Natalie Geisenberger, a medalha da família

A alemã tornou-se na primeira mulher a vencer a prova de luge nos Jogos de Inverno por três vezes consecutivas, elevando em Pequim a sua conta de medalhas de ouro para cinco - e ainda podem ser seis.

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Natalie Geisenberger conquistou mais uma medalha de ouro Reuters/JORGE SILVA

Para que ninguém se perca com as múltiplas modalidades de Inverno que envolvem trenós, o luge é aquela variante em que se vai de costas e de pés para a frente com a perspectiva de se poder atingir velocidades superiores a 140km/h. Na última década, ninguém tem sido melhor no luge do que Natalie Geisenberger, a polícia da Baviera que se tornou na primeira mulher a conquistar três títulos individuais consecutivos nos Jogos Olímpicos de Inverno. Aconteceu ontem, em Pequim, com uma exibição dominadora da germânica que lhe valeu mais uma medalha de ouro. Mas podia não ter acontecido. Há dois meses, Geisenberger não queria voltar aos Jogos Olímpicos.

É difícil alguém manter-se no topo de uma modalidade durante tanto tempo, sobretudo representando um país que é a principal potência — desde que o luge passou a ser olímpico, em 1964, em que se apresentou com uma equipa unificada, a Alemanha conquistou 12 medalhas de ouro em 18 possíveis, quatro delas com a bandeira da RDA. Mas é exactamente aquilo que Geisenberger tem feito desde 2008, quando conquistou a sua primeira medalha de ouro em Europeus: cinco títulos olímpicos (três individuais e dois colectivos), nove mundiais e sete europeus, para um total de 36 medalhas nestas três grandes competições em 14 anos. E outro número que prova bem o seu domínio no luge feminino: o seu total de vitórias em provas da Taça do Mundo (52) é igual à soma das vitórias de todas as suas adversárias em Pequim.

Estes Jogos de Inverno consolidaram o seu lugar na história olímpica — e ainda pode conquistar mais um ouro na prova de estafetas, em que a Alemanha é a grande favorita. Mas uma quarta participação nos Jogos (estreou-se em Vancouver 2010, com um bronze) não estava nos seus planos e nem era uma prioridade na sua vida. Depois de ter interrompido a carreira em 2019 para ser mãe (o seu filho Leo nasceu em Maio do ano seguinte), voltou à competição em 2020-21 como se nunca tivesse saído, conquistando a Taça do Mundo nessa época. Depois, veio a preparação olímpica e a germânica esteve quase para não ir.

Em Novembro do ano passado, Geisenberger esteve em Pequim para se treinar e para uma prova da Taça do Mundo, que servia como evento-teste para os Jogos. Passou vários dias em isolamento por ter sido identificada como um contacto próximo de alguém que tinha estado infectado com covid-19. Podia treinar-se sozinha, mas toda a alimentação era feita no alojamento onde estava isolada e não era adequada para atletas de elite. “Com esta experiência […] tenho de dizer, estou a pensar nos Jogos Olímpicos, se devo sujeitar-me outra vez a isto, ou não”, declarou na altura.

Muitas reuniões com o Comité Olímpico Internacional e a Federação Internacional de Luge depois, a germânica considerou que as condições eram satisfatórias para participar nos Jogos de Pequim, mas que as questões dos direitos humanos na China também entraram na equação. “Se disser que vou boicotar os Jogos, que não volto à China, haverá outra pessoa na lista dos resultados e nada vai mudar”, justificou. “Teria sido um passo muito difícil de dar, porque os Jogos Olímpicos são o maior sonho de um atleta.”

Com o que aconteceu no segundo dia da prova individual, Geisenberger não irá, por certo, arrepender-se da decisão que tomou. Um título diferente dos outros que já conquistou, porque ela é uma pessoa diferente. “É uma medalha da família”, declarou. “É difícil comparar as medalhas de ouro. Em Sochi [2014], foi a minha primeira e o meu sonho realizou-se. Depois tive Pyeongchang [2018] e repetir a vitória às vezes é mais difícil, mas consegui e foi incrível. Agora, sou mãe e campeã olímpica. Que mais posso eu dizer?”

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