EUA avisam Rússia que ataque à Ucrânia merecerá uma resposta “resoluta e unida”. Biden e Putin falaram ao telefone
Moscovo diz que alertas ocidentais sobre a iminente invasão são uma “campanha de propaganda”. Vários países estão a aconselhar os seus cidadãos a deixar a Ucrânia.
Os EUA avisaram a Rússia que qualquer intervenção militar na Ucrânia merecerá “uma resposta transatlântica resoluta, massiva e unida”, numa altura em que vários países estão a aconselhar os seus cidadãos a deixar o país. Os presidentes dos dois países, Joe Biden e Vladimir Putin, voltaram a conversar na tarde deste sábado, por telefone, e o líder norte-americano repetiu ao seu homólogo russo o que tem sido a posição dos Estados Unidos: a invasão da Ucrânia merecerá uma resposta decisiva e imediata.
Num telefonema prévio, este sábado, entre os chefes da diplomacia dos dois países, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse ao seu homólogo russo, Serguei Lavrov, que a via da diplomacia continua aberta para resolver o conflito, mas exigiu uma desescalada a Moscovo.
Blinken reafirmou a Lavrov que uma invasão da Ucrânia “resultará numa resposta transatlântica resoluta, massiva e unida”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, citado pela agência France-Presse.
Em resposta, Lavrov denunciou o que considera uma “campanha de propaganda lançada pelos Estados Unidos e seus aliados sobre a ‘agressão russa’”.
Tal campanha, segundo Moscovo, “visa a provocação, encorajando as autoridades de Kiev” a embarcar numa “resolução militar do problema do Donbass”, a região oriental da Ucrânia onde as forças de Kiev lutam contra separatistas pró-russos desde 2014.
Na sexta-feira, a Casa Branca avisara que a invasão da Ucrânia pelas forças russas poderia começar “a qualquer momento”, de acordo com o conselheiro nacional de segurança dos Estados Unidos, Jake Sullivan, que aconselhou os cidadãos norte-americanos que ainda estão no país a saírem no prazo de 24 a 48 horas.
Esse conselho de retirada dos seus cidadãos da Ucrânia foi generalizado a partir de sexta-feira e prosseguiu este sábado, com muitas chancelarias a aconselhar os seus cidadãos a deixar território ucraniano, incluindo a União Europeia, que deu autorização ao seu pessoal diplomático não essencial para deixar o país e passar a funcionar em regime de teletrabalho, revelou o porta-voz de Assuntos Externos da UE, Peter Stano. Este sábado, a embaixada dos Estados Unidos em Kiev também ordenou a retirada de todo o pessoal diplomático não essencial devido às movimentações russas na fronteira.
Também este sábado, o Reino Unido admitiu que não poderá retirar cidadãos britânicos que estejam na Ucrânia em caso de invasão russa, alertou hoje o secretário de Estado das Forças Armadas, James Heappey. Em declarações à BBC, o político disse que a Força Aérea Britânica não estará “em condições de entrar” na Ucrânia se isso acontecer, pelo que os cidadãos do Reino Unido na Ucrânia “devem sair agora”, enquanto há meios comerciais para o fazerem ou mesmo de carro pelos países vizinhos.
Os 27 Estados-membros autorizaram, na sexta-feira, o pacote de ajuda financeira a Kiev no valor de 1200 milhões de dólares, que agora terá de receber a luz verde do Parlamento Europeu. Será um apoio imediato destinado a minimizar o impacto da crise económica na Ucrânia devido à tensão provocada pelos mais de 100 mil soldados russos mobilizados junto à fronteira russo-ucraniana.
“As ameaças persistentes à segurança já provocaram uma saída substancial de capital. A Ucrânia está a perder o acesso aos mercados de capital internacionais devido à maior incerteza geopolítica e ao seu impacto na situação económica”, disse o Conselho da União Europeia em comunicado.
Do lado norte-americano, Jake Sullivan não apresentou quaisquer provas para justificar a sua afirmação de invasão iminente da Ucrânia por parte da Rússia, mas todas as movimentações diplomáticas concertadas para este final de semana mostram uma preocupação crescente quanto à possibilidade de um desenvolvimento militar, numa altura em que as negociações diplomáticas parecem estagnadas.
