Martin Ernstsen: “Senti que Fome poderia ser um romance autobiográfico”
O desafio era grande, mas o norueguês meteu canetas à obra e adaptou, ao modelo de novela gráfica, o clássico de Knut Hamsun Fome — para muitos o começo da literatura moderna. Ousou no grafismo e arriscou na escolha dos episódios. Pelo meio ainda criou uma controvérsia ao dar nome ao protagonista.
Publicado originalmente em 1890, Fome, do norueguês Knut Hamsun, depressa se tornou num romance de referência e num marco que, para muitos, assinala o começo da literatura moderna — tendo influenciado inúmeros escritores do século XX, desde Kafka a Paul Auster, passando por John Fante, entre outros. Nele se conta a história de um jovem que caminha solitário e sem rumo pelas ruas de Kristiania (a actual Oslo) — “essa cidade curiosa donde ninguém parte sem levar consigo uma marca indelével”. Vagueia tomado pela miséria, enregelado de frio e tolhido pela fome. Não tem nome, casa ou trabalho, e veio para a cidade, aparentemente, para escrever. Quase que chega a enlouquecer (ou enlouquece mesmo): os dias são iguais, ele deambula perdido num labirinto de preocupações para conseguir pagar a renda do quarto e demanda continuamente pela refeição seguinte. Chega a falar para si mesmo em voz alta, em público. As roupas começam a assemelhar-se a andrajos. Mente sem motivo, apenas porque lhe apetece; mentira e verdade são para ele já a mesma coisa, não crê em nada, a fome (que é também existencial) parece levá-lo para um caminho de escuridão.
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