Em 2022 assinalam-se 50 anos da publicação, em 1972, do livro Os Limites do Crescimento. Nele, Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens III sintetizam o trabalho de uma equipa de investigadores do MIT que, a pedido do grupo de reflexão Clube de Roma, usou a melhor capacidade computacional da altura e um modelo de dados para desenhar cenários para o futuro do planeta e da humanidade a partir da análise da evolução da população, da produção de alimentos, da industrialização, da poluição e da exploração de recursos não renováveis.
O grupo concluiu que, num cenário de business as usual, ou seja, sem mudanças no modelo de desenvolvimento, a sobrepopulação, a pressão para o crescimento económico e o aumento contínuo da industrialização e da exploração da terra e de outros recursos levariam à exaustão destes últimos, neste nosso século, o que afectaria a nossa capacidade produtiva, o crescimento da economia e, claro, a população. E os autores assumiam que nem sequer tinham estabelecido limites para o crescimento exponencial de poluentes, ou do CO2, porque desconheciam, então, o quanto poderíamos continuar a lançá-los para a terra e para o ar, “sem consequências sérias”. Mas alertavam que a resposta a esta ignorância deveria ser uma atitude “precaucional”, conselho que praticamente ninguém seguiu.
O estudo foi alvo de crítica intensa, ao longo dos anos, mas passado meio século sabemos que a sobreexploração do planeta originou uma crise ambiental (desflorestação, desertificação, poluição de ecossistemas, extinções em massa, etc), e que esta está intrincadamente relacionada com a crise climática. E sabemos que, enfraquecidos pela nossa acção, os sistemas naturais estão menos capazes de absorver, e menos ainda de reverter os efeitos das emissões crescentes de gases com efeito de estufa. E sim, ao contrário de há 50 anos, já conhecemos os limites, porque, nalguns casos, já começamos a sentir as consequências dos chamados tipping points, aqueles pontos em que uma mudança se torna irreversível e em que o que dantes considerávamos eventos extremos se transformam num novo, e indesejável, normal.
Sabemos tudo isto, sabemos quão urgente é agir para reverter o que for reversível e adaptarmos as nossas condições de vida às mudanças climáticas que já não conseguimos impedir, mas continua a faltar um sistema de governança global que trate o clima estável como um património comum da humanidade, tal como, de forma pioneira, Portugal defende, em termos de política externa, na recém-aprovada Lei de Bases do Clima. Mas o problema é que, perdidos nas discussões sobre inflação e os juros, sobre uma nova crise energética e sobre as ameaças geopolíticas que são sempre sobre poder e controlo de recursos, arriscamo-nos a adiar o desafio mais relevante: salvar as próximas gerações do peso insuportável da crise ambiental e climática, uma dívida “ontológica”, como designava, esta segunda-feira, numa palestra, o filósofo Viriato Soromenho-Marques.
Contudo, esta incerteza global não nos deve paralisar. Dentro de alguns dias teremos um novo Governo, e importará saber se o Ministério do Ambiente e da Transição Climática será apenas uma entre outras pastas, submetida aos ditames das Finanças e de uma Economia alheada das consequências ambientais das suas opções, ou se finalmente teremos um executivo em que a transição ganha músculo político e transversalidade, tocando múltiplos aspectos da Governação. Há extremismos à espera de poderem explorar a transição, que vai doer, mas haverá muito mais sofrimento, no futuro, se adiarmos o inadiável. Retomando a reflexão de Viriato Soromenho-Marques, é difícil não concordar com esta perspectiva: “as condições biofísicas são a base da nossa sobrevivência. Sem um clima estável, não poderemos querer que as gerações futuras sejam pacíficas, democráticas e ilustradas”.
Regressamos na próxima quarta-feira, com os Pés na Terra. Se tiver comentários ou sugestões pode enviá-los para acoentrao@publico.pt ou renata.monteiro@publico.pt. Deixo-lhe, entretanto, algumas sugestões mais de leitura
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