Covid-19. “Flurona” não é uma mistura de genomas de dois vírus, avisa especialista

“Os sintomas de uma infecção mista variam, dependendo da carga viral com a qual se está infectado com cada um dos vírus e também idade, estado imunológico, outras patologias sofridas”, explica López Guerrero.

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Testagem aumenta em Israel devido ao avançar da variante Ómicron Reuters/AMMAR AWAD

O contágio simultâneo pelo SARS-CoV-2 e pelo vírus influenza (uma combinação que recebeu o nome de “flurona”) não é “extraordinário” nem uma mistura de genomas dos dois vírus, e as infecções mistas podem estar a ser subdiagnosticadas, avisa o microbiologista espanhol Antonio López Guerrero.

O director do Departamento de Cultura Científica do Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa, e director do Grupo de Neurovirologia da Universidade Autónoma de Madrid (UAM), explica o que “flurona” é um termo que surge da junção das palavras “flu” (gripe, em inglês) e “coronavírus”.

“'Flurona’ não é uma quimera formada pela mistura de genomas de dois vírus, mas uma infecção simultânea de ambos”, disse à agência de notícias EFE, adiantando que “não precisa de ser extraordinário” devido à disseminação da variante Ómicron da covid-19.

De acordo com López Guerrero, os casos de infecção mista são quase “indetectáveis”, a menos que seja feita uma busca específica pelo genoma do vírus da gripe.

“Certamente houve mais casos do que os detectados, mas não foram procurados. Se uma pessoa com certos sintomas de gripe passa por um teste de diagnóstico de SARS-CoV-2 e dá positivo, a mesma pára de procurar outros patogénicos. As infecções mistas podem ser subdiagnosticadas”, indicou.

O académico lembrou que as medidas de protecção contra a covid-19 têm protegido a população de outros vírus respiratórios, sustentando que foram detectados “muitos poucos casos de influenza, vírus sincicial respiratório e outros patogénicos que são transportados através do ar”.

"Não é matemático que os dois vírus se somam clinicamente"

Questionado sobre a gravidade da infecção por dois ou mais tipos de vírus em simultâneo, José Antonio López Guerrero recordou que “não é matemático que dois vírus se somam clinicamente” e que a mulher israelita diagnosticada com as duas doenças “praticamente não apresentava sintomas”.

“Os sintomas de uma infecção mista variam, dependendo da carga viral com a qual se está infectado com cada um dos vírus e também idade, estado imunológico, outras patologias sofridas… Também pode influenciar se já passámos ou não pela infecção por coronavírus, se formos vacinados contra um ou ambos os vírus. Casos mais graves podem ocorrer ocasionalmente, mas há muita discussão em torno das infecções”, disse.

Antonio López Guerrero indicou ainda que, além da vacinação de grupos de risco contra a gripe, as pessoas devem continuar a usar máscaras, a manter o distanciamento social, a higienizarem-se, a evitarem locais mal ventilados e a completarem a vacinação contra a covid-19.

“A infecção mista não tem, em princípio, o perfil de uma pessoa mais susceptível, embora obviamente os vacinados contra o coronavírus e o influenza devam ter uma janela estreita de positividade para ambos os vírus e, caso sofram, devem ser infecções praticamente assintomáticas ou silenciosas”, garantiu.

Israel detectou o seu primeiro caso de contágio simultâneo pelo coronavírus SARS-CoV-2 e pelo vírus influenza, conhecido como “flurona”, numa mulher grávida não vacinada, confirmou no domingo o Ministério da Saúde israelita à agência de notícias EFE.

A mulher recebeu alta em 30 de Dezembro após ser tratada a sintomas ligeiros derivados dessa infecção dupla (gripe e covid-19), acrescentou o jornal Times of Israel.

Os casos de “flurona” terão sido detectados pela primeira vez nos Estados Unidos, durante o primeiro ano da pandemia de covid-19.

Os especialistas do Ministério da Saúde israelita acreditam que haja casos semelhantes, ainda não identificados, quando quase duas mil pessoas estão internadas por gripe e ao mesmo tempo os casos positivos da variante Ómicron do SARS-CoV-2 estão a aumentar no país.

Na segunda-feira, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) disse não ter registo de casos de infecção simultânea pelos vírus que provocam a gripe e a covid-19, mas admitiu que estas situações ocorram, face ao previsível aumento da actividade gripal.

“Com o aumento da circulação do vírus da gripe e a continuação da circulação do SARS-CoV-2, as co-infecções podem vir a ser detectadas”, disse à Lusa Raquel Guiomar, responsável pelo laboratório nacional de referência para o vírus da gripe e outros vírus respiratórios do Departamento de Doenças Infecciosas do INSA.

“Em Portugal ainda não detectamos casos de infecção pelo vírus da gripe e por SARS-CoV-2. A pesquisa de SARS-CoV-2 e gripe está a ser feita em paralelo em todas as amostras do programa nacional vigilância da gripe e de outros vírus respiratórios e não foram detectadas co-infecções covid/influenza”, adiantou Raquel Guiomar.