Leituras
No centenário de Ulisses de James Joyce
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Ulisses, de James Joyce (1882- 1941), foi publicado há cem anos. Este romance foi editado pela Relógio D’Água, em 2013, com tradução de Jorge Vaz de Carvalho, que além de músico é professor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa onde se doutorou em Estudos de Cultura. Este trabalho valeu-lhe o Grande Prémio de Tradução Literária APT/SPA 2015.
Hugo Pinto Santos escreveu sobre este "grandioso romance "cuja acção se concentra num único dia: 16 de Junho de 1904. "Em Ulisses todas as peças encaixam umas nas outras — apesar de um aparente caos de estilos e técnicas. Não muitos romances formam um organismo tão interligado — não por acaso, o autor atribuiu um órgão a cada episódio que, disse numa carta, 'deixa atrás de si um campo queimado'”, defendia o crítico literário no ípsilon.
“As grandes obras em prosa do século XX são, por esta ordem, o Ulisses de Joyce; A Metamorfose de Kafka; Petersburgo de Béli, e a primeira metade do conto de fadas Em Busca do Tempo Perdido de Proust", escreveu Vladimir Nabokov. “Mais do que uma obra de um só homem, Ulisses parece de muitas gerações (…) A delicada música da sua prosa é incomparável", escreveu Jorge Luis Borges.
Ulisses
Autoria: James Joyce
Tradução de Jorge Vaz de Carvalho
Editora: Relógio D'Água
752 págs., 25€
Já nas livrarias
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Esta edição da Relógio d'Água traz um posfácio do crítico literário e biógrafo de Joyce, Richard Ellmann, onde este explica: “De maneiras diferentes, a Dublin moderna oferecia perigos comparáveis aos do mar antigo. Se nenhum deus Éolo comanda os ventos hoje, um editor de jornal pode controlar os ventos da opinião e outros vapores gasosos. Se as Sereias com as suas caudas de peixe já não cantam para os homens, a sua canção pode ainda ser ouvida em duas sensuais empregadas de bar, marulhando através da Guinness."
"Quanto ao Ciclope de olho único, que quase conseguiu matar Ulisses depois de fingir que lhe oferecia a sua hospitalidade, Joyce substituiu-o pelo ultranacionalista irlandês, igualmente incapaz de perspectiva binocular. Bloom, como Ulisses, tem de afrontar esta monstruosa xenofobia e de escapar por pouco à sua vingança. Outros elementos homéricos saltaram para o seu lugar - Circe, por exemplo, cuja transformação dos homens em porcos foi durante muitos séculos tomada como uma alegoria da luxúria. Joyce fez da deusa a madame de um bordel.” (pág. 738)
Em Julho do ano passado saiu nos Estados Unidos Your Friend If Ever You Had one: The Letters of Sylvia Beach to James Joyce, volume organizado por Ruth Frehner e Ursula Zellerde e editado pela Brill/Rodopi. Este livro reúne as cartas da norte-americana Sylvia Beach (1887-1962), dona da famosa livraria parisiense Shakespeare and Company e responsável pela publicação do agora centenário romance Ulisses, do escritor irlandês James Joyce.
Já se sabia desde 2020 que o TikTok estava a impulsionar as vendas de livros para jovens adultos, pois esta rede social é usada principalmente por adolescentes, mas com o passar dos anos vê-se o efeito também na ficção para adultos e na não-ficção. As principais tendências parecem ser o thriller juvenil, os livros de investigação sobre assassinatos, crimes e terror, mas também os romances sobre amores impossíveis e os romances históricos. O regresso dos livros de fantasia e a popularidade das temáticas LGBTQ são outras dominantes.
Nos Estados Unidos venderam-se 825 milhões de livros impressos em 2021. Estes números surpreenderam a NPD Bookscan, empresa que faz estudos de mercado na área editorial nos EUA, porque desde 2004, quando se iniciaram estas análises, este foi o ano-recorde. A culpa (além da pandemia) é do TikTok.
Esta semana chegou às livrarias
A Breve Vida das Flores, romance vencedor dos prémios Maison de la Presse e Prix des Lecteurs, da francesa Valérie Perrin, conta-nos a história de Violette Toussaint, guarda de um cemitério na Borgonha. “A sua vida é preenchida pelas confidências — comoventes, trágicas, cómicas — dos visitantes do cemitério e pelos seus colegas: três coveiros, três agentes funerários e um padre. E os seus dias pareciam ser assim para sempre. Até à chegada do chefe de polícia Julien Seul, que quer deixar as cinzas da mãe na campa de um desconhecido…”, lê-se na contracapa deste livro que chegou nesta semana às livrarias portuguesas.
A Breve Vida das Flores
Autoria: Valérie Perrin
Tradução Maria de Fátima Carmo
Editorial Presença
448 págs., 19,90€
Nas livrarias a 2 de Fevereiro
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Esta obra foi um fenómeno de vendas não só em França, mas também em Itália. Já foi adaptado ao teatro e vai ser uma minissérie. A escritora Valérie Perrin foi também fotógrafa de cena e cenógrafa, nos filmes do cineasta Claude Lelouch, seu companheiro. No Leituras podem ler alguns dos primeiros capítulos deste romance.
Polémica
Duas semanas passadas sobre o lançamento, nos Estados Unidos e em vários outros países, do livro The Betrayal of Anne Frank: A Cold Case Investigation, a editora neerlandesa Ambo Anthos decidiu suspender a impressão desta obra de Rosemary Sullivan. As conclusões foram contestadas. Sérgio C. Andrade conta-nos o que se passou com este livro, que está anunciado para ser publicado em Portugal pela Harper Collins no dia 8 de Março.
