110 Histórias, 110 Objectos: o analisador de gases portátil
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.
No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 30.º episódio do podcast, conhecemos um analisador de gases portátil.
Hoje em dia é relativamente simples e rápido medir os compostos químicos no ar, por exemplo, em parques de estacionamento e em fábricas, recorrendo a aparelhos electrónicos. O cenário, contudo, era completamente diferente em 1873, ano em que Louis Hengist Orsat (1837-1882) patenteou o chamado “equipamento de Orsat” e criou um método universal de determinação da composição da mistura de gases no ar.
Uma versão do analisador de gases portátil tem lugar de destaque no espólio do departamento de Engenharia Química do IST, tendo integrado o conjunto inicial de equipamentos que terão equipado os laboratórios do Técnico desde o seu início. Este equipamento, apresentado por Moisés Pinto, professor do departamento de Engenharia Química do Instituto Superior Técnico, “é totalmente construído em vidro, com umas mangueirinhas de borracha e umas torneirinhas, portanto não tem electrónica nenhuma”. Foi inventado para determinar a composição de misturas de gases. O seu aspecto visual “entra muito naquilo que é o imaginário, digamos assim, comum das pessoas quando pensam num laboratório de química”: tem uma sequência de ampolas com torneiras, todas dentro de uma caixa de madeira, que também serve de mala de transporte, que “dá assim um ar um bocadinho desafiante e intrigante para quem o vê e não sabe o que é”. O equipamento é totalmente portátil, o que lhe permitia a análise de gases junto do sítio onde estavam a ser emitidos.
O método do analisador de gases baseia-se na medição da diferença de volume do gás depois de contactar com diferentes soluções. “Ou seja, nós temos um volume inicial que depois de contactar com uma solução é reduzido por exemplo para metade e aí consigo saber que metade daquele gás era por exemplo dióxido de carbono”, explica Moisés Pinto. “A novidade deste equipamento é fazer logo a determinação do teor de quatro gases diferentes. Pegar na mesma amostra de gás e sequencialmente a mesma amostra ser passada por diferentes buretas, e conseguimos ter uma determinação mais rápida do teor de gases”, complementa.
O analisador de gases permitia ganhar tempo nas medições, mas também inseriu a importante característica da reprodutibilidade. “Tornou-se um equipamento bastante comum, que na altura se usava para fazer estas medições, e que permitiu também comparar as medições que eram feitas em diferentes laboratórios”, explica.
Utilizado até pelo menos à década de 1960, deu entrada no acervo de equipamentos do departamento em 1995, tendo também sido usado para ensinar os alunos a analisar gases. Antes disso, esta tecnologia serviu e deu bases para as tecnologias actuais para funções cruciais como a análises dos gases expelidos por fábricas, da existência de atmosfera perigosa em cidades muito poluídas ou parques de estacionamento e até da análise de fumos dos escapes de automóveis. Algumas dessas análises podem, no limite, salvar-nos a vida.
Nos dias de hoje, as técnicas analíticas para fazer este tipo de medições são completamente diferentes e baseadas essencialmente em equipamentos electrónicos. “Eu diria que o princípio de medição é também químico, ou seja, existe ali uma interacção entre aquelas moléculas daquele gás e algum detector ou algum processo que faz a separação dessas moléculas para depois serem quantificadas”, argumenta Moisés Pinto. “Nós hoje em dia confiamos muito em sensores que produzem sinais eléctricos e depois podemos processá-los e daí inferir, sobre neste caso, a composição dos gases. Naquela altura isso não acontecia. Estamos a falar de equipamentos que tinham que confiar em medidas físico-químicas muito básicas”, remata.
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.
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