As árvores não são lixo depois do Natal — e há formas sustentáveis de as reciclar
Replantar as árvores com raízes boas e transformar em composto as que já não sobrevivem às festas são algumas das propostas do movimento cívico Green City Makers, que mostra os pontos de recolha e ecocentros mais próximos.
Os pinheiros de Natal não são lixo depois das festas e, mesmo as árvores que não podem ser replantadas, podem criar novos habitats ou nutrir jardins, plantações e bosques.
Para não acabarem em aterros sanitários, no entanto, é preciso que cheguem aos locais de tratamento e valorização de resíduos próprios. Pelo segundo ano, o movimento cívico Green City Makers relança uma campanha de Inverno para fazer a ponte entre árvores sem enfeites e vasos e os ecocentros que as podem transformar em composto e cobertura (mulch).
A campanha de 2022 chega a 44 cidades, que têm pelo menos um ponto de recolha. Em Cascais e Lisboa, e nos Açores, em Ponta Delgada, Lago, Ribeira Grande, Povoação e Vila Franca de Campo, faz-se recolha porta a porta das árvores de Natal naturais.
Varia de município para município, mas para agendar a recolha é necessário ligar aos serviços das câmaras e escolher um horário disponível. As moradas, contactos e horários dos pontos de recolha estão quase todos disponíveis no site da Green City Makers, que entrou em contacto com os ecocentros e as empresas de gestão de resíduos.
Segundo uma delas, a Empresa Geral de Fomento (EGF), “as árvores de Natal naturais, que devem ser entregues sem enfeites e sem vasos, serão posteriormente processadas e transformadas em correctivos orgânicos”.
A empresa comprometeu-se a doar uma parte do composto “a projectos de educação ambiental e à Green City Makers”, para o projecto de estimação da impulsionadora do movimento. Laura Lorenzo sonha em utilizar o adubo para alimentar a plantação de florestas autóctones em pequena escala, nas cidades portuguesas.
Em Barcelona, onde nasceu, há “campanhas de recolha intensivas” para garantir que as árvores não são abandonadas na rua ou desperdiçadas nos caixotes do lixo indiferenciado. Embora em Portugal seja possível procurar no site da câmara o ecocentro mais próximo, e agendar uma entrega ou, em alguns casos, a recolha à porta de casa, a valorização das árvores “ainda não é uma prática generalizada”, diz Laura Lorenzo, ao P3. “Muitas pessoas ainda acham que não há nada a fazer.”
O composto é a forma mais natural de reciclar os resíduos orgânicos que, misturados com resíduos verdes provenientes de podas e jardinagem, permitem devolver aos solos matéria orgânica, macro e micronutrientes e diminuir a irrigação, uma vez que o fertilizante natural contribui também para a retenção de humidade.
As árvores que tiverem raízes em bom estado podem ser replantadas, mas mesmo os pinheiros mortos podem gerar vida.
Em Lousada, por exemplo, o ecocentro em Boim está aberto para receber as árvores já sem vasos de 10 a 16 de Janeiro. No município que convida a começar o ano a plantar árvores e apoia um projecto para proteger os gigantes verdes do concelho, as árvores pós-natalícias vão ser transformadas em abrigos e habitats artificiais nas zonas com acções de restauro ecológico, em colaboração com a associação Verde. Em Braga, as árvores podem ser entregues à Quinta Pedagógica e irão ser “valorizadas em estilha para serem usadas como cobertura nos jardins da cidade”.
A campanha anterior de Inverno decorreu apenas em sete contentores dispostos em locais controlados em Lisboa. Numa semana, foram recolhidas 1268 destas árvores coníferas, conta Laura Lorenzo. Como não estavam contaminados com outros resíduos, “foram transformados em três toneladas de composto na estação de compostagem de verdes da Valorsul”.
Também em 2021, no Verão mais quente dos últimos 20 anos, o movimento cívico Green City Makers quis tornar cidadãos em guardiões das árvores de rua. A proposta é simples e deverá repetir-se este ano: adoptar uma árvore de passeio sem irrigação e dar-lhe água, aos bocadinhos, conforme for preciso.