Morreu a artista plástica açoriana Maria José Cavaco

A artista plástica morreu esta quarta-feira, aos 54 anos, deixando um importante legado à pintura nos Açores, com mais de uma dezena de exposições individuais.

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Maria José Cavaco fotografada no ano passado nas piscinas naturais da Atalhada, situadas no fim da rua do antigo atelier rui soares

A artista plástica açoriana Maria José Cavaco morreu esta quarta-feira, aos 54 anos, deixando um importante legado à pintura nos Açores, com mais de uma dezena de exposições individuais, avançou o Governo Regional numa publicação na rede social Facebook, na qual “lamenta profundamente o prematuro desaparecimento da artista plástica Maria José Cavaco”. Embora a causa de morte não tenha sido revelada, artista lutava contra uma doença oncológica há alguns anos.

No ano passado, o Arquipélago - Centro de Arte Contemporânea dos Açores, na Ribeira Grande, dedicou-lhe uma importante exposição antológica, intitulada Lugares de Fractura, que revisitava os últimos 20 anos de uma obra multidisciplinar em que o centro não deixa de ser a pintura.

Maria José Cavaco nasceu em Ponta Delgada em 1967, licenciou-se em Pintura pela Universidade de Lisboa em 1990 e concluiu o Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos, no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), em 2017.

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Uma das pinturas sobre as casas voadoras feitas há quase 20 anos

O Governo dos Açores destaca que a pintora “realizou mais de uma dezena de exposições individuais e, a partir de 1988, participou em diversas exposições colectivas, realizadas em Portugal, Espanha, Estados Unidos e Macau”.

A obra de Maria José Cavaco, que recebeu o Prémio de Pintura António Dacosta em 2016,​ está presente em várias colecções públicas e privadas, como na Presidência do Governo Regional, no Museu Carlos Machado e no Arquipélago - Centro de Arte Contemporânea dos Açores.

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Uma pintura do atelier na Atalhada

Após completar a licenciatura, a artista, então com 23 anos, regressa à ilha de São Miguel e, durante vinte anos, acumula a pintura com o ensino, dando aulas no secundário e, mais tarde, na Universidade do Açores. Vai também apresentando regularmente exposições individuais na Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada, que a leva a feiras de arte como a ARCOmadrid.

Em 2010, participa numa exposição internacional colectiva nas Canárias, intitulada Horizontes Insulares. “Nos Açores nós acabamos por ter percepções diferentes do que é uma ilha”, explicava em Julho do ano passado ao PÚBLICO. “Se estivermos no grupo central, temos uma noção de arquipélago, porque vemos as ilhas à volta: temos a visão da ilha como um rochedo, esse bocado de terra no meio do mar, e conseguimos imaginá-la de fora. Mas aqui em São Miguel não temos praticamente essa vivência de arquipélago, só quando saímos de avião ou de barco. Como é uma ilha grande, há uma continuidade geográfica que nos faz perder a noção de horizonte insular.”

Nos últimos anos, além das feiras em Madrid e desta exposição nas Canárias, foi possível ver em Lisboa a obra de Maria José Cavaco numa colectiva em 2011 na Fundação Carmona e Costa, com curadoria de João Miguel Fernandes Jorge, e mais recentemente, já em 2018, numa individual na Fundação Portuguesa das Comunicações, com curadoria de João Silvério.

Em 2019, realizou uma exposição no Convento de São Francisco, no concelho açoriano da Lagoa, e, em 2018, promoveu exposições na Galeria Fonseca Macedo e na Fundação Portuguesa das Comunicações, em Ponta Delgada e Lisboa, respectivamente.

Foi de Julho a Novembro de 2021 que o Arquipélago - Centro de Arte Contemporânea dos Açores realizou a exposição Lugares de Fractura, título que em parte vai pedir emprestado à sua tese teórico-artística de doutoramento em Arquitectura no ISCTE, em Lisboa, em 2017 — Lugares de Fractura: A Auto-Reflexividade na Ficção Artística. A antológica com 45 peças de 12 séries que traça um dos percursos artísticos mais singulares construídos nas últimas décadas, a partir da Região Autónoma dos Açores, assinalou o curador e novo director do Arquipélago, João Mourão, quando o PÚBLICO visitou a exposição no ano passado.

“Os artistas hoje fazem um bocadinho de tudo — escultura, pintura, instalação —, mas é muito engraçado que ela continue a chamar-lhe pintura”, observou então o curador. “Essa necessidade de um objecto bidimensional se tornar tridimensional e como é que nesse tridimensional continua a ser pintura. É uma interrogação que a artista quer que o espectador também faça.”