádios, SA.
FC Porto implicou Paixão no “caso dos emails”
Os “dragões”, através do director de comunicação, Francisco J. Marques, acusaram em Agosto de 2017 o árbitro Bruno Paixão de ter ligações ao Benfica.
No Porto Canal, plataforma que o FC Porto usou durante semanas para expor a correspondência electrónica dos dirigentes do rival, o responsável “azul e branco” revelou uma conversa que Paixão teve com Nuno Cabral, antigo delegado da Liga. Francisco J. Marques acusou o árbitro de usar Nuno Cabral como intermediário para falar com Paulo Gonçalves, à data director jurídico da SAD do Benfica, questionando a integridade de Bruno Paixão.
No comunicado em que anunciou o ponto final na carreira, o árbitro fez questão de reconhecer algumas falhas, mas garantiu que nenhuma tinha sido premeditada. “Aguentei sobre mim próprio, no meu silêncio, as críticas, as difamações, as provocações. Acima de tudo, quis sempre ser o mais justo possível, falhei muitas vezes, mas nunca o fiz de forma premeditada”, escreveria o árbitro no Facebook a 26 de Maio de 2021.