Testes PCR com recolha de saliva dão salto na procura em Janeiro, mas ainda são uma minoria

Percentagem de testes com recurso a este método varia entre os 1% e os 10% nos principais laboratórios.

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Em vez do recurso à zaragatoa, os testes PCR podem ser feitos com amostra de saliva, mas poucos os procuram Nelson Garrido

São menos incómodos e são fiáveis, mas os testes PCR à covid-19, com recurso a uma amostra de saliva, ainda são muito pouco procurados pelos portugueses, apesar de os principais laboratórios de testagem os disponibilizarem há vários meses. A Direcção-Geral da Saúde (DGS), que desde o final de Fevereiro do ano passado incluiu esta metodologia na Estratégia Nacional de Testes para o SARS-CoV-2, veio esta semana precisar que este tipo de testes também pode ser utilizado no rastreio de contactos, referindo, na actualização à norma sobre esta matéria, que “na realização de testes laboratoriais moleculares (TAAN), nomeadamente em crianças, podem ser utilizadas amostras de saliva, em alternativa às amostras do tracto respiratório”.

Falta saber se esta actualização fará crescer a procura destes testes, que, nas últimas semanas, segundo laboratórios questionados pelo PÚBLICO, já têm sido mais solicitados. O enorme aumento do número de casos, sobretudo entre crianças, poderá explicar esta subida da procura deste método, embora ele não seja exclusivo para os mais pequenos.

A Unilabs, que oferece a possibilidade de testes PCR com recurso à amostra de saliva “há cerca de dez meses”, afirma que, “nas últimas duas semanas”, entre “6% a 8% dos testes” realizados recorrem à colheita salivar, um valor que antes disso “era menor”. A Synlab, que tem este método disponível desde que a DGS o incluiu na estratégia nacional de testagem, também detectou um aumento considerável da procura nas últimas semanas. “Durante o ano passado, as amostras de saliva em testes PCR representaram cerca de 3% do total de amostras para o SARS-CoV-2 analisadas. Durante o presente mês de Janeiro verificou-se uma maior procura, o que provocou um aumento para cerca de 10%”, explica, em resposta escrita enviada ao PÚBLICO, a directora médica deste laboratório, Laura Brum.

Já o laboratório Germano de Sousa refere que só começou a disponibilizar este método “há cerca de quatro meses” e a procura tem sido mínima: “1% a 2% dos testes” recorrem a este método. “Raríssimos adultos procuram o teste feito na saliva”, refere ainda o laboratório, explicitando que estes são solicitados sobretudo por “pais com crianças relutantes à zaragatoa”.

A situação tem sido um pouco diferente na Synlab, com Laura Brum a garantir que a procura tem sido “muito diversificada, desde crianças a adultos, por ser um método mais cómodo e menos agressivo”. A Unilabs também confirma que não são apenas as crianças a usufruir deste método. “A procura é mais vocacionada para crianças, havendo também adultos que pedem para que seja este o método de colheita, por dificuldade manifesta na realização do teste tradicional”, explica o laboratório.

Tal como os testes PCR que recorrem à zaragatoa nasal, aqueles que usam uma amostra de saliva são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde (desde que prescritos por ele). E ao nível da sua eficácia — a saliva só é utilizada em testes PCR — também não parece existir uma diferença considerável. Laura Brum, da Synlab, garante: “Diversos estudos, tanto nacionais como internacionais, comprovaram que o teste PCR Saliva apresenta uma sensibilidade semelhante à dos actuais testes com amostras de exsudado nasofaríngeo.”

Também os laboratórios Germano de Sousa argumentam que “a fiabilidade é praticamente a mesma, dada a excelente sensibilidade deste método”, enquanto a Unilabs afirma que “a amostra de saliva pode ter menor sensibilidade face à amostra nasofaríngea”, lembrando que exige alguns cuidados que não estão presentes, quando se recorre ao mais habitual método de inserir a zaragatoa nas narinas.

Quem vai fazer um PCR com recolha de amostra de saliva não pode comer, beber ou fumar e deve lavar a boca com água num determinado período de tempo antes da realização do teste — a Synlab fala em 30 minutos, a Unilabs em uma hora. O método também não é indicado para crianças com menos de 4 anos, refere a responsável da Synlab, por se estimar que elas tenham “mais dificuldade em salivar”.

A Task Force da Testagem, coordenada pelo presidente do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), Fernando Almeida, salienta que os testes “TAAN/PCR realizados em amostras de saliva não são exclusivos para crianças, mas válidos para contextos específicos, em que se aconselhe tecnicamente a sua utilização, independentemente do factor idade”. A mesma fonte lembra ainda que a utilização deste método de testagem já está prevista pela DGS desde Fevereiro do ano passado e que “não são recomendadas amostras de saliva” para a realização de testes antigénio (ou autotestes), pelo que a sua utilização se cinge aos testes TAAN/PCR.

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