Segundo o conselheiro nacional de segurança do Presidente Joe Biden, a invasão russa poderá começar com uma operação aérea, o que tornaria a saída dos estrangeiros mais difícil. Citando os serviços secretos norte-americanos, Sullivan afirmou que Putin poderá ordenar a invasão antes mesmo do fim dos Jogos Olímpicos de Inverno e que poderá incluir um ataque rápido a Kiev.
Mais de 30 navios da frota russa do Mar Negro iniciaram este sábado exercícios perto da península da Crimeia, informou a agência de notícias RIA.
Biden procura unidade ocidental
Biden realizou na sexta-feira uma videoconferência com líderes de vários países desde a Sala de Crise da Casa Branca para procurar uma unidade ocidental face ao que Washington considera um perigo iminente.
O chefe de Estado norte-americano e o homólogo russo, Vladimir Putin, falaram este sábado por telefone. O Kremlin sugeriu marcar a conversa para segunda-feira, mas a Casa Branca propôs antecipar a chamada. Os dois falaram duas vezes em Dezembro, mas sem grandes avanços de parte a parte. Desde então, diplomatas dos dois países têm mantido comunicação, mas não tem sido fácil encontrar pontos de convergência.
Segundo a agência TASS, Putin deverá também este sábado falar ao telefone com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron.
O Kremlin rejeitou esta sexta-feira a resposta dos EUA e da NATO às suas propostas sobre a segurança na Europa. “Rejeitamos a resposta colectiva”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova. “Esperamos uma resposta detalhada de cada país à nossa pergunta”, acrescentou, antes de apontar a falta de uma “reacção substancial” da Aliança Atlântica e da UE.
O que se passa na Ucrânia? Porque é que é importante? O PQ explica e descomplica as notícias.
Vera Moutinho,Pedro Guerreiro,Claudia Carvalho Silva,Carolina PescadaDe acordo com a porta-voz, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, enviou uma nota aos seus homólogos europeus e norte-americano, qualificando a resposta dada por EUA e a NATO como “mostra de uma descortesia diplomática e uma falta de respeito” pelo pedido russo.
Apesar disso, e ao contrário da posição da Casa Branca, que parece encarar a invasão da Ucrânia pelas forças russas mais com um “quando” do que com “se”, os mercados comportaram-se nos últimos dias como se a guerra estivesse posta de lado ou, pelo menos, as hipóteses de acontecer estarem muito mitigadas.
O Wall Street Journal noticiava esta sexta-feira que o rublo russo e a hryvnia ucraniana recuperaram parte do valor perdido face ao dólar nos últimos dias, chegando a esta sexta-feira a subir 3% (rublo) e 1,5% (hryvnia) em relação à moeda norte-americana.
Conselhos de retirada multiplicam-se. Kiev pede calma
O número de países que recomenda a saída dos seus cidadãos continua a multiplicar-se neste sábado. A Austrália e a Nova Zelândia foram duas das nações que recomendaram a saída da Ucrânia. O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, dirigiu-se aos compatriotas na Ucrânia para os aconselhar a “procurar sair”. As declarações estão em linha com o que o Governo da Austrália já tem comunicado desde o final de 2021, avisando os cidadãos da situação perigosa.
Na Nova Zelândia, o apelo foi da ministra dos Negócios Estrangeiros, Nanaia Mahuta, que recomendou todos os neozelandeses a sair da Ucrânia enquanto ainda há voos comerciais disponíveis. “A Nova Zelândia não tem representação diplomática na Ucrânia, o que faz com que a capacidade de o governo garantir assistência consular a neozelandeses seja muito limitada”, alertou.
Dentro da UE, Alemanha, Bélgica, Lituânia e Países Baixos juntaram-se a outros Estados-membros ao aconselhar os seus cidadãos a deixar a Ucrânia e não viajar para o país. “É fortemente aconselhado que os nacionais que estão actualmente na Ucrânia e cuja presença não é absolutamente necessária abandonem o país”, pode ler-se no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros belga.
“Aconselhamos os alemães na Ucrânia a considerarem deixar o país”, disse a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock no Twitter.
Na sequência dos alertas lançados pelos Estados Unidos e dos anúncios de vários países, o Governo ucraniano pediu este sábado calma e que sejam evitados actos que possam desestabilizar a situação e criar pânico.
“Neste momento, é extremamente importante manter a calma, consolidar [a situação] no interior do país, e evitar actos que desestabilizem a situação e semear o pânico”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano num comunicado, citado pela agência France-Presse (AFP). Com José Volta e Pinto e Lusa