“Sextas-feiras de vinho” em Downing Street aumentam pressão sobre Boris Johnson
Segundo o jornal The Mirror, os convívios regados a álcool no final da semana de trabalho eram uma “longa tradição”. Líder do Partido Trabalhista diz que demissão do primeiro-ministro é um “imperativo nacional”
A pressão sobre Boris Johnson não dá sinais de abrandar e, este sábado, foram várias as vozes a exigir a demissão do primeiro-ministro britânico após novas revelações sobre a realização regular de festas em Downing Street, do líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, ao deputado tory Tobias Ellwood, que lidera a comissão de Defesa no Parlamento.
Segundo revela o jornal The Mirror, todas as sextas-feiras o pessoal de Downing Street assinalava o final da sua semana de trabalho com um convívio regado a álcool, uma “longa tradição” que, apesar das restrições relacionadas com a covid-19, não foi interrompida pelo staff do gabinete do primeiro-ministro.
Segundo o diário britânico, chegou a ser feito o investimento num frigorífico para manter as garrafas de vinho branco, Prosecco e cerveja frescas para as “Wine-time Fridays” (sextas-feiras de vinho), como foram baptizadas pelo pessoal de Downing Street.
As festas, que segundo o mesmo jornal foram particularmente populares entre o Outono de 2020 e a Primavera de 2021, chegavam a prolongar-se até à meia-noite e incluíam, entre copos de vinho e garrafas de cerveja, jogos de Pictionary.
O próprio Boris Johnson costumava aparecer para conversar no final do dia de trabalho, escreve o The Mirror, citando uma fonte a dizer que “a ideia de que ele não sabia que havia bebidas é um absurdo total”.
“Se é próprio primeiro-ministro a dizer para descontrairmos, ele está basicamente a afirmar que está tudo bem”, acrescentou a fonte.
Com as notícias sobre a quebra da regras de confinamento por parte do Governo a sucederem-se, crescem também de tom os pedidos para que Boris Johnson se demita. O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, disse este sábado que a saída de cena do primeiro-ministro é um imperativo de “interesse nacional”.
Num discurso na Fabian Society, o mais antigo think-tank do Reino Unido, Starmer defendeu que Johnson deve demitir-se porque é “incapaz de liderar”.
“Estamos a assistir ao triste espectáculo de um primeiro-ministro atolado em mentiras e artimanhas e incapaz de liderar”, disse Starmer, citado pelo Guardian, acrescentando que é “muito importante que o Partido Conservador faça o que for preciso para ser ver livre dele”.
Também este sábado, Tobias Ellwood, o deputado conservador que lidera, na Câmara dos Comuns, a importante comissão de Defesa, disse que o partido “precisa de liderança”, pelo que Boris Johnson “deve liderar ou afastar-se.”
Até agora, a posição oficial do Partido Conservador, incluindo de vários membros do Governo, é de que é necessário esperar pelas conclusões do inquérito sobre as muitas festas em Downing Street que foi entregue à funcionária pública sénior Sue Gray.
Mas, segundo afirmou Andrew Bridgen, deputado tory por North West Leicestershire, à BBC, “não preciso de ver o que Sue Gray vai dizer para saber que, para mim, Boris Johnson perdeu a autoridade moral para liderar o país”.
“Se voltar a haver outra emergência em que ele tenha que pedir aos britânicos que façam sacrifícios, ele já não tem essa autoridade. Isso, na minha opinião, torna a sua posição como primeiro-ministro completamente insustentável”, acrescentou.
Ainda segundo a BBC, vários deputados conservadores viram as suas caixas de correio electrónicas ficarem cheias de emails de eleitores furiosos, principalmente depois da notícia das festas na véspera do funeral do príncipe Filipe, o marido da rainha, Isabel II.
Um deputado dos tories disse que recebeu mais de 200 emails, dos quais apenas cinco eram mensagens de apoio ao primeiro-ministro.
“Muitos colegas acreditam agora que Boris Johnson não será o líder nas próximas eleições gerais. E, para muitos de nós, isso significa o seu fim”, disse o mesmo membro do Parlamento.
“Existe muito cepticismo sobre se haverá alguém pronto para tomar as rédeas, e isso dá tempo a Boris Johnson”, afirmou outro deputado conservador, antes de deixar o aviso: “Mas ele não deve confundir isso com a ideia que terá mais uma oportunidade.”
No entanto, segundo o Independent, a demissão é a última coisa que passa nesta altura pela cabeça de Johnson, que estará a preparar um plano para se manter no cargo de primeiro-ministro, que incluirá o despedimento de altos funcionários do Governo.
O plano, que terá sido baptizado pelo próprio Boris Johnson com o nome “Operation Save Big Dog” (Operação Salvar o Grande Chefe, numa tradução livre), implicará o afastamento do seu chefe de gabinete, Dan Rosenfield, e do seu secretário particular Martin Reynolds, o autor do agora famigerado email em que convidava os funcionários do Governo para trazerem as suas próprias bebidas para uma festa a 20 de Maio de 2021 nos jardins de Downing Street.