Cerveja portuguesa produzida com água reciclada vence prémio europeu de inovação
A cerveja Vira conquistou o Water Reuse Europe 2021 Innovation Prize. Mas não vai ser fácil bebê-la: não por ter na sua base águas residuais, mas porque é concebida como “um projecto de comunicação”, sem venda nem disponibilização ao público.
A Water Reuse Europe, organização que reúne, entre outras, várias instituições e empresas ligadas à distribuição, estudo de águas ou sustentabilidade, anunciou o vencedor absoluto do seu prémio para a inovação na reutilização de águas: a cerveja portuguesa Vira, produzida com água reciclada.
A cerveja resulta de um projecto, baptizado de Vira, “criado pela Águas do Tejo Atlântico”, a empresa responsável pela gestão e exploração do sistema multimunicipal de saneamento de águas residuais da Grande Lisboa e Oeste, juntamente com a Moinhos Água e Ambiente, especialista em tecnologias e soluções para o tratamento de águas, e a Cerlix, que é a produtora da cerveja artesanal Lince.
O projecto, informa-se em comunicado, é mais uma “iniciativa de comunicação” do que uma cerveja que estará à venda ao grande público. Insere-se num plano de divulgação de “implementação de boas práticas ambientais, na utilização racional da água e o seu aproveitamento depois do tratamento para reutilização”, seja “com aptidão para rega de espaços verdes”, seja para “lavagem de ruas e na indústria”.
O certo é que a cerveja existe e, diz-nos o gabinete que faz a comunicação do projecto Vira, pode ser provada sem problema nenhum. Mas não está nem estará à venda ou à disposição do grande público, existindo apenas algumas amostras para convidados e/ou especialistas. “A ideia é mesmo consciencializar as pessoas que a água reciclada pode ter outros fins, como a produção de cerveja”, explicam-nos.
Segundo se especifica na apresentação da cerveja e do projecto Vira, é “uma cerveja artesanal fabricada a partir de água+ (água reciclada), com tratamento complementar através de ozonização e osmose inversa”. “100% segura”, garante-se: no site da Águas do Tejo estão disponíveis as análises laboratoriais da cerveja, onde surge o atestado de “amostra bacteriologicamente própria”.
A criação de uma cerveja a partir de água reciclada, indica-se, faz parte dos planos de mostrar como a “reutilização de água” pode ser usada das mais variadas formas e é também “determinante para enfrentar as alterações climáticas e os seus factores extremos associados – seca prolongada e inundações”.
E na lista de ingredientes lá está: além de sublinhar no rótulo “ingredientes 100% naturais”, incluem-se entre estes malte de cevada, milho, lúpulo, levedura e, claro, “água reciclada”. A cerveja, uma “Blonde” com 5% de teor álcoolico, já tinha sido apresentada em 2019 e um vídeo das Águas do Tejo explica o processo e projecto:
A organização responsável pelo prémio de inovação na reutilização de águas, a Water Reuse Europe, apresenta-se como uma associação internacional sem fins lucrativos que “apoia, assiste e representa os seus membros” enquanto “promove o sector da reutilização da água como uma opção eficaz para uma gestão sustentável e resiliente da água”. Na sua apresentação lista 21 membros, incluindo distribuidoras e gestoras de águas na Europa (em Portugal, apenas é membro a Águas do Tejo), empresas dedicadas ao tratamento e à reutilização de águas, mas também instituições de investigação e formação como a Università Politecnica delle Marche (universidade pública em Ancona, Itália).