Mark Zuckerberg não tem planos para sair da União Europeia

A empresa tem dito que as novas regras europeias poderiam impedir o funcionamento de alguns dos seus serviços na União Europeia.

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A Meta não tem planos de sair da União Europeia Reuters/FRANCOIS LENOIR

Várias notícias publicadas nos últimos dias dão conta que Mark Zuckerberg pondera retirar os seus serviços da União Europeia (UE) se não conseguir transferir dados livremente entre diferentes países, mas a empresa-mãe do Facebook — a Meta — diz que não tem planos para deixar a região. “Não temos quaisquer desejos ou planos de sair da Europa”, lê-se num email da empresa em resposta a questões enviadas pelo PÚBLICO esta segunda-feira.

A ideia de que a gigante tecnológica (dona do WhatsApp, Facebook, Instagram e Messenger) pode sair da União Europeia baseia-se num excerto do relatório anual da empresa para a autoridade supervisora dos mercados norte-americanos, ​a Securities and Exchange Commission (SEC).

“A nossa prestação de serviços pode ser afectada se não formos capazes de transferir dados entre os países e regiões onde operamos, ou se formos impedidos de partilhar dados entre os nossos produtos e serviços,” lê-se no relatório partilhado pela Meta na passada quinta-feira. A empresa refere-se às novas regras de privacidade que estão a ser traçadas na UE. Sem métodos claros para transferir dados entre os Estados Unidos e a UE, o documento da Meta nota que a empresa pode ser “incapaz de oferecer uma série de produtos e serviços” incluindo o Facebook e o Instagram.

Estas preocupações são uma componente habitual dos relatórios enviados à SEC desde que os reguladores europeus começaram a traçar novas leis para transferir dados através do Atlântico.

Preocupações antigas

O risco de se recorrer a servidores norte-americanos tornou-se claro para os legisladores europeus em 2020 quando o Tribunal de Justiça da União Europeia notou que era impossível assegurar a protecção dos dados pessoais enviados para os Estados Unidos, devido às regras do país. A preocupação baseia-se em legislação como a Cloud Act, uma lei federal de 2018 que permite às autoridades federais solicitar, via mandado ou intimação, que empresas tecnológicas com sede nos Estados Unidos forneçam dados em servidores estrangeiros. O Acordão Schrems II, que entrou em vigor a 16 de Julho de 2020, tornou inválido o antigo Escudo de Protecção da Privacidade (privacy shield, em inglês) que facilitava a transferência de dados pessoais entre os Estados Unidos e a União Europeia.

Com isto, a Meta e outras empresas norte-americanas são obrigadas a depender de “SCCs” (cláusulas contratuais tipo, na sigla inglesa) para o envio de dados. “As nossas SCCs têm sido sujeitas a escrutínio”, alertou a Meta no relatório de quinta-feira. “Em Agosto de 2020, recebemos um rascunho de uma decisão preliminar da Comissão Irlandesa de Protecção de Dados que concluiu que a dependência da Meta em cláusulas não respeita o Regulamento Geral para a Protecção de Dados”.

“A verdade é que a Meta, como muitos outros negócios, organizações e serviços depende de dados enviados entre a União Europeia e os Estados Unidos para oferecer serviços globais”, esclarece o porta-voz da Meta no email enviado ao PÚBLICO esta segunda-feira. “As empresas precisam de regras claras e globais para proteger os fluxos de dados transatlânticos a longo prazo.”

O esclarecimento da Meta surge dias depois das acções da empresa caírem mais de 20% com a notícia de que o Facebook, o serviço fundador da Meta, perdeu utilizadores pela primeira vez em 18 anos de existência.

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