Detido nos EUA suspeito de roubo de centenas de livros internacionais antes de publicação

Filippo Bernardini, antigo funcionário da editora Simon & Schuster no Reino Unido, está acusado de fraude e de roubo de identidade.

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Um dos stands da Feira do Livro de Frankfurt Reuters/JOHANNES EISELE

Um cidadão italiano de 29 anos foi detido na tarde de quarta-feira, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, sob suspeita de ser o responsável pelo roubo de centenas de manuscritos de escritores de nível internacional desde 2016.

De acordo com comunicado do Ministério Público do Distrito Sul de Nova Iorque, Filippo Bernardini, antigo funcionário da editora Simon & Schuster no Reino Unido, vai ser esta quinta-feira presente a tribunal, enfrentando acusações de fraude e roubo de identidade, que acarretam uma sentença de prisão até 20 anos.

A detenção poderá significar o ponto final num mistério que assolou a indústria editorial internacional há anos, tendo sido afectados por estes roubos de manuscritos múltiplos autores, desde Margaret Atwood e Ian McEwan a estreantes no panorama literário.

No final de 2020, o diário The New York Times escrevia, num texto sob o título “Por que raio está alguém a roubar manuscritos de livros por publicar?”, que a pessoa responsável pelos roubos enviava “emails” a figuras do meio usando jargão da área e à medida de cada um dos destinatários, para que aparentassem ser enviados por um agente literário particular a um dos seus autores, ou um editor a contactar um “olheiro”, com pequenas alterações feitas aos domínios a partir dos quais enviava.

Esta descrição corresponde àquela feita pelo comunicado do Departamento de Justiça divulgado na quarta-feira: “Bernardini criava estas contas ao registar mais de 160 domínios na Internet que foram feitos para ser passíveis de confusão com as entidades reais, incluindo pequenos erros tipográficos que seriam difíceis de identificar para um destinatário médio. Entre outras coisas, Bernardini substituía o “m” minúsculo com “rn” minúsculas, para aparentarem o “m"”.

O mesmo comunicado refere que Bernardini levaria a cabo este esquema desde Agosto de 2016, lembrando que “manuscritos pré-publicados são valiosos e a divulgação não-autorizada dos mesmos pode minar de forma dramática o negócio editorial”.

Em Agosto do ano passado, a revista New York publicou uma extensa investigação sobre o caso, sem sucesso em desvendar o mistério, escrevendo agora um dos autores desse trabalho que Bernardini, que falará 10 línguas, encaixa no perfil para o qual tendiam muitos: “Um funcionário de baixo-nível do sector, alegadamente usando o seu conhecimento íntimo do negócio para fins nefastos”.

Em comunicado, citado pela agência Associated Press, a Simon & Schuster mostrou-se “chocada e horrorizada” por ter descoberto as alegações de fraude e roubo de identidade por um funcionário seu no Reino Unido.