Designers portuguesas criaram jóias sustentáveis — com celulose bacteriana e prata reciclada

Natural de Viana do Castelo, a dupla de designers Lia Gonçalves e Sílvia Araújo criou a Ensaio - uma linha exclusiva de jóias sustentáveis, que reaproveita prata usada e a une à celulose bacteriana. A colecção de joalharia pode ser vista no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.

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Ensaio é uma coleção cápsula exposta no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT).

As designers Lia Gonçalves e Sílvia Araújo, de Viana do Castelo, criaram a uma colecção de jóias que “misturam, pela primeira vez”, a prata reciclada, obtida através do reaproveitamento de peças usadas, e celulose bacteriana, divulgou esta quarta-feira uma das criadoras.

“São as primeiras jóias no mercado da joalharia portuguesa que juntam a prata reciclada, obtida através do reaproveitamento de peças usadas, e celulose bacteriana, um polímero natural, biodegradável e renovável, que pode ser produzido e optimizado em laboratório para diferentes aplicações”, explicou à agência Lusa, Lia Gonçalves.

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Sílvia Araújo, à esquerda, e Lia Gonçalves, à direita Facebook da Lia Gonçalves

A designer de jóias, natural da freguesia de Vila de Punhe, em Viana do Castelo, acrescentou que “a celulose bacteriana, uma alternativa à utilização de couro, pode ser produzida e optimizada em laboratório para diferentes aplicações, desde a moda aos cosméticos, passando pelo sector alimentar e até na medicina”. “A junção destes dois materiais na criação de peças de joalharia é pioneira”, afirmou, referindo-se à colecção Ensaio, que concebeu com Sílvia Araújo, designer e investigadora na área da moda.

Para as autoras, a colecção Ensaio pretende “sensibilizar para a emergência da acção climática e da moda sustentável, através da adopção de conceitos de produção e materiais mais sustentáveis”. O objectivo, revelam, é lançar o repto de que “no design, como na natureza, nada se perde, tudo pode ser transformado”.

Um dos colares da coleção, em versão oxidada Facebook/Lia Gonçalves
CoralColor são uns brincos em porcelana, que misturam folha de ouro e prata Facebook/Lia Gonçalves
A versão mini dos brincos CoralColor Facebook/Lia Gonçalves
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Um dos colares da coleção, em versão oxidada Facebook/Lia Gonçalves

Sílvia Araújo, natural da freguesia de Cardielos, a finalizar um doutoramento em torno da aplicabilidade da celulose bacteriana ao design de moda, é a responsável pela produção daquele material que Lia Gonçalves junta à prata reciclada para criar os colares, anéis ou outras jóias de autor.

“Neste caso, o que acontece é que a celulose bacteriana é usada como complemento estético, mas, devido às suas características, acaba por se degradar naturalmente com o uso da jóia. Esta dimensão é imprevisível e permite que a peça adquira novos desenhos à medida que é manuseada, mantendo sempre a função para a qual foi criada. É um processo de co-criação”, destacou Lia Gonçalves.

As peças produzidas na Oficina, o atelier em Viana do Castelo partilhado pelas autoras, estão no mercado desde Novembro. A “abordagem contemporânea à joalharia de autor” concebida com estes materiais tem tido, segundo Lia Gonçalves, um feedback positivo por parte dos consumidores.

A linha exclusiva de joalharia sustentável que as duas designers criaram pode ser vista no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa. A dupla de criadoras concorreu com a colecção Ensaio e viu o seu trabalho seleccionado para a segunda edição da mostra Portuguese Jewellery X MAAT: Rethink. React. Reshape, uma parceria entre a Associação Portuguesa de Ourivesaria e Relojoaria (AORP) e o MAAT que tem como objectivo “mobilizar para novas práticas de sustentabilidade na produção e consumo, de forma a reduzir o desperdício e o impacto da indústria no meio ambiente”

As peças em celulose bacteriana e prata reciclada figuram entre os trabalhos de seis jovens criadores de joalharia portuguesa, que vão permanecer expostas no MAAT durante um ano, onde têm também venda exclusiva.