Apesar do sol de Inverno, campanha do Chega arrefeceu na Sertã

Arruada no distrito de Castelo Branco foi curta e com poucas interacções. André Ventura deseja que “CDS não desapareça” nas eleições legislativas.

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Arruada do Chega na Sertã LUSA/PAULO NOVAIS

Ao contrário do que tinha acontecido este domingo, no arranque oficial da campanha eleitoral, a tarde desta segunda-feira não foi fértil em interacções para a comitiva de André Ventura. A cerca de dez minutos da hora marcada para a arruada do Chega na Sertã, eram poucos os que ocupavam a Praça da República, local escolhido para a concentração.

Acompanhada pelo pai, Maria Duarte, foi a primeira a chegar ao ponto de encontro. Confessando que tem uma divisão em casa decorada com artefactos do Chega – nos quais se incluem posters de André Ventura nas paredes –, a empresária agrícola virou costas ao CDS em 2019 para se juntar ao eleitorado do partido populista.

“O CDS não chegava, não tinha aquela garra que eu acho que o André Ventura e o Chega têm. Identifico-me mais com eles”, adianta, considerando “um exagero” as acusações de racismo e xenofobia dirigidas ao partido. Responsável por uma empresa familiar de produção de leite de cabra, Maria Duarte identifica-se com André Ventura nos argumentos da falta de mão-de-obra em vários sectores, mas reconhece que os patrões têm de ser impedidos de explorar os trabalhadores migrantes, especialmente na actividade agrícola. “Isso tem de ser proibido, [os patrões] não podem explorar as pessoas. Têm de ser justos. Mas também se os patrões fazem isso é porque a empresa não dá para pagar [melhores salários]”.

Enquanto Maria Duarte aguardava a chegada de André Ventura, duas dezenas de jovens com mochilas às costas sentaram-se na escadaria da Praça da República. Prontamente, um responsável do partido distribuiu bandeiras pelos menores. “Quero ver todos de pé quando chegar o André Ventura”, dirigia. Depois, questionava: “Vocês são da Juventude do Chega? Não? A responsável vai estar cá hoje. Venham para a juventude, estamos a precisar de jovens”, instava.

Um pequeno grupo de alunos mantinha-se mais afastado e sem bandeiras na mão. “Alguns são nossos colegas de escola, outros não sabemos quem são. Os que conhecemos estão só aí para tirar selfies e fazer memes”, confessou um dos rapazes.

A arruada foi acompanhada por cerca de 40 militantes, mas as ruas vazias obrigaram o líder do Chega a entrar dentro de alguns estabelecimentos para criar contacto com a população local. Os poucos contactos com transeuntes envolveram, em alguns dos casos, membros da própria comitiva – ou familiares destes –, dispersados ao longo do percurso.

Pouco antes de chegar ao ponto final do encontro, uma jovem com uma bandeira arco-íris às costas confrontou a comitiva à distância. Helena Batista, natural da Sertã, sentiu a necessidade de “tomar posição” contra a presença de André Ventura na vila. “Foi uma tomada de posição. É inadmissível não respeitarem as relações entre pessoas do mesmo género. Cada um merece ter os mesmos direitos, independentemente de quem gostamos”, resume em tom de desafio.

O evento terminaria em 30 minutos, com André Ventura a seguir viagem para Lisboa, onde se realiza a partir das 21h o debate com todos os candidatos às eleições legislativas.

"Espero que o CDS não desapareça"

Antes de se colocar a caminho do debate, André Ventura respondeu às críticas de Francisco Rodrigues dos Santos. O líder do CDS acusou alguns partidos de copiarem algumas das “bandeiras” defendidas pelos centristas há vários anos. Ventura diz que o CDS se deixou ultrapassar e que, ao contrário do que afirma “Chicão”, são os centristas a copiar o Chega.

“O CDS acordou agora, a poucos dias das eleições. Quis ser o PSD número dois, com Assunção Cristas, quis tornar-se o partido que nem era carne nem peixe. Esqueceu-se do mundo rural, alinhou na história do racismo contra todos os outros e do politicamente correcto. Agora, viu o crescimento do Chega e quer imitar-nos no estilo e na forma. Não é por acaso que o CDS passou para zero vírgula qualquer coisa nas sondagens e o Chega está quase nos 10%. É sinal de que as pessoas já perceberam que há um original e há uma cópia: neste caso o original é o Chega e a cópia o CDS”, responde Ventura.

Apesar do ataque, o candidato do primeiro-ministro diz que não quer um cenário de desastre total para os centristas:"Espero que o CDS não desapareça. Não é um voto cínico, toda a direita faz falta. Mas se desaparecer é por culpa sua.”

O líder do Chega aproveitou a visita à Sertã para garantir que o interior do país é uma das prioridades para o partido. “É preciso atrair investimento e fixar pessoas no interior”, reitera, defendendo um pacote fiscal de incentivos para as empresas e bonificações para as famílias. Uma das propostas passa por alocar 2,5% do Orçamento do Estado para investimento no interior: “Estamos abertos, tal como disse no debate com o doutor Rui Rio, a analisar o que será possível ou não.”

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