Quem Traiu Anne Frank? -A investigação que revela o segredo jamais contado
Autoria: Rosemary Sullivan
Editora: Harper Collins
416 págs., 18,70€
Nas livrarias a 8 de Março
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Também já está nas livrarias portuguesas a versão definitiva de O Diário de Anne Frank, numa edição da Livros do Brasil. “12 DE JUNHO DE 1942: Espero poder confiar-te tudo, nunca pude confiar em ninguém, e espero que venhas a ser uma grande fonte de conforto e apoio. COMENTÁRIO ACRESCENTADO POR ANNE EM 28 DE SETEMBRO DE 1942: Até agora tens verdadeiramente sido uma grande fonte de conforto para mim, assim como Kitty, a quem escrevo agora regularmente. Esta forma de manter um diário é muito melhor, e mal posso esperar pelos momentos em que te posso escrever. Oh, estou tão contente por te ter trazido!”
Assim começa O Diário de Anne Frank, que foi escrito pela jovem judia alemã, entre 12 de Junho de 1942, quando fez 13 anos, e 1 de Agosto de 1944. É um dos testemunhos mais importantes sobre a época do Holocausto.
O Diário de Anne Frank – versão definitiva
Autoria: Anne Frank
Tradução: Elsa T. S. Vieira
Editor: Livros do Brasil
472 págs., 16,60€
Nas livrarias a 27 de Janeiro
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O Diário de Anne Frank foi publicado pela primeira vez em 1947, e nos 75 anos da sua publicação a Livros do Brasil edita a “versão definitiva” do diário da jovem que depois de dois anos de reclusão num anexo ao antigo escritório do pai, a tentar escapar da perseguição nazi aos judeus, foi detida em Agosto de 1944 e morreu de tifo no campo de concentração de Bergen-Belson em Março de 1995. Além de um prefácio, esta edição tem o posfácio “O que aconteceu depois?”, a “História Editorial”, “Os habitantes do anexo secreto e os seus nomes verdadeiros”, um glossário e uma cronologia. Através de novos textos complementares, diz a editora, “os leitores têm a oportunidade de saber mais sobre o destino das pessoas que, com a adolescente autora, partilharam o cativeiro doméstico, e de conhecer melhor as circunstâncias em torno da edição póstuma do diário, entre outros detalhes históricos”.
Uma adaptação fiel a este livro é também a versão em banda desenhada de O Diário de Anne Frank, realizada pelo cineasta Ari Folman e o ilustrador David Polonsky. "Não há desvios, omissões ou novidades nesta versão, a primeira em banda desenhada autorizada pela Fundação Anne Frank", escreveu o crítico José Marmeleira sobre esta edição lançada mundialmente em celebração do 70.º aniversário de O Diário de Anne Frank. Esta foi a primeira adaptação para banda desenhada, realizada com a autorização da família e tendo por base os textos originais do diário.
Diário de Anne Frank- Novela Gráfica
Autoria:Ari Folman e David Polonsky
Tradução de Elsa T.S. Vieira
Editora: Porto Editora
160 págs., 18,80€
Já nas livrarias
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O norte-americano Dillon Helbig, que tem oito anos, escreveu a história The Adventures of Dillon Helbig's Crismis num caderno de capas vermelhas e deixou-o na estante de livros infantis de uma biblioteca comunitária onde foi com a avó. O que aconteceu depois está contado neste texto de Kellie B. Gormly, do The Washington Post.
É já na próxima terça-feira o nosso Encontro de Leituras com a escritora Ana Luísa Amaral, vencedora do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana de 2021 e que neste ano será homenageada na Feira do Livro do Porto. O livro de poesia What’s in a Name (Assírio & Alvim) é a obra escolhida pelo clube de leitura do PÚBLICO e Folha de S. Paulo para a conversa de dia 8 de Fevereiro. A sessão acontecerá no Zoom, como habitualmente, às 22h de Lisboa (19h de Brasília), com a ID 863 4569 9958 e a senha de acesso 553074.
Aqui fica o link:
https://us06web.zoom.us/j/86345699958?pwd=SXk3bkZIcFduU2JRT0Q2a0xmTWdzZz09&utm_content=Leituras
Mundo (Assírio & Alvim) é o seu livro mais recente. A recensão crítica a este livro, escrita pela professora Helena Buescu, está disponível no Leituras.
Mundo
Autoria: Ana Luísa Amaral
Editora: Assírio e Alvim
96 págs., 14,40€
Já nas livrarias
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Se não leram a entrevista que o jornalista Luís Miguel Queirós fez a Ana Luísa Amaral quando foi publicada em Julho do ano passado, vale a pena irem espreitar. Ana Luísa Amaral publicou o seu primeiro livro já tinha 33 ou 34 anos. Nesta divertida conversa publicada no Ípsilon, a autora conta que achava que não se enquadrava com o que se publicava na altura. "Pensava: ou isto é bom ou não presta. Mas a Maria Irene Ramalho, em quem confiava piamente, e confio, dizia que eu tinha de publicar, e a dada altura foi mostrar aquilo ao Alberto Pimenta, que me mandou uns cartões muito engraçados a dar-me os parabéns, com umas moscas a voar sobre uma cabeça. Mas antes ainda de organizar esse primeiro livro, preparei uma coisa que nem me atrevi a mandar à Maria Irene, porque achei aquilo muito tonto. Chamava-se Dióniso ao Pequeno-almoço e tinha poemas deste género: 'A mãe perguntou à filha: — E depois? E o pai, que era surdo, percebeu 32 e replicou, jocoso: — 33'. Outro era sobre dois exércitos inimigos que às tantas se defrontavam, mas as armaduras eram da mesma cor, uma confusão, e já não houve guerra. Poemas muito loucos, que tenho aí, mas nunca publiquei.", contou ao Ípsilon.
Até para a semana. Boas leituras.