A mais longa viagem em comboio do mundo começa em Portugal? Há que tempos, agora está é maior

Linha férrea de 414 quilómetros construída entre o Laos e a China aumentou a distância da maior viagem de comboio do mundo que antes terminava no Vietname e agora permite chegar a Singapura. Agora é só escolher onde a começar em Portugal.

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Nelson Garrido

Não consta que alguém a tenha realizado nos últimos dois anos devido às restrições da pandemia. Mas a “construção” virtual da maior viagem de comboio do mundo – de que já dávamos conta há uns anos –, com o detalhado estudo dos percursos, horários, transbordos e tipos de comboios, continua a alimentar bloggers e as revistas de viagens.

Uma nova vaga de artigos nestes meios surgiu recentemente a propósito da inauguração, em 2 de Dezembro, de uma via-férrea de 414 quilómetros entre Boten e Vientiane, que atravessa o Laos, precisamente entre a fronteira chinesa e a fronteira com a Tailândia.

Esta linha, financiada pela China no âmbito da Nova Rota da Seda, permite assim “coser” um elo em falta na ferrovia do Sudoeste Asiático porque agora passa a ser possível continuar sobre carris, vindo da China, até à Tailândia e Singapura.

Antes, a viagem de comboio mais comprida do mundo terminava no Vietname.

A balcanização da Península Ibérica

Mark Smith, um influente blogger de viagens também conhecido pelo Homem do Lugar 61 (The Man in Seat 61), calculou em 18.646 o número de quilómetros desta viagem. Mas esta precisão ferroviária depende do percurso utilizado, coisa com o qual nem todos os autores estão de acordo.

Acresce que a pandemia trocou as voltas a estes cálculos. A travessia da Rússia é agora mais difícil devido às restrições e, na Península Ibérica, a suspensão do Sud Expresso, que permitia fazer a viagem de Lisboa a Paris com apenas dois comboios, levou a que este percurso se faça agora com seis composições.

A etapa inicial até Paris, que antes demorava 26 horas, demora agora 30 horas e meia, sendo necessários seis comboios em vez de dois. Não por acaso o Homem do Lugar 61 se refere ao fim das relações internacionais (Sud Expresso e Lusitânia Expresso) como a balcanização da Península Ibérica. Em termos ferroviários, claro.

Por outro lado, teoricamente, é possível fazer esta rota do Atlântico ao Índico sem prestar vassalagem a Paris se se apanhar o comboio nocturno que liga Nice a Moscovo. Mas que – lá está! – se encontra suspenso devido à pandemia.

Há ainda que discuta se a rota mais curta não seria pelo Cazaquistão em vez de se apanhar o Transiberiano entre Moscovo e Pequim (de onde depois se prossegue pela China até ao Laos, Tailândia e Singapura).

Mas o que não mudou nada foi o início da viagem. A estação de Lagos bem que poderia ostentar uma placa a assinalar o início ou o términus da mais longa viagem de comboio do mundo. Mas também é certo que Vila Real de Santo António, Cascais ou até o Pocinho poderiam reivindicar tal distinção. É tudo uma questão de critérios.

Desde o Algarve, se se apanhar o comboio em Vila Real de Santo António, a mais longa viagem ferroviária do mundo fica 49 quilómetros mais comprida do que a partir de Lagos.

Se a opção for de qualquer ponto do território português, então será a estação do Pocinho, curiosamente a escassos 30 quilómetros da fronteira espanhola, mas que exige uma volta pelo Porto para alcançar o Entroncamento de onde parte a automotora que todos os dias faz uma ida e volta a Badajoz.

Mas se o critério for a estação ferroviária mais ocidental da Europa continental, então essa é, claramente, Cascais que fica um grau a oeste de Lagos, mas que, nesse caso, retira 300 quilómetros ao percurso que deixaria de começar no Algarve.

Por isso, entre os bloggers é consensual que será no Barlavento algarvio que começa a viagem de comboio mais longa do mundo.

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