Líder golpista no Burkina Faso não se compromete com data para eleições democráticas
Dias depois do derrube do Presidente Roch Kaboré, o tenente-corenel Paul-Henri Damiba falou pela primeira vez em público. Organismo regional da África Ocidental vai debater possíveis sanções.
O líder do golpe militar no Burkina Faso dirigiu-se, esta sexta-feira, pela primeira vez ao país sem mencionar qualquer horizonte temporal para a reposição da ordem constitucional. O tenente-coronel Paul-Henri Damiba falou no mesmo dia em que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) decidiu suspender o país, por causa do golpe militar.
Ao lado de bandeiras nacionais e vestido em uniforme militar, o tenente-coronel Paul-Henri Damiba, fez a primeira declaração oficial na sequência do derrube do Presidente Roch Marc Kaboré, no início da semana. “Quando as condições foram as certas, de acordo com o prazo que o nosso povo irá definir em toda a sua soberania, comprometo-me com o regresso da ordem constitucional”, afirmou.
Não foram dados mais pormenores quanto ao roteiro proposto pelos militares para que sejam marcadas eleições ou para que órgãos como a Assembleia retomem a sua actividade.
No domingo, militares rebeldes organizaram motins em várias instalações militares e, durante a noite, detiveram Kaboré no palácio presidencial de Ouagadougou. O Presidente, no poder desde 2015, era já muito criticado pela falta de progressos no combate aos grupos terroristas que actuam no país e são responsáveis por dezenas de ataques nos últimos anos.
Damiba garantiu que a segurança será “principal prioridade” da junta que agora ascende ao poder. “Devemos reduzir significativamente as áreas sob influência terrorista e o impacto do extremismo violento dando às forças de segurança a vontade de combater, e devemos continuar na ofensiva”, declarou o militar.
Pediu ainda o apoio da “comunidade internacional” para ajudar o Burkina Faso a sair da crise em que se encontra, embora não se tenha referido especificamente a França, país que nos últimos anos tem liderado uma força militar na região do Sahel para combater os grupos terroristas. Esta presença da antiga potência colonial é cada vez mais impopular na região.
O golpe foi condenado de forma unânime por várias organizações internacionais, como a ONU ou a CEDEAO. Os líderes da organização regional decidiram esta sexta-feira, em reunião de emergência virtual, além de suspender o Burkina Faso (o terceiro país a conhecer a mesma sanção nos últimos 18 meses pela mesma razão), enviar uma delegação a Ouagadougou nos próximos dias.
A região do Sahel tem sido palco de sucessivos golpes militares nos últimos anos, ancorados nos problemas de segurança. O Mali e a Guiné-Conacri viram os seus governos democraticamente eleitos derrubados em golpes idênticos, em Agosto de 2020 e Setembro do ano passado, respectivamente. Na altura, a CEDEAO suspendeu ambos os países e aplicou-lhes sanções económicas.
Apesar de os líderes das juntas militares nos dois países terem nomeado governos interinos e prometido marcar eleições democráticas, a situação tem-se mantido em ambos. No Mali chegou a haver eleições marcadas para Fevereiro, mas as autoridades militares recuaram e agora ponderam adiá-las por vários anos.