Com Antonio Conte não há que enganar
O treinador italiano foi campeão em todas as equipas de primeira divisão que treinou até hoje e nunca precisou de muito tempo para o conseguir. No Tottenham já se sente o “efeito Conte”.
A 1 de Novembro, o Tottenham despediu o português Nuno Espírito Santo. A equipa estava, por esses dias, em nono lugar da Liga inglesa, a cinco pontos dos lugares de acesso à Liga dos Campeões. A 2 de Novembro, o Tottenham contratou o italiano Antonio Conte. A equipa passou a estar em sexto lugar da Liga inglesa, com os mesmos cinco pontos de distância da Champions, mas com menos dois jogos realizados – poderá, em breve, saltar para uma posição bem dentro do top-4. Este é o “efeito Conte” no Tottenham, o mesmo que já se fez sentir por outras cidades. Porque com Conte não há que enganar: é para gastar dinheiro e ganhar títulos.
Contratar o técnico de 52 anos é contratar exigência à tesouraria e competência. No prisma da qualidade a afirmação é subjectiva, mas tem base factual. A Juventus contratou-o em 2011 e de uma temporada para a outra passou do sétimo lugar para o primeiro. O Chelsea fê-lo em 2016 e saltou do 10.º para o primeiro. O Inter imitou os rivais em 2019 e passou de quarto classificado para segundo e, no ano seguinte, primeiro.
Tal equivale a dizer que Antonio Conte foi campeão em todas as equipas de primeira divisão que treinou até hoje – e nunca precisou de muito tempo para o conseguir, com cinco títulos em sete temporadas.
Em Inglaterra não será campeão neste ano, que recuperar 17 pontos é irreal, mas o caminho pode começar a ser preparado, tal como aconteceu em Milão.
Mudança táctica
Em cerca de dois meses de Tottenham, Conte já se tornou o primeiro treinador na história do clube a manter-se invencível em sete jogos de campeonato. É certo que Nuno Espírito Santo teve de lidar com adversários como Man. City, Chelsea, Arsenal ou Man. United e Conte tem tido um calendário mais acessível, mas parece inegável que o italiano mudou a equipa londrina.
A mudança mais visível é mesmo no plano táctico. Nuno tinha predilecção por um 4x3x3 com variação para 4x2x3x1, quando vacilava entre três médios de trabalho, com um perfil quase sempre físico e pouco técnico, ou a inclusão de um terceiro médio mais criativo como Lo Celso. Porém, globalmente, o meio-campo era para ser coeso e uma garantia de estabilidade atrás dos três atacantes.
Com Conte, o cenário mudou. O técnico italiano, que já chegou a dizer abertamente que a equipa tem muitas limitações, trouxe o seu preferido 3x4x3, trocando o terceiro médio por mais um central. Até por perceber as limitações existentes, não teve pudor em tornar a equipa mais forte na ocupação de espaços em zona defensiva e abdicou de ter tanta presença na zona central, passando a alimentar o trio da frente de forma mais directa.
E há dados que o atestam. Com Conte, na Liga inglesa, o Tottenham só duas vezes chegou aos 60% de posse de bola, enquanto nos últimos três jogos de Nuno nunca tinha descido desse limiar. Mais: com Nuno, a equipa tinha bola, mas nem sempre rematava muito. Com Conte, tem sido esmagadora nos remates, mesmo tendo menos bola – a prova de que não há um só caminho para chegar ao golo.
Individualmente, Conte deu relevância a dois elementos “perdidos” com Nuno: Dele Alli e, sobretudo, Lucas Moura. O brasileiro, que com Nuno tinha um golo e duas assistências em 14 jogos, já leva três golos e quatro assistências em oito jogos sob o comando de Conte.
Estas alterações foram o que Conte conseguiu fazer com a matéria-prima existente. Mas sabe-se como o italiano é gastador em todos os clubes por onde passa, pelo que para ter aceitado juntar-se ao Tottenham deverá haver garantia de tesouraria aberta nos próximos mercados.
O clube londrino apenas quatro vezes ultrapassou os 30 milhões de euros na compra de um jogador, mas Conte costuma “obrigar” os clubes a investimentos nunca vistos. Talvez seja por aí que o Tottenham pode começar a preparar o fim de um jejum de 60 anos sem ser campeão e 13 anos desde a conquista de um título.