CDU atinge mínimos históricos e perde Verdes, João Oliveira e António Filipe

Coligação perde metade do grupo parlamentar, incluindo nomes históricos. Jerónimo de Sousa acusou PS de mentir sobre OE de 2022 e de se apropriar de avanços propostos pela CDU.

Foto
Jerónimo de Sousa (CDU) EPA/ANTÓNIO COTRIM

“Quanto a resultados bons ou maus, é claro que é uma perda. Não estamos propriamente felizes, embora estejamos conscientes da dureza com que travámos esta batalha”. As palavras claras, assumindo a derrota, são de Jerónimo de Sousa, ao fazer o rescaldo eleitoral. Não era para menos. Nunca os comunistas tiveram tão poucos deputados: estavam com 12 desde 2019, e, à hora de fecho da edição, a dúvida era se o grupo de reduziria para metade ou ficaria abaixo disso. A única certeza era a perda dos dois deputados pelo Partido Ecologista Os Verdes, José Luís Ferreira (Setúbal) e Mariana Silva (Lisboa), não conseguiriam entrar no Parlamento. Deputados como João Oliveira e António Filipe também ficaram de fora.

Jerónimo de Sousa entrou na sala debaixo de um forte aplauso, apesar do clima pesado que se fazia sentir no hotel Sana Metropolitan, a escassos metros da sede do PCP, na rua Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa. A noite não estava para grandes festas e o secretário-geral comunista, com os resultados por fechar, assumia que a CDU não conseguiria mais do que sete deputados, concedendo que pudessem ser seis (à hora de fecho, só estavam confirmados cinco). “Creio que é uma perda significativa”, referia.

Entre as perdas, a coligação tem baixas de grande peso, a começar pelo seu líder parlamentar. Pela primeira vez, os comunistas não conseguiram eleger por Évora, o que atira João Oliveira, que estava no Parlamento desde 2005 e que, perante as baixas do partido, assumiu grande parte desta campanha eleitoral, para fora do hemiciclo. Outra perda significativa é a de António Filipe, que era candidato por Santarém. O comunista, que nesta campanha desferiu um dos mais directos ataques à extrema-direita, estava no Parlamento desde 1987.

Jerónimo de Sousa falou cedo, pouco depois das 22h, quando o cenário de maioria absoluta do PS ainda não era claro. O líder comunista ainda não tinha ligado a António Costa, mas mostrava-se disponível para uma “convergência de futuro”.

Ao olhar para os resultados eleitorais e para o tombo da coligação, Jerónimo de Sousa mantinha que os comunistas não se arrependem de ter sustentado governos do PS até aqui. “Conseguimos coisas de grande significado”, referiu, enumerando os ganhos alcançados, como os manuais escolares gratuitos, creches gratuitas ou redução do passe, tal como fez durante a campanha. O problema é que a CDU viu-se confrontada com a “descarada acção de o PS se apropriar dos avanços alcançados”. Outro dos motivos encontrados pelo líder comunista é a “insistente mentira da responsabilidade do PCP e do PEV pela realização de eleições a propósito da rejeição da proposta de OE para 2022”.

A bipolarização na campanha não ajudou. “O PS quis aproveitar-se desta situação para aproveitar uma fuga, com uma porta aberta pelo próprio Presidente da República”, apontou. António Costa acabou por beneficiar desse clima, “apesar da sua postura de fuga às respostas necessárias ao país”.

No final, uma reflexão sobre o crescimento da extrema-direita no Parlamento. Resolvam-se “os problemas sociais que afligem os portugueses, designadamente no plano da protecção social, no apoio aos mais desfavorecidos, no combate à pobreza infantil e vão ver que essa força [política] diminuirá significativamente”, disse o líder comunista.

“A luta continua”, gritavam os militantes em coro, de bandeiras em punho, enquanto Jerónimo de Sousa ia abandonando a sala do hotel. Continua, mas, a partir daqui, com metade dos deputados e uma maioria absoluta do PS pela frente.

<_o3a_p>

Sugerir correcção
Ler 24 comentários