Futuro da carreira de Djokovic em suspenso por causa de vacina
A revogação do visto de permanência na Austrália pode ter sequelas graves para o tenista. Opção por não se vacinar já lhe fechou a porta a vários países onde se realizam alguns dos principais torneios do mundo e um patrocinador quer “falar” com o sérvio.
As reacções à decisão do ministro australiano da Imigração, Alex Hawke, de deportar Novak Djokovic - confirmada por um tribunal - não param. Considerada por muitos como sendo unicamente política, ela era apoiada pela opinião pública - cerca de 80% dos australianos estavam a favor da deportação do tenista de acordo com várias sondagens. Segundo o jornal australiano The Age, “a reputação da Austrália, do estado de Victoria, de Melbourne e do Open da Austrália foi uma vítima colateral”. Já para o principal diário sérvio, Informer, “Novak foi expulso como se fosse um criminoso”.
Tão ou mais grave do que a ausência do tenista sérvio do Open da Austrália é o risco que este corre de ver serem-lhe fechadas as portas de países onde se realizam alguns dos principais torneios do mundo se não aceitar vacinar-se, para além da insatisfação de alguns dos seus patrocinadores, com pelo menos um deles a ter revelado já desconforto com a má publicidade oferecida por Djokovic.
Entre os jogadores, as opiniões divergem, com aqueles que estão em acção no torneio a serem cautelosos, como Rafael Nadal: “Estou um pouco cansado deste assunto. Quando ele ganhou o primeiro recurso, disse que a justiça falou. Ontem [domingo], a decisão foi diferente. Nunca irei contra o que a justiça diz.”
Os mais próximos do jogador, caso dos seus compatriotas sérvios, manifestam maior solidariedade, mas os antigos campeões e hoje comentadores, não hesitam em apontar o dedo a Djokovic.
“Dou muito mérito a Novak por ter tentado, mas, ao mesmo tempo, ele sabia que as regras obrigam a que seja vacinado. Penso que é justo porque milhões de pessoas morreram devido ao covid, a Austrália tem estado em confinamento quase o tempo todo e os australianos têm sofrido mental e fisicamente como ninguém”, afirmou o ex-número um do mundo, Mats Wilander.
O campeão sueco adianta mesmo que o juiz que decidiu retirar o visto ao sérvio pode ter alterado a história do ténis e Djokovic pode não conquistar mais nenhum torneio do Grand Slam e manter-se empatado com Nadal e Roger Federer. “Agora, há uma boa hipótese de os três terminarem com 20 Grand Slams o que seria espantoso. Mas também sei que ele é um guerreiro e vai treinar-se duramente. A questão é saber se vai conseguir viajar pelo mundo”, disse Wilander, agora comentador no canal Eurosport.
Segundo a lei australiana, Djokovic não poderá regressar ao país nos próximos três anos, excepto se o Ministro da Imigração aceitar uma justificação convincente e compassiva, a ser avaliada no momento.
No calendário do tenista, o próximo torneio previsto é o Dubai Duty Free Tennis Championships, com início a 21 de Fevereiro. Segundo um porta-voz do evento, todos os jogadores terão que apresentar um teste PCR para entrarem nos Emirados Árabes Unidos.
Em França, onde em Maio vai realizar-se o próximo torneio do Grand Slam, Roland Garros, foi aprovado no domingo o passe vacinal – que limita a entrada em cinemas, centros comerciais ou recintos desportivos aos cidadãos com um calendário de vacinação completo com três doses, ou duas doses com uma cura certificada da doença nos últimos seis meses.
“Isto aplica-se a qualquer pessoa, seja espectador ou atleta”, referiu a ministra do Desporto, Roxana Maracineanu, que acrescentou: “Em relação ao torneio, é em Maio. A situação pode mudar até lá e esperamos que seja mais favorável. Veremos, mas certamente que não haverá excepções.”
Recebido como herói
Djokovic foi recebido como um herói em Belgrado, após um voo com escala no Dubai, onde se disponibilizou a tirar várias selfies, sempre com a máscara colocada. À ida para a Austrália, tinha parado em Marbella, onde tem uma casa. Questionado sobre um regresso do sérvio, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez afirmou que qualquer atleta que queira competir em Espanha terá de cumprir com as regras sanitárias do país. Na mesma ocasião em que Sánchez foi questionado, o chanceler alemão Olaf Scholz, de visita a Espanha, aproveitou para frisar que todos têm de obedecer às regras, “independentemente de quem somos”.
Outras consequências poderão ser a perda de patrocinadores. Segundo a revista Forbes, o tenista sérvio recebe anualmente mais de 26 milhões de euros de patrocínios e colocou-o no 46.º lugar da lista dos atletas mais bem pagos. A marca de roupa francesa Lacoste já adiantou que logo que possível vai falar com Djokovic e rever os acontecimentos das últimas semanas na Austrália. Os restantes patrocinadores principais, Peugeot (Stellantis), Asics, Raiffeisen Bank International e Hublot, não quiseram falar para já, embora a última tenha dito anteriormente ao jornal Finantial Times não poder comentar “decisões pessoais”.