CDS fica fora do Parlamento e líder demite-se

Francisco Rodrigues dos Santos lembrou que “não teve tréguas dos opositores” nos dois anos de liderança.

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EPA/MANUEL DE ALMEIDA
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O CDS-PP não conseguiu eleger qualquer deputado, o que acontece pela primeira vez em 47 anos de democracia, configurando uma derrota sem precedentes. O partido, que é fundador da democracia e que chegou a ter 42 deputados, chumbou nesta sua prova de vida. Francisco Rodrigues dos Santos pediu a demissão da liderança do partido, admitindo uma “concorrência mais apertada à direita”.

“Nestes dois anos em que liderei o CDS as circunstâncias não foram nada fáceis. Não posso deixar de dizer que herdei um partido falido financeiramente”, disse, lembrando que a campanha foi feita “sem financiamento da banca”. Francisco Rodrigues dos Santos apontou ainda como justificação para os resultados a pandemia e a vida conturbada do partido: “Nunca tive tréguas dos meus opositores”.

Assumindo “a responsabilidade pelos resultados”, o líder do CDS disse ainda que o CDS foi “vítima de bipolarização”.

No momento de assumir a derrota, Francisco Rodrigues dos Santos desceu à sala onde estão os jornalistas, acompanhado por alguns dirigentes e pela mulher. Na sua intervenção, começou por saudar o PS pela vitória “inequívoca desta noite” e disse prestar o seu tributo a todos os militantes que se “empenharam” na campanha.

“Sei bem com quem contei, aqueles que estiveram presentes, que não viraram as costas e nas eleições mais exigentes souberam estar ao lado do CDS nas ruas de Portugal”, disse. “É mau em dois sentidos: porque confirma o caminho do socialismo para Portugal, defendemos um caminho diferente, uma AD mobilizadora para derrotar o socialismo. Infelizmente não foi essa a estratégia que teve provimento. É um mau resultado para o CDS que ao final de 47 anos perde a sua representação parlamentar, perde por múltiplas razões que não queria dissecar”, afirmou.

“Quero assumir a responsabilidade destes resultados. O meu partido será sempre o CDS. Deixei de reunir condições para continuar a liderar o partido e apresentei ao presidente do conselho nacional a minha demissão”, disse.

“O CDS não morreu, continua vivo. Está na governação da Madeira, nos Açores e governa em coligação 50 câmaras”, referiu.

A dimensão da estrondosa derrota estava abaixo das expectativas dos mais próximos da direcção depois das últimas semanas de campanha e dos debates televisivos em que a prestação do líder, Francisco Rodrigues dos Santos, deu algum alento aos seus apoiantes. Como símbolo da ameaça de extinção do CDS, um homem sozinho colocou uma coroa de flores no banco em frente à porta de entrada da sede do partido, tendo sido prontamente recolhida por uma apoiante.

Depois de dois anos de vida interna conturbada, Diogo Feio foi a única voz a ouvir-se e foi duro ao admitir o fim do partido. “No dia em que todos os partidos não socialistas podem aumentar percentagem e número de deputados o CDS cai em todos os indicadores. Será a altura de com seriedade e dignidade fazer uma reflexão no próximo congresso. Que rupturas fazer? Qual o caminho possível, se é que há? O que faz sentido? Tudo poderá e deverá, com dignidade institucional, estar em aberto”, escreveu no Facebook.

Nuno Melo, o challenger de Francisco Rodrigues dos Santos, ficou em silêncio.

Na memória dos centristas está a noite das legislativas de 2019 – lembrada como a mais curta de sempre – em que Assunção Cristas demorou pouco tempo a perceber a pesada derrota do partido e pediu a demissão, abandonando logo de seguida a sede do CDS. Nessa altura, o partido regressava aos 4% que já tinha sofrido no tempo em que Cavaco Silva liderou o PSD.

Já Francisco Rodrigues dos Santos, que sucedeu a Cristas em 2020, esperou até ao fim para saber se conseguia ser eleger um deputado – que podia ser o próprio, cabeça de lista por Lisboa.

Ao longo da noite, a sala onde estavam instalados os jornalistas para a acompanhar os resultados esteve quase sempre vazia, a plateia só se compôs para ouvir o vice-presidente Pedro Melo comentar as projecções que apontavam para uma vitória do PS. Poucos foram os apoiantes que acorreram à sede do partido e só quando o líder do CDS se preparava para assumir a derrota a sala se compôs e se ouviram palmas. De resto, ao longo da noite, o silêncio só foi interrompido pelo som do televisor instalado na sala.

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