Republicanos e democratas continuam divididos sobre a invasão do Capitólio

Sondagem do jornal Washington Post mostra que o orgulho dos norte-americanos na sua democracia caiu 34 pontos percentuais nos últimos 20 anos. Entre os eleitores do Partido Republicano, 62% continuam a acreditar que Donald Trump foi vítima de fraude eleitoral em 2020.

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Durante 245 anos, desde que as 13 colónias britânicas na costa ocidental da América do Norte se uniram para se tornarem independentes sob a designação Estados Unidos da América, em 1776, até à invasão do Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, a sede do poder legislativo norte-americano nunca tinha sido atacada pelos seus próprios cidadãos — nem mesmo durante a sangrenta Guerra Civil de 1861-1865, que matou mais de um milhão de pessoas entre soldados e civis, alguns deles irmãos que combateram em lados opostos.

Mas, apenas um ano depois do ataque sem precedentes na História dos EUA, a condenação quase universal que marcou as primeiras horas e dias a seguir ao 6 de Janeiro de 2021 é hoje uma memória distante para uma grande parte da população dos EUA.

Segundo uma sondagem da Universidade do Maryland para o jornal Washington Post, publicada no fim-de-semana, quase metade dos eleitores do Partido Republicano e dos que declaram não ter fidelidade partidária — quatro em cada dez —, dizem que a violência contra as instituições do Governo norte-americano é justificável em algumas circunstâncias, uma percentagem que o jornal diz ser “consideravelmente maior do que em anteriores sondagens do Post e de outros jornais, em mais de duas décadas”.

Os sinais de divisão tornam-se claros quando as respostas são separadas por campos políticos e ideológicos. No total, 60% dos 1101 adultos inquiridos dizem que o ex-Presidente dos EUA, Donald Trump, teve “muita culpa” nos acontecimentos que levaram à invasão do Capitólio, mas o resultado é inflacionado pelos 92% de eleitores do Partido Democrata que concordam com a afirmação — no lado republicano, 72% dizem que Trump teve apenas “uma parte da culpa” ou “nenhuma culpa” do que aconteceu a 6 de Janeiro de 2021.

E, apesar de os eleitores que se declaram independentes alinharem mais com os republicanos do que com os democratas na questão da culpabilidade, parece haver um consenso alargado entre democratas e independentes (a grande maioria da população) na condenação das queixas de fraude eleitoral na eleição presidencial de 2020: 88% dos democratas e 74% dos independentes dizem que não existem provas de fraude.

Mais uma vez, os eleitores republicanos divergem da maioria da população, e mostram que continuam unidos à volta de Trump: 62% dos republicanos inquiridos na sondagem da Universidade do Maryland acreditam que Trump foi vítima de fraude, uma percentagem semelhante à que foi registada nos dias que se seguiram à invasão de 6 de Janeiro de 2021.

E se a satisfação com o estado da democracia nos EUA continua em terreno positivo — com 60% dos democratas, 58% dos republicanos e 51% dos independentes a dizerem que têm orgulho na sua democracia —, a mudança nos últimos 20 anos tem sido dramática. Em 2002, na sequência dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, 90% de todos os inquiridos diziam ter “muito orgulho” na democracia; uma década depois, em 2014, essa percentagem caiu para 74%; e em 2017 voltou a cair, para 63%.

As queixas de fraude, que foram lançadas por Trump na noite eleitoral de 3 de Novembro de 2020, quando os resultados estavam ainda a ser contabilizados, continuam a ser o maior tema de divisão no país e uma fonte de potencial violência.

Na semana passada, a agência Reuters noticiou que os seus jornalistas recolheram mais de 850 mensagens com ameaças (200 com ameaças de morte) contra funcionários das comissões eleitorais de 16 estados norte-americanos, na sequência da eleição de 2020.

E, em meados de Dezembro, a agência Associated Press (AP) publicou o resultado de um trabalho de reconfirmação das votações em seis estados, onde se centraram as queixas de fraude lançadas por Trump. Depois de terem contactado os representantes das comissões eleitorais — do Partido Democrata e do Partido Republicano —, a agência encontrou 475 votos marcados como potencialmente fraudulentos, num total de 26,5 milhões. E, segundo a AP, desses 475 boletins, nem todos foram contabilizados e alguns resultaram de erros não relacionados com fraude eleitoral.

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