OM recebe queixa contra presidente do colégio de Pediatria por defender a suspensão da vacinação de crianças
Grupo de 16 médicos entende que Jorge Amil Dias violou o código deontológico dos médicos ao defender a suspensão da vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos. Declarações contra a posição da Ordem não caíram bem, mas o pediatra entende não estar impedido de expressar opiniões próprias.
O pediatra Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos (OM), foi alvo de uma queixa apresentada na segunda-feira por um grupo de médicos devido a declarações prestadas sobre a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos.
O presidente do colégio de especialidade tem defendido a reapreciação da decisão de vacinar crianças saudáveis, apelando à suspensão do processo. De acordo com a CNN Portugal, o grupo de 16 médicos, que inclui pediatras e elementos do Gabinete de Crise contra a covid-19 da OM, pede ao Conselho Disciplinar da Ordem uma “avaliação de conduta” do médico.
Contactado pelo PÚBLICO, Jorge Amil Dias adiantou não ter ainda sido contactado pela Ordem a propósito de alguma queixa. “Não tenho rigorosamente nada a comentar sobre isso”, sublinhou.
Em causa estão declarações de Jorge Amil Dias, que tem levantado dúvidas quanto à relação risco-benefício da vacinação de crianças, tendo até assinado duas cartas abertas, juntamente com outros profissionais, a defender a suspensão da vacinação do grupo etário dos 5 aos 11 anos.
No entender dos queixosos, algumas das afirmações do pediatra foram feitas “sem fundamentação”, e as cartas assinadas foram prejudiciais para a acção da Ordem dos Médicos na prevenção da covid-19, além de terem confundido a população e criado hesitação nos pais em relação à vacinação dos filhos.
Nesse sentido, os médicos que apresentam a queixa entendem que pode estar em causa uma violação do código deontológico dos médicos no que diz respeito à protecção individual e de Saúde Pública.
Segundo avança a CNN Portugal, as declarações de Jorge Amil Dias não foram bem vistas dentro da Ordem. O bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, entende não fazer sentido um responsável da OM “ter posições públicas diferentes da instituição”, recordando ainda que a OM foi criticada recentemente por Marques Mendes, que disse haver duas vozes dentro da Ordem.
“Não são duas vozes, é só uma, pois o doutor Jorge Amil não fala em nome da Ordem”, esclareceu Miguel Guimarães, que considera que esta situação “tem de acabar”. O descontentamento motivou a convocação de um Conselho Nacional Executivo para discutir a situação, entre outros assuntos, disse à CNN Portugal.
Já Jorge Amil Dias sublinha ao PÚBLICO que “nunca” falou em nome da Ordem dos Médicos ou do bastonário, com quem disse ter tido uma reunião “bastante cordial” esta quarta-feira. Por outro lado, considera que a posição que ocupa não o impede de expressar opiniões próprias.
“O facto de desempenhar funções num determinado órgão não me inibe nos meus direitos de cidadania ou de profissional. Nunca assumi mais do que aquilo que sou”, defendeu ao PÚBLICO.
Jorge Amil Dias assinou uma carta aberta a 25 de Janeiro, com mais 26 profissionais, apelando à suspensão da vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos. A carta justifica o apelo com o facto de as vacinas serem consideradas “ineficazes para a Ómicron” e pede a investigação às “mortes súbitas e síncopes em jovens adultos, adolescentes e crianças” registadas no país desde o início do processo de vacinação destes grupos etários, embora não haja suspeitas de óbitos por este motivo.
A segunda carta aberta assinada do presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos foi divulgada a 3 de Fevereiro, antes do fim-de-semana destinado à administração das segundas doses a crianças dos 5 aos 11 anos. Este apelo para a suspensão do processo reuniu 91 assinaturas.
A queixa contra o presidente do Colégio de Pediatria da OM foi entregue para análise nesta segunda-feira ao Conselho Disciplinar, presidido por Maria do Céu Machado. O PÚBLICO a Ordem dos Médicos, sem sucesso.