Luís Represas estreia vídeo com Ivan Lins e anuncia concerto para Março
Se a pandemia interrompeu o livre curso de Boa Hora, o mais recente disco de Luís Represas, ele retoma-o agora com um videoclipe. E com o regresso aos palcos.
Aconteceu a Luís Represas o mesmo que a muitos músicos em tempos de pandemia: com um disco novo lançado em 2018, acabou por não ter tempo para o levar à estrada como devia, nem para divulgar normalmente as suas canções. Agora, retoma as rédeas desse processo e dá nova vida a Boa Hora, disco que recupera um imaginário que faz parte do seu ADN, como ele disse ao PÚBLICO na altura do lançamento. Para isso, lança esta quinta-feira um videoclipe de uma das canções, Asas de anjo, reconstituindo nele o dueto registado no disco com Ivan Lins, co-autor da música e seu amigo há anos. E anuncia um concerto para 5 de Março, no Tivoli BBVA, em Lisboa, às 21h30.
“É o reentrar na caminhada”, diz Luís Represas ao PÚBLICO. “Porque nós passámos por uma coisa que nunca se viu no universo discográfico ou da edição musical, que é fazermos um disco, prepará-lo para o seu caminho normal em termos de divulgação e espectáculos e de repente parar tudo. Chegado a 2021, as pessoas perguntavam-me: ‘Então quando é que edita um disco novo?’ E eu dizia: ‘Para quê, se eu tenho um disco novo?’ Porque o Boa Hora é um disco praticamente não rodado e com os temas todos selados ali. Por isso, é altura de fazer com que esse trabalho siga o seu caminho.”
Para o videoclipe, voltaram ambos a estúdio, Luís Represas e Ivan Lins, de modo a reconstituírem (a partir do áudio original) a parceria registada no disco. Em 2018, Luís Represas explicava assim o nascimento dessa canção e a sua relação com Ivan Lins: “Conhecemo-nos desde os anos 1980. E já lhe tinha dito que gostava imenso que escrevesse uma música para mim. Há uns largos meses, enviou-me um mail a dizer: ‘tenho uma promessa secular que vai ser cumprida agora. Toma lá a música, faz a outra metade e já agora faz a letra.’ Eu senti aquilo como uma prova de confiança enorme.”
Retomar e relançar
Hão-de seguir-se videoclipes de outras canções, mas houve razões para começar com esta: “Foi um tema que comecei a tocar bastante, enquanto se conseguiu tocar ao vivo, e é um tema de que gosto particularmente. É muito actual, não só em relação a mim, mas ao Ivan também. Houve ali uma combinação de factores, não só em termos musicais como de letra, que fez com que ficássemos particularmente satisfeitos com o resultado. Além disso, também pela exequibilidade da produção: o Ivan ainda estava cá [antes de viajar até ao Brasil], tínhamos as coisas todas à mão e, como estávamos num momento particularmente difícil para montar grandes produções, com pouco fizemos muito.”
Além disso, Asas de anjo é também fruto de uma amizade antiga: “Tem muito a ver com a nossa cumplicidade. Ali não está só o trabalho de dois autores e compositores, está também patente – e ali transparece – uma amizade de quarenta e tal anos.”
O concerto de Março, diz Luís Represas, tem um conceito que vem de trás. “Chama-se Ao Canto da Noite, foi estreado em 2019 em Lisboa, teve mais um ou dois concertos e depois acabou. Ou seja: o que era para ser uma tournée grande, foi interrompido ali. A ideia é retomar e relançar. Não se trata de cantar umas canções de carreira, que também cantarei, mas de ir buscar canções que ficaram ao canto da noite, que não tiveram o protagonismo que eu gostava que tivessem. São canções que muitos ouvirão a pensar que está ali uma canção nova. No fundo, é recuperar canções que foram feitas com muita dedicação, mas que, por contingências naturais, ficaram na obscuridade.”
O disco Boa Hora, cuja divulgação Luís Represas agora retoma, foi distinguido em 2019 com o Prémio Pedro Osório, por decisão da direcção da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). O prémio, que distingue a cada ano o que é considerado o melhor trabalho discográfico do ano transacto, tinha sido já atribuído a Jorge Palma, Fernando Tordo, Pedro Abrunhosa, José Cid, Júlio Pereira, Rão Kyao e Janita Salomé.