Escultura
Um show de Pedro Cabrita Reis nas Tulherias, um jantar presidencial no Eliseu: começou o “momento” de Portugal em França
A Temporada Cruzada Portugal-França que até Outubro quer aproximar os dois países começa oficialmente este sábado, mas As Três Graças do artista português já moram junto ao Louvre. E Macron estendeu a passadeira vermelha aos seus convidados portugueses, Tony Carreira incluído, ao início desta noite.
Impecável no seu fato de recorte british, como o bar lisboeta a que é fiel, Pedro Cabrita Reis compareceu esta tarde no Jardim das Tulherias, junto ao Louvre, para o primeiro “momento” da Temporada Cruzada Portugal-França, que oficialmente terá início este sábado, no mesmo local, com a inauguração pelo Presidente da República da escultura concebida pelo artista português para um dos relvados da imensa antecâmara do principal museu parisiense. Chamado a explicar à imprensa francesa Les Trois Grâces, remake de um tema clássico que até Junho dialogará virtualmente com obras da mesma ilustre família mitológica pertencentes ao acervo do Louvre, Cabrita posou com a sua graça habitual junto às três figuras de cortiça que instalou em cima de um pedestal industrial em aço corten e pediu desculpa pelo “mau uso” da língua (a assistência parecia preparada para essa que foi a primeira de muitas boutades...) antes de explicar pacientemente os porquês da inesperada proposta de interpelação da “arte antiga” com que decidiu respondeu ao “amável convite” do Louvre. “Ousaria dizer, e espero que alguns de entre vós estejam de acordo, que não há diferenças históricas ou cronológicas verdadeiramente importantes entre Caravaggio, Velázquez, Picasso, Delacroix, Matisse e, porque não dizê-lo?, eu próprio.”
Incentivando os visitantes a tocarem as suas esculturas, como ele sempre tocou “bastante” as figuras de Aristide Maillol espalhadas pelas Tulherias, o artista agora conhecido como Cabrita disse-se ansioso por ver “as marcas” que os pássaros hão-de deixar até Junho no branco das suas Três Graças. "Os pedestais vão enferrujar e espero que muito depressa, porque assim ganharão um dourado que acho lindo. O branco vai amarelar e o topo das figuras... bom, digamos que vai ganhar uma textura diferente.” E desvalorizou a eventual ironia implícita no recurso à cortiça, material que em Portugal se tornou indissociável da parafernália kitsch dos souvenirs turísticos: “Todas as culturas populares têm representações do kitsch que estão profundamente ancoradas nas mitologias locais. O galo, que é tão francês como português, os objectos vendidos às toneladas pelos chineses que fazem dinheiro em Lisboa a vender o kitsch aos turistas... Mas não há nada mais kitsch do que a televisão. É um lugar de horror. Se virmos televisão durante 24 horas, como exercício conceptual, chegamos ao fim do dia com a noção clara do que é o kitsch edificado em monumento”, respondeu ao PÚBLICO.
Horas depois, e já em traje de gala, o artista agora conhecido como Cabrita chegava ao Palácio do Eliseu, onde o Presidente francês Emmanuel Macron ofereceu um jantar ao seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e a uma comitiva de convidados entre os quais, além de Maria João Pires, que este sábado actuará com a Orquestra Gulbenkian no concerto de abertura da Temporada Cruzada, desfilaram os ministros Graça Fonseca ou Augusto Santos Silva, artistas como Joana Vasconcelos, e talismãs da comunidade imigrante como Tony Carreira. Inês Nadais