Maus Hábitos e o desenvolvimento (trans)pessoal

Basta ouvir um episódio de Maus Hábitos e o nosso mundo abana, juntamente com as nossas crenças - e, diria até, com os olhos que escolhemos usar para ver o mundo à nossa maneira.

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Melanie Pongratz/Unsplash

Fala-se muito sobre o desenvolvimento pessoal e o que não faltam são livros, palestras, vídeos de Ted Talks inspiradoras, posts virais de Instagram e frases cliché que alavancam a evolução moral e humana de qualquer pessoa. Nunca foi tema que tivesse curiosidade em explorar, até me terem apresentado a dupla Martim e Zagalo e o seu podcast Maus Hábitos.

Ao ouvir o primeiro episódio – O Jogo do Ego – percebi que este não era só um podcast sobre desenvolvimento pessoal. Em cada episódio existe um debate sobre um livro ou um tema, com pinceladas extravagantes sobre as nuances da vida, do ser humano, da psicologia, da filosofia, da vida que todos vivemos e da vida que vive em todos nós.

Desde o caloroso “Hey, hey, hey!” com que o Martim – músico e fotógrafo – nos cumprimenta no início de cada episódio, até às metáforas brilhantes e reflexões profundas do Zagalo – psicólogo e explorador da mente – sobre os assuntos com que todos lidamos, mas nos quais nunca pensamos, tudo o que é falado, explicado e - mais importante, questionado - neste podcast rasga por completo as membranas mentais que nos cegam e ensina-nos a observar a vida como ela é.

A fluidez com que dançam nas suas conversas permite-lhes afastarem-se muitas vezes do tema do episódio, viajar por galáxias distantes e concluírem, com aprumo e distinção, o assunto que decidiram explorar, como quem coloca um laço num embrulho de forma a dar-lhe mais sentido. Nunca nos falam do alto de um pedestal, a tentar ensinar-nos a ser melhores. Pelo contrário: ouvi-los é senti-los a sentarem-se à nossa mesa, enquanto partilhamos um chá e falamos sobre a condição de se ser humano e a origem da vida, testando a vaidade de fazer acontecer e questionando quando não funciona. Extravagantes? Talvez um pouco. Necessários? Absolutamente.

Esta dupla presta-se a testar, em primeira mão, técnicas e vivências de desenvolvimento pessoal e convida-nos a sentar na primeira fila para assistir aos erros e às frustrações, enquanto nos deslumbram com as conclusões que eles próprios vão tirando. Não nos dizem “Isto deve ser feito”, mas sim “E se fizéssemos isto?”. E nós, meros ouvintes, embarcamos nessa viagem com eles, desbravando e inaugurando novos caminhos, enquanto vamos plantando flores na berma das estradas e auto-estradas que temos dentro da cabeça.

Esta dupla aterrou na minha vida a pés juntos e, sem saber, trouxe uma parafernália de instrumentos que utilizei para mudar a minha vida: uma borracha para apagar tudo o que achava saber, um lápis para redesenhar aquilo que eu achava não poder ser redesenhado, uma lima para limar as arestas da alma que andava aguçada e uma chave mestra para abrir portas que eu nunca imaginei abrir. Com eles, aprendi o que é o ego, a força de manter um bom hábito no quotidiano, os porquês de pensar como penso, as razões de querer ir mais além. Aprendi a observar a beleza filosófica que existe num prato de comida e o que a matemática tem em comum com a música. Aprendi a olhar para o universo e para a graça de estar viva como quem olha para um passarinho a pousar no ramo de uma árvore. Momentos fugazes que plantam uma semente no nosso cérebro: sem darmos conta disso, uns dias depois, estamos a observar o mundo com outros olhos, enquanto replicamos incessantemente as palavras proferidas por esta dupla.

Honestamente, sinto que nunca ninguém está preparado para os ouvir. Sentamo-nos no sofá, com um chá ou um copo de vinho, pensamos que vamos só ouvir um podcast sobre desenvolvimento pessoal e acabamos a noite de pernas esticadas, cabeça caída no braço do sofá, copo de vinho derramado sobre o corpo, sem perceber muito bem que viagem acabámos de fazer. Estamos na Terra? No universo? Num espaço transpessoal? No centro da nossa alma? Não sabemos. Recompomo-nos, respiramos fundo e assumimos a lição que acabámos de aprender. E o melhor de tudo? Esta tareia mental pode ser replicada quantas vezes quisermos. Basta ouvir um episódio de Maus Hábitos e o nosso mundo abana, juntamente com as nossas crenças - e, diria até, com os olhos que escolhemos usar para ver o mundo à nossa maneira.

O meu conselho é este: respirem fundo, carreguem no play, apertem os cintos e abracem esta sensação de descolar da Terra rumo à estratosfera, sempre mais além. E quando acharem que já chegaram além, segurem-se mais um pouco: com este podcast vai-se sempre mais longe.

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