Esforços diplomáticos não acabam com impasse entre a Rússia e a NATO

As linhas vermelhas que Moscovo e a Aliança Atlântica fixaram no início das negociações dos últimos dias mantiveram-se. Multiplicam-se os avisos para um potencial conflito, mas diálogo mantém-se.

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Soldado russo durante exercícios militares na região de Rostov SERGEY PIVOVAROV / Reuters

Terminou como começou a semana de negociações entre a Rússia e os aliados da NATO com o objectivo de apaziguar a situação na fronteira russo-ucraniana: impasse. A ausência de progressos levou a renovados alertas para a proximidade de uma situação sem retorno e do perigo real de uma guerra em solo europeu.

Esta quinta-feira reuniu-se, em Viena, o Conselho Permanente da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), um organismo que debate questões de segurança e integra 57 países, incluindo os EUA, a Rússia e a Ucrânia. Foi a primeira ocasião em que as autoridades de Kiev puderam participar directamente nas conversações acerca da mobilização militar russa nas suas fronteiras.

Sem qualquer alteração de posições de nenhuma das partes envolvidas, tudo permaneceu como está. A Rússia mantém a exigência de travar a expansão da NATO para o Leste da Europa, e os EUA e os seus aliados querem a retirada imediata dos militares russos da fronteira com a Ucrânia, ameaçando com um pacote de sanções sem precedentes na eventualidade de uma invasão. A única boa notícia é de que ninguém parece querer desistir da via negocial, embora o clima de intimidação se mantenha.

À saída do encontro de Viena, o representante norte-americano na OSCE, Michael Carpenter, disse que o Ocidente deve estar preparado para uma “escalada da tensão” com Moscovo, repetindo aquelas que têm vindo a ser as “linhas vermelhas” da posição norte-americana: a recusa de conceder poder de veto à Rússia quanto à expansão futura da NATO.

Essa é a questão fundamental do diferendo que tem dominado as relações entre os EUA e a Rússia nas últimas semanas. O regime de Vladimir Putin acusa a NATO de estar a pôr em causa a segurança nacional russa ao deixar em aberto a possibilidade de antigas repúblicas soviéticas – a Ucrânia e a Geórgia – poderem vir a aderir à Aliança Atlântica. Mas para Washington e restantes membros da NATO é inaceitável que o Kremlin queira interferir na política externa de países independentes.

“Não vamos conceber esferas de influência ou restrições no direito das nações em escolher as suas alianças”, declarou Carpenter, depois de avisar que “o rufar dos tambores de guerra é elevado”. Ainda assim, o diplomata manteve a porta aberta para a continuação de um “diálogo genuíno, sério e de alto nível” com Moscovo.

“Risco de guerra”

O representante russo na OSCE, Alexander Lukashevich, disse ter saído “desapontado” da reunião, mas garantiu que Moscovo não desistiu das negociações. “Estamos no momento da verdade”, disse o diplomata, acrescentando que o falhanço em alcançar um acordo terá um “desfecho catastrófico”.

Ainda antes do encontro de Viena, o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Riabkov, que participou no início da semana em conversações bilaterais com uma delegação dos EUA, fez um balanço negativo dos esforços diplomáticos dos últimos dias, concluindo que se chegou a um “beco sem saída”. Apesar de rejeitar que as negociações sejam retomadas de imediato, Riabkov, em entrevista a um canal televisivo russo, garantiu que “o diálogo ainda está em curso”.

Da parte da Ucrânia, país no centro do confronto entre a Rússia e a NATO, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, disse que a “única forma de a Rússia mostrar que não pretende resolver problemas recorrendo à força é mantendo-se nas discussões nos formatos estabelecidos”.

Sem avanços, mas também sem recuos significativos, tudo indica que a tensão na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia se vai manter indefinidamente. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Zbigniew Rau, que assumiu a presidência rotativa da OSCE, deixou um aviso sombrio, que se junta a muitos outros que apontam na mesma direcção: “O risco de uma guerra na região da OSCE é maior agora do que alguma vez foi nos últimos 30 anos.”

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